No finalzinho de outubro e inicio desse mês, duas comemorações vêm despertando cada vez mais comentários. Por Pedro Paulo de Carvalho

No finalzinho de outubro e início desse mês, duas comemorações vêm despertando cada vez mais comentários e reflexões: o Halloween e o dia do Saci-Pererê. Essa pequena contribuição deseja continuar com essa reflexão.

Das origens célticas…

O *Halloween*, também chamado de *Dia das Bruxas* no Brasil, a cada ano que passa, tanto nas redes sociais, como no convívio social e até mesmo para algumas famílias, tem se tornado uma grande diversão com seus símbolos, vestuários e  fantasias, por isso, merece uma síntese de um resgate histórico e uma breve reflexão, combinando com um papel da Igreja e esse personagem emblemático do nosso folclore, o Saci-Pererê.

O Halloween surgiu com os celtas, povo que era politeísta e que  acreditava em diversos deuses,  relacionados com os animais e as forças da natureza. Esses, celebravam o fim do verão, a qual tinha a duração de 3 dias, com início no dia 31 de outubro. Também se comemorava a passagem do ano celta, que tinha início no dia 1 de novembro. Acreditava-se que, nesse dia, os mortos se levantavam e se apoderavam dos corpos dos vivos. Por esse motivo, eram usadas fantasias e a festa era repleta de artefatos sombrios com o intuito principal de se defenderem desses maus espíritos.

O pensamento religioso medieval: Halloween ou Bruxaria?

Durante a Idade Média, a Igreja começou a condenar o Halloween e, para desqualificá-lo, o intitulou como sendo o “Dia das Bruxas”. Para além da desqualificação, o que se evidenciou foi a afirmação de um pensamento obscurantista, cujo caráter se baseava na censura, perseguição e condenação típica desse período tenebroso. Assim, todas as mulheres, em especial as curandeiras, eram consideradas bruxas, sobretudo por se posicionarem contra as verdades impostas e aos dogmas da Igreja.  Essas mulheres tinham como sentença a fogueira, nas quais eram queimadas em nome da fé cristã ou em nome de Deus para os líderes religiosos da época. Guardadas as devidas proporções e o contexto histórico, ainda hoje alguns utilizam desse artifício, em nome de “Deus”, para criar ilusões, enganar e defender algumas ações e afirmações  desse momento trágico que vive a conjuntura política do nosso país. Assim, a história se repete duplamente como tragédia e como farsa. 

Na tentativa de afastar o caráter pagão da festa, a igreja promoveu alterações no calendário, de modo que o Dia de Todos os Santos passou a ser comemorado no dia 01/11 e o Dia de Todos os Mortos no dia 02/11. Assim, etimologicamente, o nome Halloween decorre dessa junção das palavras “hallow” (“santo”) e Eve (“véspera”).

A difusão do Halloween nos Estados Unidos e no Brasil.

Com a colonização das terras americanas, a tradição foi incluída na cultura da América, sobretudo nos Estados Unidos, introduzida por imigrantes irlandeses no século XIX. Além dos Estados Unidos, a festa foi difundida por diversos países do mundo, tendo forte tradição no Canadá e no Reino Unido.

Os principais símbolos associados à comemoração são as abóboras com velas, as fantasias de bruxas, caveiras, múmias, fantasmas, zumbis, morcegos e gatos. Além disso, as cores mais utilizadas são o preto, o roxo e o laranja.

No Brasil, o Halloween aos poucos vem se expandindo cada vez mais por uma influência norte-americana.  Essa comemoração foi introduzida, sobretudo, com os cursos de idiomas, onde  em muitas escolas de línguas se comemora com os alunos a data. Hoje, sobretudo nos ambientes de entretenimentos, tem sido cada vez mais comum as pessoas se fantasiarem a caráter e fazerem desse momento uma diversão.

O Halloween ofusca o nosso Folclore? O Saci-Pererê como personagem da nossa Resistência.

Há um debate hoje, principalmente nessas datas comemorativas, sobre a questão da identidade cultural e nossos símbolos e personagens. Para uns, o Halloween,  imposto pela indústria cultural americana, ofusca o nosso folclore. Para outros, é possível uma combinação das comemorações,  preservando o caráter da resistência cultural presente em cada uma das datas. 

A partir da necessidade de reafirmar a riqueza do nosso folclore brasileiro, em 2003 foi apresentado um Projeto de Lei para indicar o dia  31 de outubro como sendo o DIA DO SACI,  personagem que representa a síntese do folclore brasileiro. Em 2004, a data foi oficializada em São Paulo,  em 2010, a  Lei 2.762 foi introduzida em todo o País. 

O Saci é este personagem que traz elementos culturais significativos da nossa formação. Assim, este jovem negro, inquieto e com seu cachimbo (aspecto indígena), reafirma a nossa Resistência Indígena, negra e popular desses 521 anos. Um recorte histórico e cultural da memória do nosso povo que, através do folclore, oferece elementos para reafirmar a nossa identidade cultural.

Imagem: Google Images

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Escrito por Expresso Periférico

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