Breve reflexão sobre as extremas desigualdades: fome e abundância. Por Yan Vieira de Macedo

Vivemos em um mundo de contradições: enquanto em um lugar pessoas não têm o que comer e morrem por desnutrição, em outro, índices apontam para uma pandemia de obesidade e de problemas de saúde atrelados ao sobrepeso, que também matam milhares de pessoas. Enquanto alguns países prosperam economicamente ano após ano, uma grave e incessante crise econômica assola outros. Falar sobre fome x obesidade, pobreza x riqueza ou qualquer outra contradição é falar sobre dois extremos causados pela má distribuição de riqueza que está presente em todo o mundo, desde o grau nacional até o grau local. Enquanto uns têm muito, outros têm pouco ou nada.

A desigualdade é uma construção histórica e social, ou seja, acompanha a humanidade desde a antiguidade e é própria das relações humanas. Desde a consolidação da civilização, a sociedade é uma pirâmide, dividida em duas classes: os privilegiados, que possuem a maior fatia das riquezas e do poder, e os não privilegiados, que têm que se contentar em dividir a menor fatia de riqueza e de poder. Ainda é incerto como exatamente se firmou essa divisão social, mas ela é a principal explicação para a desigualdade. O principal fator para que a riqueza, poder ou privilégios fiquem desproporcionais entre os dois lados é que os privilegiados enriquecem através da exploração da força de trabalho e da pouca riqueza dos não privilegiados, através de impostos e tributos muitas vezes abusivos. Até o fim da idade moderna, essa disparidade era constitucional e explícita.

Com as diversas transformações sociais, políticas e econômicas, os não privilegiados conquistaram muitos direitos. Depois da queda das monarquias absolutas e a ascensão do constitucionalismo, a mobilidade social dos pobres se tornou viável, mas a desigualdade continua, dessa vez de forma mais implícita.

A contemporaneidade mitigou problemas antigos, mas trouxe problemas contemporâneos, entre eles, a desigualdade entre países. Isso significa que, além de pessoas físicas terem riquezas desproporcionais, os países também esboçam uma diferença de riqueza e poder. Essa modalidade de desigualdade foi resultado do colonialismo e o neocolonialismo, onde a Europa se apropriou dos territórios e riquezas da África e da América. Apesar de terem conseguido sua independência, as ex-colônias e vítimas das Divisões Internacionais do Trabalho antiga e clássica permanecem em desvantagem econômica e tecnológica até hoje.

Devido a tantos fatores históricos, os países subdesenvolvidos e em desenvolvimento, que já foram colonizados e explorados pelos países desenvolvidos, estão em uma terrível desvantagem econômica e tecnológica e podem esboçar também uma dependência de importações e do mercado global. Somado a problemas políticos e sociais internos, esses países, em especial os localizados na África, enfrentam uma crise de fome. Por outro lado, nos países desenvolvidos e em alguns que estão em desenvolvimento, a lógica capitalista estimula o consumo desenfreado, incluindo o consumo desenfreado de comida. Assim como outros produtos, muitos alimentos que a indústria oferece possuem substâncias não saudáveis, que tem como objetivo tornar a comida mais atrativa ou fazer com que ela dure por mais tempo. Tanto essas substâncias quanto o próprio consumo sem limites provocam o aumento da obesidade, no mesmo mundo em que pessoas morrem por não ter o que comer.

Mesmo que estejamos em 2022, no século XXI, mesmo que a ONU exista, mesmo que haja todo um esforço político e civil para mitigar a fome e a pobreza, essa luta ainda não mostrou resultados satisfatórios. Isso porque a lógica capitalista e alguns que conservam ideias do passado se recusam a colaborar com acordos internacionais e com esse esforço que tanto luta pelo bem comum, visto que esse progresso para a humanidade colocaria em risco seu poder e seus interesses. O problema não é a falta de recursos, existe comida e dinheiro para satisfazer as necessidades básicas de todas as pessoas no mundo, o problema é que a teimosia, o consumismo, o desperdício e cicatrizes do passado impedem que as riquezas que o mundo possui sejam desconcentradas de uma só mão e distribuídas para todos por igual. E os índices apontam que isso não vai acontecer tão cedo.

Imagem: Bruno O.

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Escrito por Expresso Periférico

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