Da arte, a necessidade de comer. Tecidos, arte, farta-tudo e fartura, pratos vazios cheios de comida.

Tecidos, arte, farta-tudo e fartura, pratos vazios, cheios de comida.

Mãos que tecem a lã
Gerando a produção
Linguagem visual
Vindas da imaginação
Arte em tecidos
Com bela criação.

Numa exposição de belos tecidos com múltiplas colorações, erguidas e assentadas em estandes de pinhos polidos, muitas estampas produzidas com técnicas de estêncil, onde o belo predominante se manifesta em um conjunto de desenhos ordenados que encantam aos olhos de quem passa por ali. Os entrelaçados artísticos desenhados e aplicados sobre panos, vão formando um enredo de figuras que cantam e dançam entre si.

Os tecidos que, por si mesmos, são frutos do trabalho humano, armazenados na sua fabricação, sobre fios, dando-lhe o valor de uso, ganharam novos valores, cores e sentidos. Sentidos estes presentes em cada mão, imaginário, cheiro, cores, pulsação, buscando o novo e alimentando a alma cultural de quem os produziu, presenteando aos olhos e encantos das visitas sedentas em busca de algo novo.

Vozes e belezas
Contra o sofrimento
Leitura e poesia
Aliviando toda gente
Dança feminina
Ervas e condimentos.

Lá fora do espaço expositor, oradores com posse de um microfone, cartazes e uma banca com livros, revezam nas oratórias recomendando a importância da leitura. E, ao mesmo tempo, denunciando as injustiças e desigualdades sociais que assolam milhares de pessoas em estado de pobreza. E, por outro lado, a concentração de riquezas no poder de uma minoria de pessoas. Destacou a beleza da poesia feminina: dos desejos, da dança cigana e das borboletas, do batuque, do aroma e dos sabores  das plantas medicinais, apresentados pela Coletiva de Mulheres do Expresso Periférico, intermediadas por Mônica Nador do JAMAC.

Realidade e sonhos
Causas das feridas
Combate às injustiças
Com justiça e comidas
Persistir na busca
Dá dignidade à vida.

Nas diversas voltas feitas entre quadros apresentados e alimentando o imaginário, para tentar compreender o exposto em cada pintura, fiz parada diante dos panos de pratos com suas estampas, os quais me remeteram aos pratos, dos pratos à cozinha. Da cozinha à comida, onde as atenções estão sempre voltadas. Veio a imagem de milhares de pratos, que segundo os oradores lá fora com a Rádio Poste, são 33,1 milhões destes pratos que estão vazios. Isso vai se somar a mais 125 milhões destes semivazios, dia sim e dia não. Panos de pratos guardados sem pratos pra secar.

Outra ilustração, nos mesmos panos, expondo uma panela, me conduziu a pensar em panelas cheias, fervendo e levantando vapor. Os cheiros dos temperos evaporando pelos corredores. A vizinhança toda preparando seus pratos. No lugar das mesas onde fartavam-tudo, agora a fartura está presente. Os pratos que estavam vazios ficaram cheios. As mãos que fazem o tecido e a pintura, fazem a comida. Fazem o batuque na cozinha e o direito da dignidade à vida.

Saiba Mais

Visita à exposição: blz | ocupação Mônica Nador + JAMAC
Sesc Santo Amaro (Rua Amador Bueno, 505)
Gratuita | Até 29 de julho de 2022

Mais informações: https://linktr.ee/jamacblz

Imagens: Juarez José

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Escrito por Juarez José

One thought on “A exposição e os panos de prato”

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