Nos dias de hoje, a palavra “tecnologia” está muito atrelada às inovações da terceira e da quarta revolução industrial. Por Yan Vieira de Macedo

Nos dias de hoje, a palavra “tecnologia” está muito atrelada às inovações da terceira e quarta revolução industrial (a mais recente revolução pela qual estamos passando). Hoje, tecnologia é sinônimo de equipamentos da informação (computadores, celulares, tablets, entre outros), eletrodomésticos (geladeira, fogão, forno de micro-ondas, entre outros), veículos, internet e tantas outras facilidades e inovações que caracterizam a velocidade e maleabilidade da idade contemporânea. Porém, a tecnologia não é só isso.

Tecnologia se refere a todas as técnicas, métodos, processos, meios e instrumentos utilizados pela humanidade para atingir um fim ou produzir um resultado. Portanto, a tecnologia não é algo exclusivo do século XXI: o domínio sobre o fogo, a invenção da roda, das ferramentas e utensílios de metal etc. também são tecnologias. Se olharmos de maneira etimológica, vemos que tecnologia também é um estudo. Das palavras gregas techné, que significa “arte”, “a arte de fazer algo”, e lógos, que significa “linguagem”, “lógica”, é o estudo e teoria das técnicas, métodos, processos e meios.

A tecnologia faz parte da natureza humana. Ela não tem vontade própria, mas representa a vontade humana de resolver algum problema ou satisfazer alguma de suas necessidades. Inclusive, podemos dizer que a tecnologia determina nossa evolução, já que cada momento em nossa história é marcado por uma nova ou melhor tecnologia, que torna nossa vida cada vez mais fácil. Porém, o progresso tecnológico também representou problemas para a humanidade nesses mesmos momentos. Além de significar uma evolução pacífica, que diz respeito simplesmente à nossa capacidade de sobrevivência e auto-suficiência, também representa o poder de um ou mais indivíduos. A evolução tecnológica não foi igualitária, assim como a evolução e história em geral não foram iguais para todos os indivíduos humanos ao redor do mundo. Enquanto um povo produzia uma tecnologia, outro povo produzia algo diferente, mais ou menos avançado, ou até mesmo não produzia nada. Por isso, observamos um desequilíbrio de poder e capacidade de sobrevivência entre os diferentes povos na história. Nas várias situações de conflitos entre humanos, a tecnologia que cada lado possuía significou a vitória de um ou a derrota de outro.

Estamos em outros tempos: a violência não é mais a primeira opção para a resolução de conflitos (apesar de ainda ser vista como uma), mas os conflitos continuam a existir, alguns com a participação da tecnologia. Um desses conflitos não é entre humanos, mas dos humanos com a natureza.

Tecnologia e Consumismo

O consumismo é o fenômeno do consumo intenso e sem limites de produtos e serviços que, muitas vezes, não são essenciais para a nossa sobrevivência. Sem a tecnologia, esse fenômeno não seria possível.

Devido â evolução e utilidade impressionante dos aparelhos eletrônicos, esses estão entre os produtos mais vendidos no mundo. A tecnologia como estudo serve para produzir mais produtos que vendam cada vez mais e rendam mais dinheiro para as empresas. Não precisa ser apenas aparelhos eletrônicos, a tecnologia também pode estar presente em outros ramos de produto para tornar estes mais atrativos. Vale ressaltar que os aparelhos eletrônicos são tão úteis que eles próprios foram transformados em um meio para consumir, inclusive altamente efetivo. Hoje em dia é possível comprar tudo o que está disponível no mercado através de um celular, tablet ou computador, mesmo o ponto de venda deste produto estando do outro lado do mundo, basta ter acesso à internet.

Sustentabilidade

A sustentabilidade é o processo de realização de uma ação, atividade ou o alcance de um resultado de forma sustentável, ou seja, de forma que essa própria não esgote os recursos necessários para a sua realização. Esse processo é muito citado quando falamos da relação humana com a natureza.

O consumismo implica na extração desenfreada de recursos naturais para uso no processo produtivo e na emissão de substâncias poluentes. Essa extração causa o desequilíbrio do meio natural: redução dos recursos disponíveis na natureza, dificuldade na regeneração desses recursos, alterações nocivas nos ecossistemas, alterações nocivas no clima, entre outros. Ainda por cima, muitos negócios não se importam com os impactos que causam na natureza.

A sustentabilidade é baseada em um esquema chamado “tripé da sustentabilidade”. Esse esquema diz que três fatores, social, ambiental e econômico, precisam estar integrados para que a sustentabilidade de fato aconteça. O fator social engloba as pessoas e suas condições de vida, o fator ambiental se refere aos recursos naturais e como eles são utilizados pela sociedade e pela economia, e o fator econômico diz respeito à produção, distribuição e consumo de bens e serviços. Há mais de um tipo de sustentabilidade, nas discussões ambientais, falamos sobre a sustentabilidade ambiental em específico. O objetivo do movimento sustentável é diminuir o desperdício, a poluição e a extração na natureza ao máximo, além de proteger e manter as áreas naturais, para, assim, evitar a degradação ambiental.

