A expansão da periferia no contexto de uma urbanização carente de infraestrutura. Por Alexsandro Souza Santos
Antes de falarmos sobre a urbanização, precisamos entender como tudo começou. As primeiras periferias surgiram no final do século XIX e início do século XX em decorrência da chegada da industrialização e o crescimento da economia. O índice populacional foi crescendo, os aluguéis ficavam cada vez mais caros e era recorrente a formação de cortiços na centralidade da cidade.
A tática governamental para acabar com esse problema foi retirar toda essa população que estava irregular e mandar para longe, uma vez que o Centro era o cartão postal da cidade. Outro fator que impulsionou a expansão das comunidades foi a vinda das famílias do campo para a cidade em busca de uma vida melhor Ao chegarem e se depararem com a realidade, percebiam que era inviável se sustentar e a única opção era ir para os extremos.
Assim começaram a surgir as primeiras periferias em encostas de morro, lotes não licenciados, públicos ou privados e em áreas de extremo risco. O modo construtivo dessas residências não seguia um padrão, na grande maioria era de tábuas e sarrafos de madeiras (os famosos barracos). De início, as periferias não eram consideradas parte da cidade e eram vistas como um problema para o governo, já que eram desprovidas de infraestrutura básica e não caracterizavam aspectos urbanos formais, além da população não ser considerada como de cidadãos. E a meta do governo era demolir todas essas casas irregulares.
Com o crescimento populacional e a expansão urbana, essas áreas eram mais evidentes e impossibilitavam que o governo continuasse a excluí-las. Surgem então alguns movimentos de redemocratização do país que impulsionaram o estado a ter olhares mais atenciosos para a população de baixa renda. O governo então inicia a política de urbanização das favelas que leva uma infraestrutura básica e urbana para as comunidades. Com a chegada desse apoio governamental e a inclusão dessas regiões como parte da cidade, o processo construtivo dessas residências começa a mudar, elevando a qualidade de vida e assegurando, no mínimo, o básico.
Analisando as comunidades nos tempos atuais, observamos que muitos aspectos mudaram em relação ao passado. Hoje temos diversas regiões periféricas com uma estrutura e infraestrutura consideravelmente boa. Porém, também ainda existem áreas totalmente desprovidas de, no mínimo, saneamento básico. Nossa cidade está em constante crescimento e o fator moradia ainda é o principal desafio governamental. A formação de periferias sempre estará presente nessa expansão desordenada da cidade. É necessário também entender as carências dessas regiões e pensar não somente na qualidade de vida relacionada à moradia, mas também na formação dessa população, melhorando os equipamentos de educação e formando pessoas que estejam preparadas para um mercado de trabalho que exige conhecimento e, automaticamente, o conhecimento gerará renda e melhorará a qualidade de vida.
O que também impulsiona sempre a formação de casas irregulares é o altíssimo preço dos aluguéis que se tornaram inviáveis para muitas famílias, ocasionando a invasão de terrenos e a construção de residências sem qualidade nenhuma. Hoje existem programas que visam ajudar a população a ter uma moradia digna, como por exemplo o programa “Minha Casa Minha Vida”, financiado pela Caixa Econômica Federal. Porém, ainda para muitos, essa opção é impossibilitada pela falta de renda e o sonho de casa própria se torna distante. A Constituição assegura a todos esse direito de moradia aos trabalhadores. Porém, na prática, muitos aspectos não são efetivados.
O governo ainda tem muito trabalho a fazer e barreiras a serem quebradas para efetivamente realizar um trabalho que atinja a todos. São processos que vão muito além do que somente a moradia em si. É necessário mudar diversos aspectos como economia, impostos, política, educação, salário mínimo, etc. E nós, como população e comunidade, também precisamos nos movimentar para que a mudança aconteça. Estamos em um país democrático e lutar por uma qualidade de vida melhor faz parte do nosso direito.
Que não nos calemos diante das atrocidades do cotidiano!
Imagem: Mauro Castro