O “ônibus aquático” negando o que vem das margens.

Em 2022 a Prefeitura de São Paulo resolveu tirar do papel o projeto que visa a criação de um transporte hidroviário na Zona Sul (o “ônibus aquático”) que reduziria a minutos um trajeto que hoje leva mais de uma hora para ser percorrido. Trata-se da travessia entre o bairro Pedreira, na Cidade Ademar, e Cocaia, no Grajaú, que, via represa Billings, registra a distância de 3km. A embarcação fará integração com o corredor de ônibus e poderá ser utilizada por meio de bilhete único. Isso é o que muitos chamam de progresso, mas refletir sobre essa palavra é preciso, e o Expresso Periférico vem com a pulga para colocar atrás da sua orelha.

No dia 23 de dezembro de 2022 a prefeitura homologou a publicação do resultado da licitação das empresas que fariam processo de licenciamento ambiental, sob o custo de 4,9 milhões de reais. Segundo a Sabesp, 370 mil imóveis na cidade não possuem rede de esgoto, um terço deles fica na Zona Sul. Um exemplo interessante é do Jardim Ellus, com mais de 500 famílias morando à beira da represa. Qual o impacto desses dados na proposta do ônibus aquático?

De acordo com a bióloga Marta Marcondes, especialista na represa, em entrevista para a Folha de São Paulo, estima-se que 100 mil moradores despejam esgoto sem tratamento nas águas da Billings. Ainda de acordo com Marta, a embarcação passará pelo “chamado corpo central da represa”, local em que há um “iceberg” de resíduos despejados pela população.“É uma área em que, dez anos atrás, a profundidade chegava a 25 metros”, lembra. “Hoje, está em torno de 70 centímetros de água tomada por essa montanha de dejetos”, afirma a especialista. A passagem da embarcação reviraria todo esse resíduo, espalhando mais a poluição que, nessa região da represa, é o local com a pior qualidade da água.

O Arquiteto e Urbanista Alexandre Delijaicov, coordenador do grupo de pesquisa Metrópole Fluvial da FAU-USP, firmou um acordo de cooperação técnica com a SPTrans, e propôs que haja um projeto de política pública de educação ambiental mais abrangente na região. E aí vem a pulga que o Expresso quer deixar para você, leitor: Por que até hoje não se garantiu o saneamento básico para a Zona Sul? Por que pessoas vão morar em regiões cada vez mais distantes e com risco à saúde? Lembre-se que estamos falando da maior cidade da América Latina, e a mais rica do país, que neste ano, possui R$ 34 bilhões em caixa.

A prefeitura investe em um transporte que busca trabalhadores do extremo da periferia para serem explorados nas áreas privilegiadas, mas não garante a essas pessoas moradia digna. Será muito bom para o patrão saber que seus funcionários não têm mais motivo para o atraso. Quanto aos problemas ambientais e de saúde que impactam a represa? Talvez haja um projetinho nas escolas para ensinar as crianças a não jogarem papel no chão. O Expresso Periférico segue de olho.

Imagem: Google Images

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Escrito por Gabriel Messias

One thought on “Progresso para quem?”

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