Por João Batista*

“Aprenda o mais simples!
Para aqueles
Cuja hora chegou
Nunca é tarde demais!
Aprenda o ABC; não basta, mas
Aprenda! Não desanime!
Comece! É preciso saber tudo!
Você tem que assumir o comando!”
Bertolt Brechet, Elogio do Aprendizado, in Poemas 1913 – 1956, São Paulo, Brasiliense, 1986, p. 121.

Entre os dias 08 e 28 de março deste ano, em mais uma greve em defesa da educação pública, os(as) trabalhadores(as) da educação do município de São Paulo se enfrentaram com o governo Nunes, expondo suas principais contradições à população paulistana. Nunes, que em campanha eleitoral mais do que antecipada, lança o slogan “O que São Paulo quer, a prefeitura faz”, deixa de explicitar qual a parte de São Paulo é que diz respeito à frase, ou melhor, qual a pequena parte da população da cidade é que atende seu mais novo slogan, demonstrado pelo alto grau de autoritarismo, talvez o maior dentre os que ocuparam a cadeira do executivo municipal, desde a ditadura empresarial-militar brasileira.

Numa greve que durou 21 dias, o prefeito manteve-se irredutível, tanto nas questões econômicas, como também no que diz respeito às condições de trabalho, que, por sinal, vão de mal a pior. O crescimento exponencial no número de readaptações funcionais mostra o quão difícil está o cotidiano nas unidades de educação da rede municipal de São Paulo.

O governo de extrema-direita de Nunes, ao mesmo tempo que se mostra intransigente para com os(as) trabalhadores(as) da cidade, tem atendido prontamente os grandes empresários, por meio das privatizações, do novo plano diretor do município que responde aos anseios da especulação imobiliária, de muitos supercontratos sob investigação (Vide Portal UOL, Rede Globo de Televisão) e etc. Políticas essas que ampliam a já brutal desigualdade social da maior cidade da América Latina, tendo como expoente máximo da desigualdade vivida o fato de possuir a maior frota de helicópteros do mundo, enquanto quase 10% da população reside em favelas.

A conjuntura municipal espelha a polarização política do país, com o atual prefeito se bandeando de vez ao bolsonarismo. O que já dizia muito da intransigência do executivo municipal em relação às reivindicações do movimento sindical, mas também, desmascarando suas pretensões para com a educação. Digo desmascarando, pois, enquanto apresenta debates sobre temas progressistas nos documentos específicos da educação, assim como no próprio congresso promovido pela atual Secretaria Municipal de Educação, seus correligionários não têm vergonha de esconder a defesa do fim da escola pública, por meio do projeto conhecido como “Homeschooling” (numa tradução livre: escola em casa). Sobre os temas progressistas, reforço aqui que somente os temas dos debates citados são progressistas, ainda mais diante de um governo de extrema-direita, pois a proposta pedagógica para nossa cidade visa a manutenção do status quo, justificando a retirada de direitos sofrida nos últimos anos e a consequente degradação da educação formal do município. O que coloca, na ordem do dia, a necessária organização e mobilização dos(as) trabalhadores(as).

A campanha salarial dos profissionais da educação deste ano assegurou a preservação da carreira do Quadro de seus Profissionais, carreira esta conquistada com muita luta nas décadas anteriores. Assim como o exemplo dado à classe trabalhadora, de como se enfrentar a extrema-direita: com greves; ocupando as ruas; com ação direta.

A luta por uma educação pública, gratuita, laica e de qualidade para todos(as) está diretamente ligada à luta por uma sociedade mais justa. Pois, se é verdade que sem condições de trabalho e sem valorização adequada, os(as) educadores(as) não ensinam satisfatoriamente, é verdade também que: quem não tem teto; quem sofre violência; quem sofre com insegurança alimentar ou fome; enfim, quem sofre com as mazelas do sistema capitalista, nas periferias brasileiras, também não tem condições de aprender de maneira satisfatória.

A escola pública brasileira, justamente por conter todas essas contradições inerentes à economia de mercado, apresenta potencial para ser ponto de apoio na transformação radical da sociedade atual. Pois, se a São Paulo a que se refere o slogan do atual prefeito é a de um punhado de grandes empresários, a que almejamos é a São Paulo dirigida pelas massas trabalhadoras mobilizadas. Portanto, seguimos na luta e convocamos a todos(as) que saiam às ruas no 1º de maio e que componham conosco a Marcha à Brasília em 22 de maio, convocada pela CNTE (Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação).

*João Batista é Secretário de Políticas Sociais do SINPEEM.

Imagem: Acervo pessoal do autor

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Escrito por Expresso Periférico

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