O mês de agosto é um mês marcado por datas que potencializam estas experiências, já que no dia 19 é celebrado o orgulho lésbico e, no dia 29, a visibilidade lésbica. Pela Coletiva de Mulheres

“Nossa existência é resistência”, por isso que cada dia do ano se transforma em um novo dia de luta por nossa visibilização a qual não é uma escolha e sim uma necessidade. Mas o mês de agosto é um mês marcado por datas que potenciam estas experiências, já que no dia 19 é celebrado o orgulho lésbico e, no dia 29, a visibilidade lésbica. Datas que tem o objetivo de trazer à tona a luta pela visibilidade da mulher lésbica, suas pautas e reivindicações, sua resistência e presença, datas para expor a necessidade de romper o silenciamento,  procurando garantir nosso espaço na sociedade.  

Sempre é bom ter tempo para valorizar o caminho percorrido com as riquezas coletivas alcançadas. Podemos nomear algumas das últimas. Da larga lista de conquistas, estão: o reconhecimento do Supremo Tribunal Federal que considera crime a violência homofóbica e discriminação por orientação sexual (2019); a alteração do algoritmo no Google para que a palavra “lésbica” não seja mais sinônimo de pornô (2019); e a garantia do direito de doar sangue, por meio da  intervenção do STF, que altera as regras do procedimento e retira a pergunta sobre a sexualidade do grupo do questionário para a doação (2020). 

Apesar das conquistas de décadas de luta e ativismo, ainda existem práticas muito ancoradas na sociedade que fazem com que perguntas  simples continuem tendo respostas excludentes:

Por que algumas manifestações da sexualidade são consideradas normais e outras não?

Por que nossa sexualidade é tão importante para definir quem somos e como seremos tratados? Por que as pessoas que não se comportam de acordo com os padrões cis-heteronormativos têm que sofrer violências? Por que algumas manifestações da sexualidade são vistas como legítimas para a constituição de famílias e outras não? Pessoas podem ter seus direitos não reconhecidos por motivos que envolvam a sexualidade e suas identidades sexuais?

Atualmente, a homossexualidade continua sendo crime em 50 países. A gravidade de tal infração é tão alta que, em 11 países, é possível se condenar lésbicas à pena de morte e em muitos dos outros, pode-se levá-las à prisão. Em nosso país, enfrentamos o contínuo discurso de ódio disseminado por pessoas que, supostamente, deveriam nos proteger. Só para citar um exemplo, o atual presidente Jair Bolsonaro disse, em 2013: “Sou homofóbico, sim, e com muito orgulho”. 

O apagamento lésbico deve ser considerado, ao mesmo tempo, causa e resultado da lesbofobia (preconceito e  discriminação de mulheres lésbicas). Ele se manifesta de diversas formas. Além das próprias da violência homofóbica (física, simbólica, econômica, moral, psicológica e institucional), também assume formas próprias, porque nela se misturam a homofobia e o machismo, que configuram formas específicas de opressão. A pessoa é duplamente atingida : por ser mulher e por ser homossexual.

As violências exercidas contra as mulheres lésbicas são múltiplas e sofridas em todos os espaços da sociedade. Elas vão desde a violência econômica que experimentam aquelas que não estão dentro do padrão de estética da feminilidade e sofrem com a dificuldade de conseguir emprego (“alguém com cabelo raspado não tem cara de ser hétero, não pode ficar no cuidado dos meus filhos”), ou aquelas que são abordadas pelas forças de segurança e não são respeitados os protocolos para  as mulheres. “Eu sempre andei de cabelo curto, sempre me vesti masculinamente e já escutei deles: ‘Você quer ser macho tem que apanhar como um.'” A precariedade de políticas públicas de saúde, que ainda reproduzem padrões machistas, patriarcais e heteronormativos, também aquelas que podem parecer mais sutis, mas não são, como a da obrigação de ser mãe e, por outro lado, da discriminação às que desejam ser mães. Até o estupro corretivo, prática criminosa na qual o agressor acredita que poderá mudar a orientação sexual da lésbica através da violência sexual e, no topo das violências, o crime de ódio sofrido por aquelas  mulheres que morrem simplesmente por amar outras mulheres (lesbocídio).

Muitas das violências tentam colocar o medo como um elemento presente em nossa existência, para limitar nossas decisões e, inclusive, inibir a demonstração livre de afetividade pelos lugares onde transitamos na vida.

Por isso, a saúde mental se encontra muitas vezes comprometida. O fato de ter que viver a sexualidade condicionada a outras pessoas, causa adoecimento mental. Este mundo não permite a existência de mulheres que amam outras mulheres, porque acreditam que as mulheres foram feitas para os homens. Ainda mais: muitas mulheres são empurradas para a heterossexualidade compulsória porque não parecem lésbicas. Sim, esta sociedade rotula de tal maneira, que já existe qual é o padrão performático ao qual deve responder uma lésbica, e se você não é assim, deveria se relacionar com homem. O suicídio entre as lésbicas é outra forma de lesbocídio, sendo a lesbofobia a principal responsável por levar essas mulheres a tirarem suas próprias vidas, como fala o dossiê sobre lesbocídio no Brasil de 2014- 2017: são mulheres suicidadas.

Mas, é com muita coragem e resiliência, que continuamos disputando e construindo visibilidade, aquela que possibilita que nossas existências sejam reconhecidas. Tem inúmeras formas de se viver a lesbianidade, uma infinidade de possibilidades de existência, mas nenhuma deveria lutar isolada. A luta pela garantia dos direitos das pessoas passa, portanto, necessariamente pela luta coletiva que assegura a visibilidade lésbica e seus direitos e a sua voz reconhece e valoriza a diversidade. É uma luta que também fala de afetividade, afetividade entre mulheres, é sobre amor, liberdade, uma luta onde continuamos anunciando desde nossos próprios pontos de vista nossas vidas que historicamente foram subalternizadas e invisibilizadas e, junto com todas as mulheres, resistimos a todo o contexto de ódio.

Luana Barbosa Reis, Katiane Campos de Gois e Marielle Franco  presentes, agora e sempre!

Imagem: Florencia Castoldi

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Escrito por Coletiva de Mulheres

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