Quem são os Palestinos?

Em setembro deste ano, uma tragédia chocou a todos. Heloisa dos Santos Silva, de apenas 3 anos, foi atingida por um tiro na cabeça. O disparo ocorreu no Rio de Janeiro, vindo de um fuzil calibre 556 nas mãos de um policial rodoviário federal. Willian Silva, o pai de Heloisa, um homem negro e gerente de farmácia, relata que percebeu estar sendo seguido e, ao encostar o carro, ouviu os tiros. Os policiais alegaram que o veículo em que Heloisa estava era roubado e que tinham ouvido tiros vindos do carro em resposta à presença policial. No interior do veículo estavam Heloisa, seu pai, sua mãe e sua tia. Durante a internação da menina, os policiais pressionaram Willian para fazer o teste do bafômetro e tentaram levá-lo para prestar depoimento. A mãe relembra que, ao pedir que seu marido ficasse até o final da cirurgia, ouviu do policial: “Você não é Deus nem médico; se algo acontecer com ela, não poderá fazer nada.”

Caro leitor, caro leitora, este parágrafo foi profundo e doloroso, e pedimos desculpas por isso. Não apenas por sua extensão, mas também pela quantidade de elementos que ele contém para compreendermos nossa conexão com o que ocorre no processo colonialista de Israel sobre a Palestina. Começaremos pela arma usada pelo policial.

O fuzil calibre 556 é o mesmo modelo adquirido pelo Estado do Rio de Janeiro em 2022, ao custo de 9 milhões, financiado pelo fundo da Secretaria de Polícia Militar. Sabe de onde essas armas vêm? Da fabricante de armas de fogo IWI – Israel Weapon Industries, fundada em Israel em 1933 com o nome IMI (Israeli Military Industries). A indústria que produz e vende armas que mataram mais de 700 crianças na Palestina está ceifando a vida de crianças negras e pobres em nosso país. Acha que estamos exagerando?

É importante ressaltar que o Estado de São Paulo também possui armas originárias da indústria israelense. Os blindados do Choque, aqui em São Paulo, também vieram de lá. Já o “Caveirão” do Rio de Janeiro foi importado da África do Sul e usado durante o Apartheid. Com isso, é possível supor que esses mesmos veículos usados no genocídio do povo Palestino e do povo negro da África do Sul foram importados para o Brasil para manter a “nossa Faixa de Gaza”, separando as comunidades nos morros do asfalto no Rio e nas periferias das “famílias de bem” em São Paulo.

Outro ponto importante a lembrar é que foi durante o governo Bolsonaro que uma série de decretos que revogaram o Estatuto do Desarmamento e facilitaram a obtenção de licenças de CAC (caçador, atirador e colecionador de armas) ocorreram. Segundo o Policial Federal Umberto Uchôa, em entrevista ao Intercept Brasil: “Fuzis foram vendidos com uma facilidade nunca vista no país. Agora não sabemos quantos estão em circulação. Dependeremos da campanha de recadastramento do governo atual.” As mudanças na política de armas não fortaleceram o controle de vendas e rastreamento, favorecendo o crime organizado. Atualmente, o crime organizado tem acesso a armas que antes eram restritas à polícia, como a pistola Glock, que recebeu 43 milhões do governo em 2019 sem licitação, de acordo com a mesma reportagem do Intercept Brasil. No Brasil, a empresa é dirigida por Fernanda Pereira Leite, irmã do então Ministro do Meio Ambiente de Bolsonaro. Ou seja, a arma que ceifa vidas, seja pelas mãos da polícia ou do crime, provém do mesmo lugar e carrega a mesma ideologia. Mas, e a questão Palestina e Israel?

A população palestina tem enfrentado um massacre implacável por mais de 70 anos, perpetrado por um dos exércitos mais poderosos do mundo. Atualmente, quase metade da população da Faixa de Gaza, ou seja, 47%, tem menos de 17 anos. A disparidade no poder bélico nesse conflito é incomensurável. Durante muito tempo, o povo palestino confrontou o exército israelense apenas com pedras. Vale ressaltar que a ideia de criar o Estado de Israel não está ligada a motivações religiosas; o argumento de que esse conflito é milenar é desonesto. O que tem acontecido nas últimas décadas é um processo de colonização, apartheid e genocídio. Embora o Hamas seja um grupo com uma ideologia indefensável, talvez tenha surgido como uma resposta à violência sofrida pelo povo palestino. Talvez também seja a resposta que parte do pressuposto de que, após décadas de um genocídio em curso, não há espaço para dois Estados no mesmo território.

