Quando pensamos no mês de março, sabemos bem que é comum associarmos ao mês das mulheres lutas por segurança, sustento das famílias, por liberdade de ir e vir, pela Coletiva de Mulheres.

Quando pensamos no mês de março, sabemos bem que é comum associarmos ao mês das mulheres. Tem gente que pensa em bombons e flores, mas também temos muitas outras pessoas que pensam nas lutas diversas que estão sendo travadas nesse universo feminino. Lutas por segurança, sustento das famílias, por liberdade de ir e vir sem riscos, por poder falar o que pensa ou sente, sem ninguém para silenciar.

E nesse mês, de tantas atividades, com a Coletiva de Mulheres do Expresso Periférico não foi diferente. Não podemos calar quando tantas mulheres gritam por socorro a todo instante em nosso país e foi nessa perspectiva que, em parceria com o Comitê de Lutas por Direitos de Cidade Ademar e Pedreira, organizamos um mês todinho com lives que vocês vão poder acompanhar nos links de “A R(e)sistência tem voz de mulher” e “Proteção e acolhimento para transformar vidas”.

Todos os dias nós pensamos em números, estatísticas, dados diversos sobre o tema. Na televisão eles falam de maneira tão comum sobre essa violência que parece até que devemos nos acostumar, nos calar diante de algo tão natural. “Uma mulher é morta a cada nove horas durante a pandemia no Brasil”. Segundo os dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, em 90% dos casos o assassino foi o marido ou o ex-companheiro.

Como encarar isso como algo normal? Quem são essas mulheres que estão sendo apagadas da história com tanta frequência? O que elas deixam para trás?    

São mulheres como eu, como você, como cada um de nós. São trabalhadoras, aposentadas, estudantes, desempregadas. São filhas, mães, avós, amigas. Algumas vieram do Nordeste, outras do Sul ou do Norte, com a pele clara ou pele negra. Umas gordas, outras magras. São brasileiras ou estrangeiras. Algumas dessas mulheres gostavam de cantar, dançar, poetizar. Entre elas têm algumas que são bem letradas e outras semialfabetizadas, mas não importa. A violência vem com força e as arranca de seus espaços de vida. 

Quando uma mulher sofre violência, toda uma família é violentada, todas as mulheres são marcadas. Quando ela morre ficam filhos, pais ou amigos com um pedaço a menos e, quando ela sobrevive, a história dessa mulher é preenchida por silêncios, medo e dor. Por isso, nós não nos calamos. Por tudo isso, temos aprendido dia a dia a não mais julgar a mulher ao lado, estamos aprendendo a acolher, a acalentar, amar as irmãs que, assim como nós, não querem viver na dor e lamento.

Quando pensamos em todas essas histórias de vida, quando paramos para escutar a amiga que sempre tem uma troca boa para nos fortalecer como mulher, nós evoluímos juntas. E com a Coletiva de Mulheres do Expresso Periférico é assim também.

Nós somos um grupo de mulheres que nos juntamos para escrever numa sessão do jornal que recebia o nome de Gêneros e Diversidade e em nosso primeiro artigo  celebramos o espaço conquistado na construção coletiva desse jornal. E ao olhar para dentro de nós, para nossas trajetórias construídas a partir de vários locais diferentes, compreendemos que somos o que somos porque não estamos sós. Antes de nós, vieram nossas bisas, nossas avós, mães, tias, algumas com filhas, todas com irmãs, sendo de sangue ou não. E em cada reunião marcada para pensarmos na nova matéria para o jornal, olhamos ainda mais para essa diversidade que é ser mulher e então, mesmo com toda a violência que vem acontecendo no Brasil e  no mundo, ampliada em tempos de pandemia, mesmo com homens se achando no direito de nos violentar, porque aprenderam, nessa estrutura machista, que o corpo da mulher é uma mercadoria para ser consumida quando e como desejar. Mesmo trabalhando duas vezes mais que os homens e recebendo os salários mais baixos, nós decidimos não nos calar. Nós entendemos que, se ficarmos unidas, vai ser muito mais difícil alguém nos silenciar. Compreendemos ainda que o Gêneros e Diversidades não comporta mais tudo o que queremos trazer para o nosso jornal e então, dessa matéria em diante, mudamos o nome da seção para Nosso Lugar de Fala e vamos assinar sempre como Coletiva de Mulheres do Expresso Periférico.

Não cabe em nossas publicações o meu nome ou de uma outra companheira da Coletiva, por exemplo, porque estamos juntas e de portas abertas para as mulheres que acreditam nesse modo de pensar e queiram somar conosco. Na  Coletiva nós dividimos nossos saberes, nossas escritas, nossas dores e nossas conquistas. Cada uma vem de uma história diferente, somos de várias idades, sotaques, cidades. Não estamos completas e por isso o medo de aprender com a outra vai sumindo um pouquinho mais por dia, até porque, mesmo não estando completas, temos tanto conhecimento em nós que até transborda e por isso partilhamos.

Nós reconhecemos que ainda há muito para mudar para que todas nós tenhamos os direitos respeitados e sabemos que a luta não será fácil, mas também reconhecemos toda a nossa diversidade, criatividade e as conquistas. Temos mulheres fantásticas atuando nas mais diversas formas de expressão: na cultura, na medicina, nas pesquisas, na política, na literatura, nos movimentos populares, na educação. Temos as cozinheiras, merendeiras, benzedeiras, motoristas, construtoras. E assim vamos nos completando, somando, ampliando nosso olhar para o mundo como quem acredita na capacidade de transformar.  

Por todas essas mulheres e por cada uma de nós vamos usar o Nosso Lugar de Fala no Expresso Periférico para que possamos nos fortalecer e toda mulher que se identificar com nossas falas poderá somar ao grupo quando desejar. Venha você também fazer parte dessa Coletiva de Mulheres!

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Escrito por Coletiva de Mulheres

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