Lixo Eletrônico

Somando tecnologia e consumismo, encontramos outro enorme problema de âmbito global: o lixo eletrônico.

O lixo eletrônico, chamado de e-waste em inglês, nada mais é que todos os equipamentos eletroeletrônicos descartados e suas substâncias. O lixo em geral já é um problema: visto que todo consumo gera resíduos, o consumismo gera toneladas e toneladas de lixo todos os dias. Esse problema é agravado pelo fato de que os resíduos não recebem um tratamento adequado. Em geral, o lixo é despejado em aterros e, até mesmo, em lugares em que não deveria estar: ruas, terrenos baldios, rios, lagos, o mar… Mas não nas lixeiras. A cultura da reciclagem e da produção sustentável não é difundida, o sistema consumista não se preocupa em diminuir o despejo de resíduos através do reuso da parte útil desses resíduos ou através da produção, usando materiais que se degradam rapidamente no meio ambiente sem causar nenhum dano. O lixo eletrônico é especialmente perigoso porque esses equipamentos eletrônicos possuem metais pesados e substâncias tóxicas e, se descartados em qualquer lugar, ocorre o risco desses materiais contaminarem o solo e a água, o que afeta a saúde do meio ambiente e também das pessoas.

Mesmo assim, em torno de 53,6 milhões de toneladas de lixo eletrônico foram descartadas em 2019 e há o risco de esse descarte subir para 74 milhões de toneladas até 2030. É o que diz o Monitor Global de Lixo Eletrônico 2020, da ONU (Organização das Nações Unidas).

Tecnologia e Sustentabilidade

O objetivo primário da tecnologia não é causar problemas, e sim, oferecer soluções. No contexto da sustentabilidade e no combate aos problemas causados pelo consumismo, o papel da tecnologia é disponibilizar técnicas, métodos, processos, meios e instrumentos para resolver esses problemas: o consumo exacerbado, a poluição e a produção de lixo. Tanto na forma de remediação quanto na forma de prevenção.

Fontes de energia limpas e renováveis (solar, eólica, etc.), biocombustíveis, transportes à energia elétrica, reciclagem de lixo, inclusive do lixo eletrônico, embalagens biodegradáveis e que consumam menos matéria-prima, torneiras automáticas, lâmpadas de LED, sensores de presença para desligar as luzes automaticamente e chuveiros pressurizados são exemplos de frutos da inovação tecnológica que, além de contribuírem para a sustentabilidade, cumprem com esplendor seu papel de facilitar a vida das pessoas.

Conclusão

A tecnologia é inerente à natureza humana. Ela continua a evoluir e não vai parar de evoluir, alimentada pelo nosso desejo de descobrir coisas cada vez mais novas, facilitar e melhorar cada vez mais a nossa vida e de chegar cada vez mais longe. Apesar de ser tão poderosa, a tecnologia não é nada mais que um meio, ou seja, os problemas ou soluções que a tecnologia causa depende da vontade do indivíduo que a está usando (não quero entrar na discussão sobre a índole da inteligência artificial).

Mas nada retira o fato de que, ao longo de nossa existência, demos um poder impressionante para a tecnologia, por isso, devemos ter cuidado quanto a forma com a qual usamos e lidamos com ela, e também cuidado com o caminho que trilhamos para ela, mesmo se estamos usando a tecnologia apenas para nosso entretenimento. A sustentabilidade não é sobre o equilíbrio dos humanos com a natureza, é sobre o equilíbrio entre a sociedade, a natureza e a economia e sobre o equilíbrio dentro de cada uma dessas esferas. Se cada uma dessas esferas não funciona de forma sustentável em seu interior, em outras palavras, se a sociedade não está em harmonia, se a economia não está suportando e se a natureza não está em equilíbrio com ela mesmo, mesmo dentro de todas as limitações e condições impostas pelo bem sustentável, a sustentabilidade é uma ilusão.

É sempre bom ressaltar com muitos sublinhados e negritos que métodos, processos, meios e instrumentos para resolver os problemas do mundo, tanto quanto a questão da natureza e quanto questões sociais e econômicas, não faltam. Ao contrário: elas existem em abundância. Porém, o real problema é que o principal capital para que essas soluções aconteçam é que está em escassez. Esse capital é nada mais que a vontade, o compromisso e a cooperação por parte dos indivíduos humanos, tanto os cidadãos comuns quanto os líderes e governantes, pois, como dito anteriormente, a tecnologia não passa de um meio para que as vontades humanas sejam saciadas. A solução raiz está dentro de nós.

Imagem: Waste Atlas

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Escrito por Expresso Periférico

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