O conhecimento é uma riqueza que ninguém tira da gente.

O Expresso Periférico traz até você, leitora e leitor, um pouco da história de uma mulher que deixou sua terra natal ainda na infância, vindo para São Paulo, trazendo na bagagem as orientações maternas de buscar, através da educação, a formação que lhe possibilitaria a ascensão social. Com muito esforço e engajamento em espaços coletivos, criou as oportunidades para poder estudar.

Ela veio pequenininha
Buscando aprendizado
Cativando seus sonhos
Dentro da comunidade
Com jovens e adultos
Sendo alfabetizados.

Meu nome é Nadir Maria da Conceição Ferreira, tenho 60 anos, sou nordestina de Pernambuco, vou contar minha história. Sou filha de Maria Rita, uma senhora analfabeta que criou 8 filhos sozinha. Quando era criança, meus irmãos já estavam aqui em São Paulo. Naquela época, meus parentes não tinham telefone e toda comunicação era feita via carta. Quando meus irmãos enviaram cartas para minha mãe, eu ficava muito triste, porque era pequena e não sabia ler. Ela pediu para eu procurar a vizinha para ler as cartas dos meus irmãos. Sempre falei para minha mãe que meu sonho era estudar e ser professora. Ela falava: “ Minha filha, estude, pois o estudo e o conhecimento são as únicas riquezas que ninguém tira da gente”. 

Cheguei em São Paulo em 1974. No final dos anos 1980, comecei a participar da pastoral do canto, na comunidade Santo Antônio, que pertence à paróquia de Nossa Senhora de Aparecida, na Avenida Cupecê, no Jardim Mirim. Lá fui convidada para participar do Movimento de Alfabetização de Jovens e Adultos (MOVA), de São Paulo, no qual ingressei em 1989. Comecei a trabalhar em várias comunidades (Santo Antônio e Sagrado Coração de Jesus) e no Centro Popular de Defesa Dos Direitos Humanos Frei Tito de Alencar Lima.

Movimentos são fontes
Que ajudam a conectar
Envolvimento partidário
E participação popular
Nos espaços coletivos
Incentivo para estudar

Na mesma época, comecei a participar dos movimentos sociais e do PT, quando a Luiza Erundina era prefeita. Como tinha pouco conhecimento  da área de alfabetização, me dediquei muito, trabalhei e adquiri experiência como educadora do MOVA e depois como educadora e coordenadora do núcleo sócio educativo, o antigo centro de juventude, hoje conhecido como Centro Frei Tito.  

Na alfabetização de jovens e adultos, conheci várias pessoas que me deram apoio para retornar aos estudos. Entrei no curso de Magistério e depois fiz graduação em Pedagogia. Como o que mais queria era ser professora, fui atrás do meu sonho, sempre acreditei que através da educação podemos mudar nossas vidas e as vidas de muitas pessoas do nosso bairro e do nosso país. Só com a educação  é que podemos ter um mundo melhor para todos. 

Frei Tito casa do povo
Acolhe a coletividade
Abrindo horizontes
Para a comunidade
Pescando e ensinando
Vencendo as dificuldades

O MOVA e Frei Tito para mim foram uma porta de entrada para uma mudança de vida. Com todas as dificuldades que enfrentava, não acreditava que poderia mudar tanto para melhor. Tenho certeza de que os movimentos sociais mudam a vida das pessoas, não só dos educadores, mas também de quem participa como aluno. Conheci pessoas maravilhosas, com quem até hoje mantenho contatos.

Minha participação no MOVA me deu coragem para enfrentar todas as dificuldades da vida, os preconceitos, os resquícios da falta de liberdade  que ainda tínhamos e foi com muita luta que consegui passar para as minhas filhas a importância de sempre lutar e ir atrás de seus sonhos. Mesmo que a vida pareça mostrar o contrário, só nós mesmos é que podemos mudar a nossa situação. 

Parabéns professora
Por esta profissão
Mostrando caminhos
Através da educação
Ensino de qualidade
Para toda população.

Atualmente, sou professora e amo o que faço. Tenho três filhas formadas na faculdade e uma também professora. Muita gente acreditava que quem mora na periferia não pode crescer na vida e obter sucesso. Por isso, é com muito orgulho que falo que minhas filhas demonstraram o contrário. Hoje, quando já estou quase me aposentando, agradeço a Deus e aquelas pessoas que passaram na minha vida me dando força e coragem para chegar aonde cheguei.

Imagem: Acervo pessoal da entrevistada

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