Um nome para essa coluna

É importante nomear. Dar nome aos sentimentos, pessoas, identidades, fenômenos sociais. Tão necessário quanto denominar é refletir sobre as palavras e expressões que nomeiam, como bem propôs o editorial desse mês do Expresso Periférico. E podemos pensar em vários exemplos que mostram o sentido amplo de nomear.

No livro “Para educar crianças feministas”, a escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie nos diz assim: Lembro que, quando eu era criança, as pessoas usavam ike para o ânus e a vagina, e que ânus era o sentido mais imediato, mas tudo ficava meio vago e eu nunca soube direito como dizer, por exemplo, que sentia coceira na vagina.

Podemos também pensar na sigla LGBTQIA+. Se antes a sigla era composta por apenas três letras, GLS, vimos o L vindo para a frente do G, não por estética ou frescura, mas pela necessidade de trazer maior visibilidade à mulheres lésbicas. Gradativamente, novas palavras foram se agregando à sigla tornando-a mais inclusiva. 

O livro “Dororidade” também nos provoca só pelo título. Vilma Piedade cria um conceito e o expressa por meio de uma nova palavra que amplia o diálogo feminista. Dororidade é uma palavra criada para acolher especificamente as dores e vivências das mulheres negras.

E é nessa mesma toada que apresento o nome MÃE INVISÍVEL. Em dezembro de 2022, fui convidada pela Zuca, mulher provocativa pela forma como constrói seu caminho e estende as mãos a outras mulheres, a escrever sobre minha história na coluna Nosso Lugar de Fala. Gostei da experiência e passei a produzir textos mensais que trazem os desdobramentos da perda gestacional. 

Recentemente, o Bruno, nosso generoso editor, sugeriu criarmos um nome para essa coluna. E hoje compartilho com vocês esse nome: MÃE INVISÍVEL. Mãe invisível porque é assim que me sinto na escola, na família, entre alguns amigos… Eu sei que sou mãe. Sei por muitos motivos. Mas não vejo minha maternidade validada. Ainda escuto: quando você tiver filho, você vai saber. Ainda vejo pessoas mudarem de assunto quando essa temática chega à mesa de jantar. Ou pior, em muitos momentos, nenhum cuidado é tomado para respeitar a falta ou a memória do Luiz, meu filho.

Quando apresentei o nome da coluna ao meu companheiro, Gabriel, ele achou sensacional porque associou MÃE INVISÍVEL a ideia de super-heroína. Eu expliquei a ele que a invisibilidade aqui não é superpoder, ao contrário, é uma identidade machucada pelas violências de apagamentos cotidianas (e outras mais). 

Depois fiquei pensando que talvez o superpoder da MÃE INVISÍVEL seja salvar seu modelo de família da sombra e trazer à tona, por mais incômodo que seja, o fato de que mães de crianças mortas também são mães. E eu agradeço todes, todas e todos que concebem esse jornal e abrem espaço para minha escrita.

Imagem: Gabriel Messias

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Escrito por Renata Gibelli

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