Superar as desigualdades que atingem intensamente a população preta e periférica é uma tarefa… Por Alexsandro Souza Santos

Superar as desigualdades que atingem intensamente a população preta e periférica é uma tarefa que implica em determinação e comprometimento onde a arte e a cultura são instrumentos que possuem um potencial de revelar como a sociedade brasileira pouco reconhece o potencial de jovens como Leandro, que também tem um sonho: conquistar direitos básicos que a ele e à sua família foram e são suprimidos, muitas vezes pelo fato de serem pretos e periféricos num país marcado pelo racismo estrutural, enquanto projeto de sociedade.

Alexsandro Souza Santos – Quem é o Leandro?

Leandro Souza Santos – Leandro é um jovem músico que sempre está de sorriso no rosto independente da situação, busca seus objetivos e metas sem atrapalhar ninguém e acredita que tudo é possível: basta querer e correr atrás. 

Alexsandro Souza Santos – Nos conte um pouco sobre sua infância em Americanópolis: bairro pobre, periférico, onde a maioria da população é não branca.

Leandro Souza Santos – Minha infância, considero que foi um pouco sofrida em relação à infraestrutura e moradia. Sempre morei em uma casa simples que inclusive era de madeira e por diversas ocasiões de chuva molhava dentro. Ver aquela cena me fazia refletir sobre vários aspectos e pensar que futuramente buscaria algo melhor para minha família. Meus pais faziam de tudo para que eu não me misturasse com a molecada da rua, mas, sempre que podia, ia brincar com eles, pois era o meu maior momento de diversão. Porém, nunca me deixei levar pelas coisas erradas que via e, embora eu morasse em uma casa simples, sempre busquei a minha felicidade nas pequenas coisas e momentos que faziam toda diferença. Minha mãe sempre me levava para a escola pelas manhãs e de tarde ia para o CEJOLE, uma ONG aqui do bairro que tem várias atividades educacionais e recreativas. Eu gostava bastante, pois lá eu aprendi muitas coisas que levo para a vida. 

Alexsandro Souza Santos – É sabido que a região onde moramos é carente de recursos básicos para atender adequadamente, principalmente, a juventude: faltam áreas de lazer, cultura…Que leitura você faz dessas carências?

Leandro Souza Santos – Sim. Infelizmente, em nosso bairro, a falta de áreas de lazer e cultura é recorrente desde a minha infância até os dias atuais, mas acredito que isso não seja um impasse para que não possamos buscar o nosso lazer. Eu mesmo, quando era menor, jogava bola na rua, empinava pipa e meu pai me levava no Parque Nabuco aos finais de semana. O parque fica um pouco distante da nossa região, mas não era um problema, pois o que importava era ter algumas horas de lazer em um local diferente da comunidade. E acesso à cultura onde mais tinha contato era no CEJOLE e na Escola. Fora deles não vejo outro lugar que supra essa necessidade do bairro. 

Alexsandro Souza Santos – Barreiras econômicas e étnicas são/foram impeditivos para avançar na opção que você fez para seu horizonte de formação profissional?

Leandro Souza Santos – Nunca foram, sempre fui muito focado nos meus objetivos e nunca deixei que minha classe social e etnia fossem impedimentos e vergonha para enfrentar as barreiras que a sociedade impõe para um jovem periférico. Desde mais novo procuro enxergar além da minha realidade e buscar sempre o melhor caminho. Hoje ainda não tenho uma formação acadêmica, por escolha minha, mas sempre tive a ciência de que a universidade não é algo distante. Hoje temos diversos meios para chegar até lá, meu irmão é a prova viva disso. Atualmente estou investindo na minha carreira de músico e possivelmente no futuro, eu faça alguma formação com foco na área musical. 

Alexsandro Souza Santos – Como jovem negro e periférico, você percebe ou considera que a sociedade estabelece ou impõe estigmas em relação a todas e todos que vêm das periferias e ousam avançar para além do trabalho braçal?

Leandro Souza Santos – Sim, a sociedade coloca muito preconceito em relação às pessoas que vêm das periferias, principalmente para o jovem negro que é julgado só pela sua cor e maneira de se vestir. Eu mesmo já fui abordado diversas vezes por policiais.

Aqueles que ousam sair desse círculo e quebrar as barreiras além da comunidade sofrem represálias, pois o estereótipo criado é que jovem de periferia é burro ou ladrão.

Alexsandro Souza Santos – Nos fale um pouco das expectativas familiares com relação à sua opção de dar seguimento ao ramo musical e se tornar MC.

Leandro Souza Santos – Meus familiares me apoiam 100% em relação à minha escolha profissional e criam diversas expectativas de que um dia eu possa me tornar um excelente músico. 

Alexsandro Souza Santos – No conjunto dos jovens que você está inserido na comunidade, sua escolha em dar seguimento ao ramo musical e se tornar MC provoca algum impacto?

Leandro Souza Santos – Sim, a maioria dos jovens ao meu redor se sentem influenciados a se tornarem MC s e veem que o sonho é possível.

Imagem: Acervo pessoal do entrevistado
Apoio: Aguinaldo Tadeu Pansa

Compartilhe:

Escrito por Expresso Periférico

Deixe um comentário