O encontro de pessoas dispostas abre espaço para sermos mais

Já faz alguns meses que utilizo esse espaço para dialogar sobre a importância de nomear as coisas. E essa edição da coluna Mãe Invisível não será diferente. Se o texto Qual substantivo me nomeia? trouxe a inexistência de uma designação específica para a pessoa que perdeu uma filha ou filho, hoje compartilho a expressão que acessei ao estar próxima de outras mulheres com trajetórias semelhantes à minha.

Mãe de Colo Vazio (além de ser o título do documentário idealizado por Adriana Souza, o qual tive a honra – e a sorte – de participar) é uma junção de palavras usada para identificar aquelas que viram suas crianças morrerem durante a gestação, logo após o parto ou com poucos dias de vida. 

Depois de gestar um bebê de vida breve, torna-se impossível seguir a vida como se nada tivesse acontecido. Não cabe se colocar como “não mãe”. E também é incômodo se intitular apenas como mãe porque somos um tipo de mãe diferente. Somos mães que não tiveram a chance de maternar o bebê que esperávamos. 

Somos mães que não tiveram a chance de maternar o bebê que esperávamos. 

Conhecer a expressão Mãe de Colo Vazio e me apropriar do muito que existe dentro dela possibilitou um caminho para construção da minha nova identidade. Caminho este possível porque eu e outras mães estávamos em rede. Rede de apoio, afeto e cumplicidade. No documentário Colo Vazio afirmo que foi no colo de outras mães que entendi que eu era mãe. E esse ideia é exposta de um jeito bem bonito por Camila Goytacaz no livro Até Breve, José:

“São mães que me deram retalhos para que eu começasse a bordar a minha colcha de luto. É esta colcha que vai me aquecer nesse inverno.”

Com essa identidade posta, ganhei espaço-abraço neste jornal para meus  lamentos reflexivos. Uma nova rede me envolveu. Rede de pessoas que motivam outras pessoas a se perceberem e a serem mais. Afinal, como bem disse o Gabriel, a gente escreve para se encontrar enquanto corpo político individual e coletivo. Viva o Expresso Periférico!

Saiba Mais

Livro | Até breve, José | Camila Goytacaz

O livro Até Breve, José me acolheu nos meus primeiros meses de luto. A minha amiga Fabiana, ser nobre que empresta livros, sugeriu a leitura. De tudo que li nos últimos tempos, acredito que Até Breve, José é o livro que mais irá acarinhar quem está dilacerada pela despedida de seu bebê breve. Isso porque, além de tratar o tema com veracidade e respeito, é um livro de edição bonita. As cores, as texturas, a diagramação, o papel, tudo é poético. E quando estamos dilaceradas, ter um livro bonito nas mãos emociona e até faz sorrir.

Vale dizer também que o livro é composto por vários textos curtos. Isso ajuda muito quem não tem ou não está com ritmo de leitura. Apesar de ter minhas ressalvas com o desfecho da obra, indico com muito afeto para todas as mães de Colo Vazio. Indico também o Tedx da autora. 

Instagram para compra do livro

TEDxSaoPaulo | Há Beleza no Luto | Camila Goytacaz

Imagem: Arquivo pessoal da autora

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Escrito por Renata Gibelli

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