Na década de 1950 e 1960 era comum a organização de associações de moradores nos bairros periféricos da cidade de São Paulo para reivindicar aquilo que deveria ser um direito básico da população.

As comunidades  mais afastadas cresciam na lógica imposta pela industrialização que necessitava de mão de obra e, no Brasil, havia uma imensa quantidade de trabalhadores que eram atraídos para o Centro-Sul, particularmente  São Paulo. 

Vindos em grande parte do Nordeste e interior de Minas Gerais, essa classe trabalhadora emergente fora quase que compulsoriamente alocada na periferia das grandes cidades, que não possuíam nenhuma infraestrutura.

O capital ganhava nas duas pontas: com a mão de obra barata para a indústria e com a especulação imobiliária, que impunha à emergente classe trabalhadora os piores locais para morar. Quando a infraestrutura era conquistada, levava melhorias para as áreas que estavam aguardando valorização entre os dois extremos.

Para ter acesso a condições dignas: saúde, educação e calçamento das vias principais, os moradores periféricos se organizavam em associações, como as Sociedades Amigos de Bairros, as SABS, que eram, quase sempre, apadrinhadas por políticos. Geralmente, estes serviam como intermediários para as reivindicações o que, na verdade, eram obrigação do poder público.

Um serviço de alto-falante era montado, na praça ou no próprio espaço onde seria a sede da entidade, com o objetivo de atrair os moradores para organizar a pauta de reivindicações, prestigiar políticos oportunistas e colaborar na construção da sede. O mesmo era feito nas igrejas que os usavam os alto-falantes para comunicar os serviços religiosos.

A partir dessa memória afetiva da comunicação direta por alto-falantes das décadas de 1960 e 1970 e da experiência pioneira da rádio NDA da década de 1990, uma das ações mais exitosas de comunicação popular como rádio comunitária de combate, surgiu, em 2008, a chamada Rádio Poste. O local escolhido foi a praça do Jardim Miriam, para aproveitar o movimento da feira livre aos domingos.

A rádio conta com uma infraestrutura básica: caixa de som e microfone foram adquiridos com o apoio do JAMAC (Jardim Miriam Arte Clube), contínuo parceiro, na busca para estabelecer um contato direto com a população do bairro e de toda região ao redor.

A Rádio Poste Hoje

Também foi introduzida uma banca com livros para emprestar ou doar para a comunidade, em substituição ao ônibus biblioteca que deixou de frequentar a praça do Jardim Miriam.

Também passamos a marcar as datas que são caras para a classe trabalhadora como o Dia Internacional da Mulher, o Primeiro de Maio, o Dia da Consciência Negra, Dia do Grito dos Excluídos que passaram a constituir um calendário anual de atividades.

Durante a pandemia de COVID-19, a Rádio Poste foi, seguramente, pioneira ao alertar a população sobre a necessidade de se proteger contra a contaminação pelo contato direto com o vírus. Com um carro de som, circulamos boa parte do território alertando sobre a importância da máscara, uso de álcool em gel e, sobretudo, com a disponibilidade da vacina, conclamando a população para desprezar o negacionismo e tomar vacina.

A Rádio Poste inovou com as poesias publicadas no Expresso Periférico!

Também durante a pandemia, veiculamos as contribuições poéticas do território, levando cultura e informação a uma região onde faltam espaços de cultura e lazer. Neste ano, introduzimos a regularidade mensal na praça do Jardim Miriam e a presença no metrô Jabaquara.

Rádio Poste é comunicação direta! 

No momento em que as redes sociais dominam a comunicação em larga escala, a Rádio Poste encontrou uma brecha para dialogar com a população. Levar arte, cultura e informação do jeito antigo, porém, eficiente para uma parte da Zona Sul de São Paulo, que acumula história, resistência e tenacidade na busca por melhores condições de vida.

Imagem: Rádio Poste

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