Desde jovem na luta sindical e partidária.

Nos anos de 1970 e 1980, a classe trabalhadora brasileira estava numa posição de ascensão dos movimentos populares, sindicais e partidários. Lutava por melhores salários e condições de trabalho, pela liberdade sindical e partidária, por seviços públicos de qualidade e contra a feroz ditadura instalada em 1964, que arrochou os salários, proibiu greves e interviu nos sindicatos. É dentro deste processo histórico, que o nosso entrevistado, morador do Jardim Miriam conta um pouco de sua vida militante. Um companheiro solidário, alegre, entusiasmado, sonhador e que luta por uma sociedade socialista. 

Lutador fazendo as lutas
As lutas fazendo o lutador
Atuante nos movimentos
Um jovem sonhador
Foi para oposição sindical
Contra o regime opressor.

Minha militância política organizada iniciou em 1972. Antes disso, eu participava do grupo de jovens da igreja nossa senhora Aparecida, no Jardim Miriam, do grupo de teatro e de atividades sociais. A partir dessa participação, fiz contato com a resistência à ditadura militar empresarial através do movimento de Oposição Metalúrgica de São Paulo (Momsp), organizado por setores regionais. Como eu era operário na Regional Sul de São Paulo, esse foi o meu setor. Em 1978, ocorreu uma eleição para o sindicato, na qual participei ativamente tentando derrubar o peleguismo formado pelos interventores impostos pela ditadura para substituir os dirigentes sindicais legítimos, que tiveram seus mandatos cassados, sendo que vários foram presos. Nesse mesmo ano começaram as greves contra o arrocho salarial.

Enfrentado a ditadura
Buscando a democracia
Com greves e piquetes
Contra a feroz tirania
Seguindo a marcha
Com o mártir Santo Dias.

Em 1979, as greves foram bem fortes, no ABC e na capital. Os movimentos democráticos também se manifestavam. Pressionada, a ditadura anunciou a tal “abertura,” mas para os grevistas era só repressão. Nesse ano, fiz parte do Comando de Greve da Zona Sul. Obrigamos os pelegos do sindicato a abrirem uma subsede na região Sul. Organizamos piquetes, paralisando toda a produção local. Foi aí que a repressão endureceu de vez. Ocuparam a subsede com a tropa de choque, soltaram bombas, houve espancamentos, prisões e, o mais grave, o assassinato a sangue frio, num piquete em frente à fábrica Silvânia, de Santo Dias da Silva, metalúrgico e companheiro da pastoral operária. Fui preso no piquete da Villares e levado ao DOPS. Houve uma mobilização nacional contra o assassinato do Santo Dias e fomos libertados. Em seu funeral, houve imensa comoção, choro e promessas de continuar a luta. Seu caixão foi segurado por Dom Paulo Evaristo Arns e por Lula, o líder operário que a emergia dessa luta.

Aprendendo no combate
Movimento custo de vida
Instrumento de lutas
De uma gente aguerrida
Construção partidária
Vindo logo em seguida.

O Movimento do Custo de Vida foi um marco importante na minha história. Fizemos um abaixo-assinado usado como instrumento de mobilização e organização. Nós, os operários, passávamos o documento nas fábricas. Como isso tinha de ser feito escondido, às vezes ficava alguma mancha de graxa nas folhas assinadas. Essa foi uma das desculpas para o presidente da Câmara dos Deputados recusar o abaixo-assinado, alegando rasura. No Jabaquara, na coordenação desse movimento, estávamos dona Luzia, dona Ophélia e eu.

Com a “abertura”  dos militares só na promessa, o movimento sindical e popular continuou crescendo. Tivemos a luta pela anistia e a reforma partidária. Em 1978, os sindicalistas saíram na frente com a ideia de criar um partido político. Conseguiram adesão de parte da esquerda tradicional, de intelectuais progressistas e das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs). Juntos, em 1980, criamos o PT. No início, fizemos campanha de filiações e formação dos núcleos de base. Um dos primeiros foi o do Jardim Miriam e fui um dos primeiros presidentes da Zona Jabaquara.

Novas experiências
Aprendendo administrar
Região do Jabaquara
Administração popular
Nova criação partidária
Buscando avançar.

Em 1988, o PT venceu a eleição para a Prefeitura de São Paulo, com Luiza Erundina – a primeira mulher e nordestina a ocupar esse cargo tão importante. Fiz parte do governo ocupando o posto avançado do Jabaquara, equivalente hoje à subprefeitura, no qual criamos equipamentos como o sacolão popular e o CPP, e realizamos mais de 100 obras de pavimentação, vielas e escadarias, urbanização de favelas, entre outras! Todas com participação da comunidade, na fiscalização ou em mutirões. Como militante do PT, disputei por três vezes cargo eletivos e fui o candidato mais votado nas zonas Jabaquara e Cidade Ademar.

Em 2005, junto com parlamentares sindicalistas e militantes, saí do PT por avaliar que ele já não cumpria mais os objetivos a que se propôs e ingressei no PSOL, partido socialismo e liberdade de corpo e alma. Quase todo o nosso antigo núcleo fez esse movimento e continuou a se reunir uma vez por mês e, durante a pandemia, de forma virtual. Por dois mandatos participei  da construção do Partido por todo o Estado de São Paulo. Com esse mesmo povo, seguimos lutando por melhores dias no nosso mundo e no nosso pedaço de mundo. O Jabaquara tem nome de Quilombo e assim vai ser libertar um dia das amarras do capital.

Miguel Carvalho foi metalúrgico e líder da oposição sindical. É militante do Jabaquara e dirigente partidário do PSOL.

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