História, periferia, carências e lutas. Por Aguinaldo Pansa, Juarez Jose Teixeira e Mauro Castro.

A entrevistada deste mês de agosto será a lutadora paulistana Maria de Lurdes, que vai nos contar um pouco sobre a sua história de vida e a trajetória de atuação nas lutas populares em busca de melhores condições de vida para a população da periferia. Periferia esta que sofre devido à ausência de recursos e serviços públicos para satisfazer às necessidades dos moradores e moradoras. Este descaso do poder público é sentido nos poucos equipamentos existentes nestes bairros, onde, nas escolas, unidades de saúde, creches, sempre faltam recursos humanos e técnicos para um bom funcionamento.

É dentro deste território de múltiplas carências, onde a vida pulsa e quer ser respeitada, que esta mulher faz sua história, buscando transformar esta dura realidade em espaços de convivência e esperança de uma vida melhor para  toda a comunidade.

Com os pés no chão
Fazendo a caminhada
Sonhos e esperanças
Ao longo da  estrada
Vamos ver a história
Da nossa entrevistada.

“Me chamo Maria de Lourdes, nasci em São Paulo, morava no Jardim Miriam, mas, há 35 anos, resido no Jardim Apurá. Tenho quatro filhos e o caçula nasceu aqui. Trabalho como agente público, fazendo parte do Conselho Tutelar. Participei por 8 anos no Conselho Gestor de Saúde do bairro e, durante este período, com a participação do seu Antônio e outras pessoas, entramos na luta pela mudança da unidade de saúde para um espaço maior, uma vez que onde estava não comportava a demanda de atendimento, a qual foi deslocada para onde está atualmente, ou seja, na rua Romilda Perri de Castro.”

“Participei do orçamento participativo de 2001 a 2004, na gestão da Marta Suplicy  e,  naquela época, juntamente com o Fernando, um companheiro lutador que admiro muito, levantávamos a discussão da possibilidade de se fazer casas populares onde era o Parque dos Búfalos e, depois, isso acabou acontecendo com a implantação do Conjunto Residencial Espanha, na administração do Fernando Haddad. Faço parte do Movimento de Moradia da região e nossa briga era para que o Conjunto Residencial priorizasse as famílias que moram no entorno da represa Billings e não de outras regiões, o que acabou não acontecendo, a não ser para um número reduzido de famílias. Mesmo porque , está em andamento o projeto de recuperação das águas e o ordenamento da orla nas margens da represa.

Estas águas represadas
Antes da poluição
Se banhava e pescava
Gerando alimentação
Hoje pede socorro
Para sua recuperação.

“Além da falta de moradia que continua para a população que mora próximo às margens da represa, há também falta de espaços públicos de lazer, recreação, cultura e orientação para as nossas crianças, adolescentes e juventude. Com ausência destes recursos,  esse público infanto-juvenil é deixado à mercê de serem levados para os caminhos da criminalidade, como temos visto acontecer ao longo do tempo, o que deixa as famílias em situação de desespero. Isto acompanhado da  segurança pública, que não existe no território.”

“Tenho estado afastada dos movimentos populares, devido a um tratamento que estou fazendo, mas, assim que melhorar, quero retornar às atividades. Tenho muita vontade de fundar uma ONG para tocar algumas atividades, e que esta seja independente de vínculos de política partidária, pois algumas associações que aqui tiveram com essa prática, não funcionaram, pois os interesse particulares se sobrepõem aos da coletividade. O que penso é trazer cursos profissionalizantes, como: manicure, corte de cabelos e outros, e assim criar oportunidade de trabalho e renda para essa juventude. Já até conversei com Josi, da associação ACASBRA, sobre estas possibilidades.”

“Uma outra ideia é sobre aproveitamento de terrenos baldios aqui na região para o cultivo de hortas comunitárias, pois tem vários que estão ociosos. Mas, para isso, precisa fazer acordos com os proprietários. Tem também áreas que são da EMAE,  que já fez  uma experiência com alguns moradores, inclusive oferecendo ferramentas e utensílios para fazer o cultivo, mas como faltou  organização e coordenação, houve desvio desses instrumentos e o projeto não foi para a frente”.

Este foi apenas um fio da história desta lutadora do povo brasileiro, que de forma generosa e grata, conclui dizendo:

Agradeço ao Expresso Periférico
Por esta oportunidade
Expressar os sonhos
De Justiça e igualdade
Sempre estive nas lutas
E vou dar continuidade.

Imagem: Acervo pessoal Maria de Lurdes

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