Acho pouco provável que alguma de nós não tenha sido xingada de louca, por Renata Rikovski.

Há alguns dias vinha acompanhando, ainda que de forma aleatória, a movimentação em um grupo de whattsapp. Fato que penso ter se tornado comum em tempos de pandemia, onde o espaço virtual se tornou local de lutas e de encontros dos pares a fim de deixar a vida menos dura. Nessa ocasião, um grupo de mulheres enviava frases a um colega que, depois descobri, organizaria todas estas para um projeto de visibilidade feminina em uma das tantas periferias de São Paulo.

As frases me motivaram a refletir. Minha condição de mulher, completamente envolvida pelo feminino, criada apenas por minha mãe, vivendo, agindo, interagindo com a estrutura que nos massacra dia a dia. Refleti (como no espelho) minha alma sobretudo naquelas mulheres que sofrem com a violência sutil, aquela violência que estamos malhadas e que muitas de nós dizemos ser normal, a servidão ao homem, aquele homem que se algo lhe cai mal aos ouvidos a mulher percebe, o suor frio toma conta, o coração acelera, o tremor toma conta dos membros, o espaço na cama é acanhadinho, no canto. 

Mas o que cai mal ao ouvido de alguns homens? A singularidade do feminino! Ou seja, a existência feminina, com todos desejos, manias, com toda força, com a sexualidade própria a cada mulher. Não somos iguais, a nós não cabe o pronome “UMA”, pois somos “A”, carregamos em nós o artigo definido, A Maria, A Madalena.

Estava pensando hoje, enquanto tomava café, que mesmo que sejamos singulares em nossas existências, a estrutura que nos oprime nos nivela como todas iguais.

Explico: acho pouco provável que haja uma mulher que não tenha sofrido com o machismo até mesmo antes do próprio nascimento, acho pouco provável também que alguma de nós não tenha sido xingada de puta, sem qualquer propriedade de conhecimento do termo, apenas por cunho pejorativo, pu ti nha. Acho pouco provável que alguma de nós não tenha sido xingada de louca, quando falamos, quando cobramos o respeito que as nossas existências exigem.

Se eu puder colaborar com alguma frase nessa organização de movimento, será algo referente à loucura: se cobrar o respeito que nossas existências exigem é ser louca, prefiro a loucura do grito à lucidez da morte.

Por fim, (apenas por ora) quero agradecer imensamente às mulheres que me permitiram refletir em tempos de tantas mortes, físicas e subjetivas. Desejo que tudo aqui se amplie com todas as vozes, pois aqui e agora é extremamente necessário, e que possamos cada vez mais nos encontrar, conosco e com cada mulher, que muitas vezes mesmo sufocada nessa estrutura patriarcal, machista e misógina aceita aquele aceno de novas possibilidades de vida.

Imagem: Bruno O.

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Escrito por Expresso Periférico

2 thoughts on “O grupo das loucas (?)”
  1. Essa publicação me trouxe várias reflexões, que mulher sou eu nesse contexto? Qual a minha missão?
    Obrigada por este coletivo querer gritar aos 4 cantos do mundo sobre a defesa dos nossos direitos, nós existimos e pq não dizer ” com força” muita força!

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