Por Carlos Seino

Durante a pandemia, por conta do isolamento social, cinemas, teatros, eventos e igrejas precisaram fechar suas portas para evitar aglomerações.

Não faltaram vozes pra dizer que era uma espécie de perseguição e estratégia esquerdista ou coisa do tipo contra as igrejas. 

Conversei demoradamente com alguns sobre isso. Pessoas que considero inteligentes e que compravam essa versão conspiracionista. A alguns deles, com certa projeção nas redes, eu disse que estavam induzindo as pessoas a erro. Não adiantou. Me disseram que eu era um militante esquerdista.

Disse a eles que era uma questão temporária. Sanitária. Que a igreja não tinha que ser privilegiada diante de outras instituições. Que tínhamos total liberdade de nos expressarmos pelas redes, de forma virtual. Nunca se falou tanto de Jesus, do evangelho, pela internet. Houve até, segundo alguns, um aumento da audiência cristã, mesmo que de forma virtual. Uma procura por consolação espiritual.

Algumas igrejas furaram o isolamento. Igrejas fizeram culto de portas fechadas. Diante do fechamento de templos, alguns, por pirraça, encheram de crentes um ônibus (transportes não estava proibidos) para cultuar com direito à transmissão ao vivo. Alguns amigos, que viam igrejas funcionando normalmente, me questionavam (um deles viu inclusive o pessoal se confraternizando, com comes e bebes, como é comum nas igrejas).

Bom.

A pandemia, com a vacinação em massa, cedeu. As igrejas, como todos podem perceber, estão funcionando normalmente. O tal candidato “comunista” venceu e nenhuma igreja foi fechada. Congressos, reuniões lotadas, ajuntamentos, marchas, tudo acontecendo normalmente. 

Porém, o preço foi caro.

Muitos pastores e fiéis morreram (e que fique claro, nem todos por falta de prudência). Segundo algumas estatística, a classe de “profissionais” que mais foi afetada foi de pastores evangélicos. Gostaria de dizer que foi por conta de algum tipo de heroísmo em cuidar de pessoas, e não por acreditar em uma narrativa mentirosa.

Possivelmente muitos (todos?) daqueles que disseram que era uma perseguição comunista, um plano global esquerdista contra o cristianismo não se arrependeram. Não disseram que erraram. Algumas amizades realmente foram abaladas.

Por isso, entendo que a discussão que se estabeleceu nesses últimos anos vai muito além do embate entre direita e esquerda, conservadores e progressistas. A discussão é acerca de um certo tipo de civilização. E o bolsonarismo se mostrou um grande retrocesso civilizatório (em várias áreas), que incentivou um comportamento completamente inadequado durante a pandemia, induzindo milhões ao erro, ao verem seu presidente incentivando aglomerações, uso de medicamentos ineficazes, falando contra as vacinas.

Gostaria de poder dizer que tudo ficou no passado, e que não há mais risco de situações como essa. Mas não. Ainda vejo pessoas falando contra as vacinas. A própria vacinação, passado o pior momento da pandemia, caiu. Precisamos realmente ficar alertas, ter muita paciência para convencer amigos, colegas e parentes a deixarem essa prisão de pensamento que fez tanto mal ao nosso país.

Imagem: Bruno O.

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Escrito por Expresso Periférico

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