Promover e dar visibilidade para a produção artística e cultural nas franjas da cidade é, antes de tudo, um ato revolucionário. Por Mônica Nador e Mauro Castro

A arte e a cultura sempre se fizeram presentes na periferia, sobretudo numa cidade como São Paulo, que tem na diversidade de sotaques, de sabores, de sonhos deixados, por conta do “desterro forçado”, uma característica que conforma uma mistura cultural à qual revela em seus filhos e filhas, o poder da arte e da cultura popular, que enchem de orgulho a periferia. Muitos jovens que despontaram e estão se apresentando ao mundo são legítimos representantes de parte significativa da sociedade composta por trabalhadores e trabalhadoras, quase sempre mão de obra com baixíssima qualificação profissional.

São homens, mulheres e crianças: famílias que sobrevivem em moradias que não oferecem o mínimo necessário para uma vida digna onde a falta de infraestrutura básica: saneamento, saúde, educação e cultura estão distantes a uma parte considerável da população que ocupa as muitas favelas da cidade, principalmente na zona sul de São Paulo. É dessa condição que jovens artistas da quebrada, das milhares que temos, nos encantam com saraus, artes plásticas, na música: rap, funk e projetam a potência de saberes que estão sendo amalgamados pela diversidade.

É nesse ambiente intenso que se apresenta o Jardim Miriam Arte Clube. Nosso JAMAC aqui da quebrada! É, sem dúvida, uma iniciativa que tem como grande mérito a inclusão. Além de ser a expressão maior de sua criadora, tornou- se espaço de aproximação para além da produção artística.

Constituído formalmente a partir de 2004, abraça a militância dispersa e aponta a arte e a cultura para além dos muros, com intervenções memoráveis como, por exemplo, o Parque para Pensar e Brincar, construído pela mãos de muitos e muitas artistas que somaram na favela da Braz de Abreu para revitalizar uma área degradada.

Porém, o grande mérito do JAMAC é a capacidade de acolher, abrindo o espaço para fomentar a formação em debates e cursos que formaram milhares de jovens em técnicas de pintura, desenho e artes cinematográficas, numa feliz parceria com Thais Scabio, jovem cineasta da quebrada que tem feito a diferença junto com a fundadora do projeto, a Nossa Mônica Nador.

Segue um breve depoimento das origens dessa potência que é o JAMAC, infelizmente não devidamente reconhecido como espaço colaborativo de arte, cultura e educação por parte do poder público.

Olá! Meu nome é Mônica Nador, sou artista visual e tenho um espaço cultural aqui na rua Angelo Cristianini, na rua da feira de domingo, esquina com a Maria Balades Correa. Vou contar como vim parar aqui.
Eu fazia um mestrado de 1995 a 2000, mas eu sentia uma angústia muito grande porque sentia que o caminho da universidade tendia a se fechar e você virar mais um professor/funcionário público…

Bom, eu podia escolher entre a carreira acadêmica ou o mercado de arte, ou fazer os dois, mas a carreira é difícil para um ser humano como eu, sem as características exigidas por aquelas pessoas da academia.

Mas, de repente, no meu mestrado encontrei um texto muito legal de um crítico de arte norte americano e foi uma luz, mostrando para mim que eu tenho que fazer o trabalho que me deixa feliz e não o que os outros esperam de mim! Acho que arte é muito sobre esse espaço, ou essa nuvem, que criamos para vivermos o que somos, fazer o que quisermos, num exercício de liberdade.

O JAMAC, Jardim Miriam Arte Clube, é sobre isso: um espaço para aprender várias técnicas artísticas e poder…só ser!

Imagem: Acervo do JAMAC

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Escrito por Expresso Periférico

12 thoughts on “JAMAC: espaço de encantamento”
  1. Oi, Mônica! Parabéns pela resiliência e resultados de sonhar e viver a realidade desse fazer coletivo que já semeou tantos horizontes para quem também se põe a sonhar e fazer junto com você. Saudades. Abração

  2. […] Mantém parcerias com o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), para a formação de consciência alimentar e consumo de produtos orgânicos, fazendo a ponte campo – cidade, sem atravessadores. Atua na formação popular, em parceria com a Escola de Cidadania de Cidade Ademar e Pedreira  com cursos certificados pela UNIFESP e na comunicação popular tem parceria com a Rádio Poste, (atividade mensal desenvolvida na Praça do Jardim Miriam) e o Expresso Periférico, (jornal virtual), instrumentos de comunicação direta entre os movimentos sociais e a população em geral. Realiza Saraus, almoços temáticos, rodas de conversa, além de participar anualmente do Encontro Literário – Caiu na Rede é Cultura e firmar parcerias com instituições como o JAMAC – Jardim Miriam Arte Clube. […]

  3. […] Lá fora do espaço expositor, oradores com posse de um microfone, cartazes e uma banca com livros, revezam nas oratórias recomendando a importância da leitura. E, ao mesmo tempo, denunciando as injustiças e desigualdades sociais que assolam milhares de pessoas em estado de pobreza. E, por outro lado, a concentração de riquezas no poder de uma minoria de pessoas. Destacou a beleza da poesia feminina: dos desejos, da dança cigana e das borboletas, do batuque, do aroma, sabores e sabores  das plantas medicinais, apresentado pela Coletiva de Mulheres do Expresso Periférico, intermediadas por Mônica Nador do JAMAC. […]

  4. […] Conversa vai, conversa vem, vamos colar os lambes! Minha expectativa era ter os lambes nas paredes internas: colamos. Elas queriam mais, então abrimos a porta da frente e deixamos gravado na fachada do 397 as intervenções poéticas da coletiva, as imagens e as forças da ventania. Esse encontro veio para transformar, e a mudança começou aí. Os papéis de reuso nos quais foram impressos os lambes revelaram novas imagens e poemas (páginas não encadernadas das publicações do JAMAC).  […]

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