A cidade não é de brincadeira.

Entraremos em outubro, mês das crianças e dos professores. Duas palavras que nos remetem a outra fundamental na sociedade: Escola. O Expresso Periférico já falou muito sobre educação em seus editoriais, mas nesta data faremos uma reflexão sobre algo que vem preocupando os profissionais dessa área e que está ligada a uma temática já popular no mês de setembro, e que vem ganhando força: o setembro amarelo (mês de prevenção ao suicídio). O que as doenças emocionais têm a ver com o sistema capitalista? E o que a escola tem a ver com isso?

De acordo com as Nações Unidas, o Brasil é o país mais ansioso do mundo e o quinto mais depressivo. Devido à pandemia da Covid-19, a venda de antidepressivos subiu 14,1%, tornando-se o primeiro lugar entre os medicamentos mais vendidos. Na América Latina, o Brasil é considerado  o país com maior índice de pessoas que sofrem com depressão. E, infelizmente, os dados revelados em relação ao índice de doenças emocionais nas escolas de São Paulo também são preocupantes.

Por meio de um mapeamento realizado pela Secretaria da Educação do Estado de São Paulo, junto ao Instituto Ayrton Senna, 69% dos estudantes da rede  estadual fizeram relatos ligados aos sintomas de ansiedade e depressão. O que está acontecendo? Não cabe a nós responder a essa pergunta. Mas cabe, sim, cara leitora e leitor, estimular você a levantar mais e mais perguntas.

Àquelas e àqueles que moram no Jardim Miriam ou região: vá até o portão da sua casa, olhe para a rua, ela foi feita para uma criança ou adolescente viver todas as suas potencialidades? Agora pense no seu bairro: qual espaço de cultura e lazer mais próximo da sua casa? Essa criança ou adolescente conseguiria ir a pé e sozinha? A cidade não foi feita para crianças ou adolescentes.

Os políticos se vangloriam quando mandam máquinas pesadas e barulhentas para a quebrada, elas chegam e jogam o piche quente no chão para que mais e mais carros passem, mas as calçadas ainda continuam intransitáveis; é isso o que eles chamam de cuidado. Cuidado com o quê?

E você, que é responsável por uma criança ou adolescente, com certeza vende sua força de trabalho durante todo o dia para garantir que seus filhos ainda em desenvolvimento se mantenham vivos, e no final do dia não há mais tempo para dividir com eles. Aí a sociedade te culpa por isso, te cobra, dizem que o que importa é qualidade de tempo e não quantidade, mas essa regra não vai funcionar quando você disser ao seu chefe que vai trabalhar menos, mas com mais qualidade.

Enquanto isso, os jovens assistem a tudo pela janela de casa, pela  janela do transporte (Transporte Escolar Gratuito, ou TEG), pela janela do ônibus, pela janela da sala de aula e pela janela de seus celulares. E também são cobrados e culpados: pelo futuro, pelo presente e pelo que não são.

A questão é que não há o direito de se educar um filho com dignidade na periferia. Não há o direito de ser criança e adolescente com dignidade na periferia. A questão é que todo o investimento é para garantir que você saia da sua casa e chegue ao trabalho no horário combinado, se você tiver a sorte de ter um trabalho. Não é preciso ser especialista para compreender que é muito difícil para o jovem de hoje criar perspectiva de vida. Por que, então, não projetamos uma sociedade sem exploração e desigualdades, em vez de tentar ensinar crianças e jovens a aceitarem essa condição de vida, ainda que a base de remédios? Os dados em relação aos estudantes e suas queixas sobre o que virá não é um mero dado sobre a geração atual, é uma análise de conjuntura, quase uma premonição, caso não haja luta.

Imagem: Google Images

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Escrito por Gabriel Messias

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