Enquanto o massacre continua, muitos veículos de mídia, quando não defendem Israel, apelam pela paz. Mas qual é a diferença entre ser passivo e ser pacífico? A paz é um processo que envolve diálogo, e o conflito é uma parte desse processo. Quando não há espaço para o diálogo, é preciso lutar para garantir a sobrevivência. Você sabia que os palestinos não podem votar nas eleições abertas de Israel? E que os israelenses que se posicionam a favor da Palestina enfrentam perseguição? O povo palestino luta pela paz e não está em oposição aos judeus (isso já foi declarado).

O nome Israel tem origem no hebraico e significa “ele luta com Deus”. Essa designação seria dada à terra prometida aos descendentes de Abraão. No entanto, cara leitora e leitor, você acredita que Deus lutaria ao lado de um exército poderoso que, na tentativa de reagir a um ataque, acabaria tirando a vida de mais de 700 crianças e deixando mais de 2400 feridos? Talvez seja o mesmo Deus que foi invocado por um antigo presidente com a frase: “Deus acima de tudo”, enquanto milhares de pessoas ficavam desprotegidas contra doenças e ele zombava da situação, imitando pessoas com falta de ar.

Curiosamente, foi com a bandeira de Israel ao fundo que Bolsonaro declarou: “Não haverá um centímetro demarcado para reservas indígenas ou quilombolas” e também disse: “O afro-descendente mais leve lá pesava 7 arrobas. Não fazem nada, eu acho que nem pra procriadores servem mais”. Essas declarações se alinham com o movimento genocida que a política de Israel promove há décadas. Não há elos frágeis nessa corrente; o que temos é a luta de um povo que já ocupava um território e busca a sobrevivência. Se estamos falando de quilombolas, indígenas, negros nas favelas ou palestinos, não importa; a bala de fuzil que perfura seus corpos é a mesma. O veículo blindado que os mantém em seu confinamento é o mesmo. O suposto Deus que caminha ao lado com as mãos manchadas de sangue é o mesmo. No entanto, a resistência e a vontade de viver do povo também são as mesmas.

Heloísa perdeu a vida após 9 dias de luta no hospital, e seu pai busca força onde pode para continuar. Em seu Instagram, Willian colocou no espaço para biografia: “Samos 28:7”, fazendo referência a: “O Senhor é a minha força e o meu escudo; nele confiou o meu coração, e fui socorrido, pelo que o meu coração exulta, e com o meu cântico o louvarei”. Na Palestina, algum pai que perdeu seu filho devido a um ataque aéreo de Israel também se apega à sua fé em busca de esperança, mas você não encontrará seu depoimento no Google.

Saiba Mais

Mais de 700 crianças palestinas morreram em ataques a | Internacional (brasildefato.com.br)

“Vamos lutar até o final por justiça”, disse Willian Silva, pai da menina Heloisa, em entrevista exclusiva à Tribuna | Tribuna de Petrópolis (tribunadepetropolis.com.br)

EXCLUSIVO – Empresa israelense ajudou clã Bolsonaro nos EUA e faturou milhões em vendas de armas ao Brasil – Revista Fórum (revistaforum.com.br)

Conflito Israel-Hamas: o brutal impacto nas crianças de Gaza – BBC News Brasil

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Conflito Israel-Hamas: Quase metade da população de Gaza tem menos de 18 anos; as razões por trás da população jovem – BBC News Brasil

Novo Caveirão do Bope deve ser o Maverick, da África do Sul – Forças Terrestres – Exércitos, Indústria de Defesa e Segurança, Geopolítica e Geoestratégia (forte.jor.br)

G1 – Choque recebe blindados israelenses no valor de R$ 30 milhões em SP – notícias em São Paulo (globo.com)

(11) Afrodescendentes de quilombos ‘não servem nem para procriar’, diz Bolsonaro na Hebraica do Rio – YouTube

Intercept Brasil no X: “Em 2019, a Glock recebeu mais de R$ 43 milhões do governo sem licitação. A empresa é comandada no Brasil por Fernanda Pereira Leite, irmã do ex-ministro de Bolsonaro, Joaquim Alvaro Pereira Leite. 4/5 https://t.co/4mbtqhHXMH” / X (twitter.com)

Para saber mais sobre o conflito Palestina x Israel

(11) ISRAEL-PALESTINA: 5 DISTORÇÕES SOBRE GAZA E HAMAS QUE A MÍDIA VAI TE CONTAR HOJE – YouTube

(11) A SÉRIE QUE ISRAEL CENSUROU: O LOBBY — EUA (Episódio 1) – YouTube

Imagem: Google Images

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Escrito por Gabriel Messias

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