Sugestão de leitura para ouvir a voz de uma mãe atípica que forma produtiva parceria com seu filho

Quando passei a dialogar com minha maternidade, me senti confortada ao encontrar a expressão mãe atípica. Entendi a palavra “atípica” como acolhedora para uma situação como a minha em que se pretende entender uma maternidade não idealizada ou, sendo mais direta, uma maternidade em que não há maternagem pois se está de colo vazio.

Pesquisando mais sobre a expressão mãe atípica, comecei a encontrá-la com mais frequência em situações que versavam sobre mães de crianças com desenvolvimento atípico. E, mesmo entendendo que muitas maternidades são atípicas, como as das mães solo, das mães via adoção, das famílias de duas mães, hoje percebo a relevância em atribuí-la mais diretamente às mães de pessoas com deficiência.

Como já expus em vários textos dessa coluna, acredito na importância de nomear nossas particularidades para podermos nos identificar, pensar na necessidade de direitos e nos colocarmos no mundo. E até mesmo para termos objetividade na hora de nos apresentarmos e definirmos.

Recentemente, encontrei a história em quadrinhos “Nori e Eu”. Me chamou atenção o fato de essa HQ ter Caeto na direção de arte. Anos atrás, li alguns de seus trabalhos e me impressionei bastante com a sinceridade dos enredos. 

Em “Nori e Eu” encontramos duas vozes: a de Sônia, professora e mãe do Massanori; e a de Nori, artista desde a tenra idade, diagnosticado com uma criança do espectro autista aos 4 anos de idade. É a narração de uma mesma história por perspectivas diferentes. O roteiro foi escrito por Sônia e Massanori atua como ilustrador do livro.

Sônia relata o exercício das suas maternidades e compartilha com as leitoras e leitores a forma como lidou com a suspeita e a confirmação de que seu filho mais velho era uma criança do espectro autista. Fala de imprecisão de diagnósticos, luto, culpa e solidão no percurso dessa maternidade. Fala também de rede de apoio, educação e serviços e de como acertou e errou na mediação das relações de Nori com a família e a sociedade.

Usando as palavras da própria Sônia: “meu relato sobre o Massanori não estaria completo se não compartilhássemos com vocês o modo como ele vê a vida.” E então Nori ganha voz e apresenta ao público suas viagens, experiências e gostos. Tudo de maneira bastante organizada e datada. 

Uma HQ ímpar para quem deseja mergulhar nessa relação de mãe e filho que é feita de comprometimento, busca e admiração. Grandes doses de cotidiano e enfrentamentos, a presença do tempo correndo e suspiros largos. É também um mergulho sensível no contexto do TEA – Transtorno do Espectro Autista.

É um privilégio de entrar na casa de Sônia e Nori. Essa HQ compõe o acervo das salas de leitura das escolas da Prefeitura de São Paulo. Vale tentar um empréstimo.

Saiba Mais

Para saber mais sobre o Transtorno do Espectro Autista e sobre a rede de serviços ofertada pelo SUS, acesse o site:
TEA: saiba o que é o Transtorno do Espectro Autista e como o SUS tem dado assistência a pacientes e familiares — Ministério da Saúde (www.gov.br)

Sou bastante fã das HQs de Caeto. São quadrinhos autobiográficos que imprimem a presença da arte na construção de sua identidade. Caeto faz terapia. Então, já dá para imaginar a quantidade de reflexões e provocações que encontramos nas páginas de suas HQs. É uma narração sincera que expõe medos, fragilidades, sonhos, desencontros e o desafio das relações humanas.

A HQ MEMÓRIA DE ELEFANTE tem um final que vale milhões… Ufa!

Imagem: Renata Gibelli

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Escrito por Renata Gibelli

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