Texto de Carlos Seino.

As igrejas evangélicas sempre experimentaram grande crescimento neste país, notadamente a partir do movimento pentecostal.

No início, havia certa oposição da maioria católica, bem como o preconceito geral da sociedade brasileira, que enxergava religião evangélica como coisa de gente pobre e sem instrução.

Entretanto, missionários, pastores, pessoas comuns levaram o evangelho de porta em porta, bairro em bairro, até estarem em todos os municípios deste país.

E isso sem nenhum apoio político partidário.

Ocorre que os tempos são outros.

Toda religião minoritária defende a laicidade do estado, pois isso é fundamental para sua sobrevivência. Entretanto, quando cresce, quer porções cada vez maiores no poder. Com a religião evangélica não foi diferente.

No entanto, quando isso ocorre, quando a religião cristã se empodera politicamente, pode ser o início de seu fim enquanto instituição espiritualmente relevante e verdadeiramente evangélica.

O cristianismo nasce como uma força marginal dentro do judaísmo e, depois, como seita minoritária em Roma, sendo um período marcado por dificuldades e perseguições.

A legalização da religião, bem como sua oficialização no império, veio mais de três séculos depois de sua fundação e é abundante a literatura que demonstra a crise do cristianismo neste período, em uma total desconfiguração com o que havia sido nas origens.

Esse gosto pelo poder nunca mais deixou a cristandade, nem mesmo nos tempos da Reforma. O que tivemos, foram, de tempos em tempos, grupos minoritários que buscavam resgatar algo da espiritualidade do cristianismo antigo, sendo duramente perseguidos, incompreendidos, seja na Idade Média, seja nos tempos da Reforma.

No Ocidente europeu, o cristianismo se dividiu entre Estados que defenderam a Reforma e outros que continuaram oficialmente Católicos Romanos. Em todos esses países, houve guerras, perseguições, expulsões, execuções, tudo em nome do cristianismo verdadeiro.

Hoje, quando olhamos para esses países em que o cristianismo tem algum tipo de apoio estatal, vemos uma igreja cada vez menos frequentada.

Isso porque, ao que tudo indica, cristianismo se sai muito melhor quando não tem nenhum envolvimento institucional com o poder político, conforme foi publicado na revista “Sociology of Religion”, em um estudo envolvendo 166 países.

Por isso, talvez estejamos assistindo o “momento da virada”, de uma religião, até há pouco, dinâmica, crescente, para outra que não pode ser mais identificada como algo estritamente espiritual.

Hoje temos visto verdadeiros comícios dentro dos templos, perseguição por conta de posicionamento político, majoritariamente alinhados a uma visão política reacionária.

Assim sendo, independentemente de quem vença as eleições, a igreja já perdeu. Já perdeu, pois uma grande parcela da população brasileira passou a enxergar nas igrejas evangélicas, não mais uma instituição religiosa, espiritual; mas algo político, reacionário. As gerações mais jovens, geralmente mais estudadas, tenderão a rejeitar a religião de seus pais.

O estrago já está feito, mas será muito melhor para as igrejas que Bolsonaro perca as eleições. O bolsonarismo fez muito mal ao evangelicalismo brasileiro e, quanto mais cedo tal divórcio acontecer, melhor.

Carlos Seino é pastor evangélico e formado em Teologia e em Direito.

Imagem: Google Images

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Escrito por Expresso Periférico

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