O “acordar” é um exercício consciente que se faz a cada minuto do dia.

O mês de setembro termina com mais um dado triste referente à cidade de São Paulo, em especial para a Zona Sul. Com um aumento de 10% no número de pessoas em extrema pobreza. Com isso, a cidade caminha para o final do ano com mais de 680 mil famílias em condição de miséria. Esses dados foram revelados pela Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social. Comparado ao início de 2021 esse aumento chega a 40%. Referente à Zona Sul (região mais prejudicada), a Cidade Ademar fica em terceiro lugar em relação a essa vulnerabilidade.

Refletir sobre esses dados em período de eleição é fundamental. Entre 2019 e o ano passado, quase 10 milhões de brasileiros passaram a viver em situação de extrema pobreza e isso é consequência do avanço sempre violento do capitalismo. É comum o argumento que define esses dados como resultado do impacto da pandemia. O que não é esclarecido ao trabalhador, no entanto, é que o desastre causado pela doença está conectado à tentativa de manter o sistema econômico funcionando às custas da vida do povo periférico. Quem pôde fazer isolamento social em 2020? Qual foi a política pública em relação ao transporte público para que se evitasse aglomeração dentro de trens e ônibus? Essas perguntas são apenas alguns questionamentos interessantes para se pensar. A COVID-19 é uma questão biológica, já a pandemia, um problema do capitalismo.

Diante disso, é comum ouvir nas ruas a descrença na política brasileira e esse comentário faz sentido quando se observa o perfil dos representantes do povo que ocupam o Congresso. Sabe-se que o perfil dos deputados brasileiros ainda representa uma parcela mínima e privilegiada da sociedade. Sendo a maioria homens, brancos, casados e com ensino superior. Dos 513 deputados, mais de duzentos são da bancada ruralista e fazem parte do grupo de políticos mais ricos do país, boa parte são fazendeiros que defendem os interesses da indústria do  agronegócio. Dos 81 senadores, 39 fazem parte do mesmo grupo. Dos que defendem os interesses da indústria das armas, constam 35 deputados. Ou seja, mais da metade dessas pessoas não fazem parte do perfil socioeconômico brasileiro e não garantem a superação das necessidades do povo. Fica mesmo difícil acreditar nos governantes desse jeito.

Por isso é crucial que se conheça as propostas dos candidatos e se avalie os resultados da atual política até agora. Chega de genocídio da população periférica. Saber dos impactos dessa gestão criminosa em nosso território também foi compromisso do Expresso Periférico e continuará sendo. Há a urgência de uma periferia organizada e consciente, independente dos resultados dessa eleição. Em um mês o novo presidente da república será eleito, mas nem todo trabalhador vai acordar para garantir o pão, porque o “acordar” é um exercício consciente que se faz a cada minuto do dia. A política será feita de maneira efetiva quando uma trabalhadora ou trabalhador levantar de sua cama para trabalhar e sentir que precisa estar presente de forma solidária e comprometida com seu território, ainda que toda estrutura social coloque barreiras para que isso aconteça. Ela será feita quando essa pessoa sentir e se movimentar pacientemente na costura dessa colcha de solidariedade e luta. Só assim será possível afirmar que “acordou”, só assim será possível afirmar que “garantirá o pão”.

Imagem: Fotos Públicas

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Escrito por Gabriel Messias

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