Segunda parte do dossiê sobre Paulo Freire, apresentando o Cursinho Popular Construção. Por Bruno O. e Stephanie Goede

Neste ano, com o marco do centenário de nascimento do educador Paulo Freire, o Expresso Periférico iniciou uma série de textos especiais sobre sua obra. Esta é a segunda parte do dossiê sobre o pernambucano que tem sido homenageado em diversos eventos pelo país e pelo mundo. Para ler a primeira parte, você pode clicar aqui.

Sua obra mais famosa e traduzida, “Pedagogia do Oprimido”, teve sua primeira edição lançada em 1968. Já no prefácio do livro, o autor faz um resumo do que queria apresentar: primeiro, afirma que não existe palavra mais verdadeira que a ação concreta (práxis) e que o ato de aprender a ler é, sobretudo, “aprender a dizer a própria palavra”. Neste sentido, entendemos que para falar sobre Paulo Freire e sobre as construções de sua pedagogia, seria fundamental nos aproximarmos de uma prática do nosso território.

O Cursinho Popular Construção é uma iniciativa que acontece desde 2018 na Escola Estadual João Amos Comenius (Vila Santa Catarina), partindo justamente de noções de educação popular, como o estímulo ao pensamento crítico, a promoção da autonomia e acesso ao ensino superior por direito dos jovens na Zona Sul de São Paulo.

Cursinho Popular Construção

Não é raro ouvirmos de muita gente na quebrada que “a universidade não é meu lugar”, e é justamente a partir dessa fala que surge o trabalho do projeto, entendendo que a universidade tem sido uma instituição inacessível a pessoas jovens periféricas e, principalmente, negras. E mais: que o ingresso restrito é um projeto político, que de maneira alguma se trata de falta de investimento ou incompetência destes ou daqueles governos. Assim, como projeto de educação popular, o Cursinho Popular Construção foi pensado para que um dia deixe de existir, reconhecendo também que o vestibular é um sistema de avaliação excludente, que compactua com esse projeto de excluir a muitos o direito a educação pública de qualidade. Por isso e por muitos outros motivos que a iniciativa se debruça sobre Paulo Freire para pensar um projeto a partir de questões sobre qual mundo pretende formar, como constituí-lo, bem como quais valores e sujeitos construir como povo – e não massa.  

Para Paulo Freire, é certo que pessoas podem mudar o mundo e fazê-lo menos injusto, e isso só é possível a partir da realidade concreta da geração. Por isso, o cursinho tem como foco construir um local de produção de conhecimento e trabalho dos conteúdos escolares cobrados nos vestibulares, mas principalmente construir um espaço de troca de experiências, de debates sobre as realidades das pessoas participantes e de possibilidade para sonhar esse mundo possível. Ainda segundo o autor, a transformação que buscamos necessita desse sonho. Não um sonho qualquer, mas um sonho organizado, com projeto e autenticidade, que estrutura o ato de esperançar e seguir acreditando na emancipação e na libertação a partir da educação.

Atividade do Cursinho Popular Construção

Hoje vivemos uma crise dentro da crise na educação. Se antes da pandemia já era possível constatar a desigualdade entre os ensinos público e privado, hoje esse abismo só aumenta. É preciso seguir firme e forte na luta pela educação pública, de qualidade, e para todas e todos. É neste sentido que o Cursinho Popular Construção pensa em maneiras de seguir trabalhando durante a pandemia.

Ainda em tempo, o Cursinho Popular Construção abre as matrículas para o curso intensivo de preparo para o ENEM e vestibulares no dia 01/07/2021. Para saber mais informações, acesse a página do projeto.

Imagem: Cursinho Popular Construção/Divulgação

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Escrito por Expresso Periférico

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