Depoimento efetuado em 27 de agosto de 2022, por João Batista Mariano

Na segunda edição do Expresso Periférico, foi veiculado uma matéria mostrando o drama da população que mora nas proximidades do Córrego do Cordeiro, altura do piscinão número 1.

Esse reservatório, alternativa criada pela prefeitura do Município de São Paulo para conter as constantes enchentes nas áreas mais jusantes, trouxe, como revela a matéria da época, por ser construído a céu aberto, profundos transtornos para a população do seu entorno.

Se não bastasse o mau cheiro, principalmente no verão, temos mais problemas como veremos no depoimento do Sr. João, um lutador abnegado pelo Movimento de Saúde no território e, também, morador que tem seu imóvel fazendo fundos com o córrego e, como toda vizinhança próxima do córrego e do piscinão, está em risco!

Segue o depoimento que pode se configurar numa tragédia anunciada se não forem tomadas as medidas necessárias com o máximo de urgência. 

“Meu nome é João Batista Mariano, participo do Movimento Popular de Saúde do Jabaquara e moro na Vila Clara, divisa com Cidade Ademar, exatamente atrás do Roldão da avenida Cupecê.

O que escrevo aqui é um apelo e pedido por socorro com o objetivo de registrar o descaso pelo que passei; uma situação que nunca, com cinquenta e três anos dentro de São Paulo, pensei em estar passando. É triste ter que fazer esse relato, mas faz oito meses que a Subprefeitura da Cidade Ademar não vem fazer limpeza no Córrego do Cordeiro, principalmente nesse trecho que fica atrás do Roldão. O mato já está passando os limites do muro, que possui aproximadamente quatro metros de altura e está, literalmente, adentrando nossas casas. E, para nossa surpresa e extremo espanto, no dia que recebi familiares: meu neto, sua esposa e minha bisneta, vindos da cidade de Maracaí, cidade que fica nas proximidades de Assis, isso, depois de um ano sem nos vermos, no momento que estávamos colocando a conversa em dia, qual não foi minha surpresa, quando nos deparamos com um escorpião que adentrava na sala? Isso aconteceu por volta das 19h (7 da noite). Diante do espanto e temendo pela saúde de meus familiares, logo me veio, além do sentimento de espanto, profunda tristeza e o medo de estar colocando a mim, minha esposa e, principalmente, meus familiares em risco. 

Logo, sem dúvida nenhuma, associei ao mato que, infelizmente, por falta de manutenção do leito do Córrego do Cordeiro, cobre toda a extensão que fica nos fundos do Roldão.

Há meses atrás, a vizinha da rua Florinda José Bermudes pegou uma cobra pequena dentro do quintal. Possivelmente, deve ter uma ninhada que está crescendo e não sabemos o potencial de risco, na medida em que animais, que podem ser peçonhentos, estão proliferando por conta da absoluta falta de zeladoria: poda e limpeza do leito do córrego. Ficamos abismados, ligamos para o 156 e nada aconteceu. Agora, a situação se repetiu comigo. Quer dizer, a gente não pode receber visita em casa por quê? Porque os insetos estão invadindo nossas casas! Tudo por conta desse matagal e absoluto abandono, sem os devidos cuidados, que é responsabilidade da Subprefeitura da cCdade Ademar.

Diante do exposto, fica a indagação: quando chega no final do ano sobra o orçamento, dinheiro que deveria ser empregado no combate às enchentes e, como não é utilizado, pode voltar para os cofres da prefeitura, enquanto nós, moradores, ficamos reféns do mato e todo tipo de inseto que prolifera no meio do lixo e detritos que se acumulam.

Para dar destinação consequente à verba é preciso manutenção preventiva. Acredito, como cidadão preocupado com a saúde dos meus familiares e da comunidade, que a Subprefeitura pode e deve contratar uma equipe para fazer as vistorias e determinar a limpeza e desmatamento dentro no leito do Córrego do Cordeiro e de seus afluentes. 

Pergunto mais uma vez, gente, gostaria que alguém me falasse isso: não podemos ir pra rua porque bandido pega, não podemos ficar dentro de casa recebendo visita porque os insetos estão entrando. Aí fica muito complicado, né? As fotos que acompanham esse relato é a evidência do absoluto descaso. 

 E mais, foi um escorpião pequeno, mas que, provavelmente, vem de um grande, que pode entrar em nossas casas e causar um sério acidente. Do mesmo jeito que entrou uma cobra pequena no número dezesseis, cinco casas depois da minha, pode entrar dentro da minha também, numa hora que estejamos dormindo, correndo o risco de sermos picados. Então, eu gostaria que alguém me ajudasse, que alguém falasse se isso é normal. Ou será que só vão limpar em dois mil e vinte e quatro, na véspera da campanha política pra reeleger o prefeito? Será que é isso? Porque tem oito que as ações de limpeza não são feitas no fundo do Roldão.

Hoje chegou um filho de Deus, vendo o mato gigantesco, apareceu com uma carroça. Está cortando pra levar para seu cavalo comer. A gente até perguntou: O senhor vai voltar um outro dia? Ele respondeu: _Bom, eu não sei, pode ser que eu volte. Mas hoje meu cavalo está com fome, hoje eu vi esse mato, eu vou roçar pra vocês uma parte…

Será que a gente vai ficar dependendo que apareça alguém que tem uma criação pra poder vir roçar e tirar um pouco do mato pra gente?

Obrigado e desculpa o meu desabafo. Mas é que é pra todo mundo ver a situação que a gente passa por causa da Subprefeitura da Cidade Ademar que não faz o serviço que tem que ser feito. Ela não faz o serviço de zeladoria que ela tem que fazer.

Isso é zeladoria!!! A gente paga impostos, não é invasão não, gente. Tem esse bendito desse rio no fundo da casa da gente, mas a gente paga os nossos impostos todo ano. Pra quê? Pra quando a gente receber visita e escorpião ficar entrando na casa, a cobra está entrando na casa? Por quê? Porque a prefeitura não quer investir dinheiro, que é público?

Imagens: João Batista Mariano

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Escrito por Expresso Periférico

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