A responsabilidade das mulheres é aumentada durante a pandemia, por Juarez Teixeira e Vicente Garcia.

Com a pandemia em crescente agravamento, que aponta para 300 mil vidas ceifadas, devemos ter muito cuidado com as pessoas para não se contagiar e não transmitir o vírus . Isso aumenta a responsabilidade das mulheres, na medida em que estas assumem muito mais compromissos do que os homens com os cuidados da casa e das pessoas.

Esta situação atinge seu auge com as mulheres trabalhadoras desempregadas que não dispõem de recursos essenciais para suprir as necessidades elementares próprias e de seus familiares. O governo (para ricos), e desgoverno (para os pobres), de forma intencional, ignora a gravidade da crise sanitária, desfazendo das orientações científicas. Confunde parte da população sobre uso de equipamentos de proteção individual e sobre o isolamento social. Retarda a compra da vacina e dissemina o descrédito popular quanto à importância da vacinação.

Além disso, cortou o auxílio emergencial de 600 reais e, só após pressão popular, pensa retornar o benefício de apenas 250 reais, o que não dá para cobrir nem as despesas fixas como água, luz e telefone, mesmo conhecendo o estado de calamidade que estamos vivendo.

Nesta situação, as mulheres foram as que mais perderam o emprego, tanto no trabalho formal como no informal.

Segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), até o terceiro trimestre de 2020, 8,5 milhões de mulheres tinham perdido o emprego. Com o agravamento da situação pandêmica, da crise política e econômica, esses números tenderam a crescer.

Se em 2019 a presença feminina no mercado de trabalho era de 51,1 em termos percentuais, isso desabou em 2020, caindo para 45,8%.

Soma-se a este fator a diferença salarial entre homens e mulheres que, segundo este Instituto, é em média 22% menor do que os homens desempenhando as mesmas funções.

Esta média salarial geral oculta diferenças gritantes quando se considera alguns estados, como Santa Catarina, onde as mulheres recebem até 75% menos do que os homens.

Com o agravante de que 75% dos trabalhos e dos cuidados, como lavar, limpar, cozinhar, zelar pelas crianças, são feitos pelas mãos femininas e não são remunerados.

A jornada de trabalho para a maioria das mulheres tem início e não tem fim. Pela manhã começa com os cuidados da casa e dos filhos e, ao retornar do trabalho fora de casa, recomeça tudo de novo, já pensando no dia seguinte. São as chamadas duplas e triplas jornadas de trabalho sem salário.

Outro impacto para as mulheres com a pandemia foi o chamado home office, trabalho à distância, que foi transferido para dentro de suas casas, através da internet, em várias áreas profissionais, destacando aqui as escolas públicas. A professora Sônia Vieira, do Grajaú – S. Paulo, (na live Comitê de  Lutas C.Ademar/Pedreira/Jabaquara) afirmou que 85% da rede é composta por mulheres e na rede privada o número ė ainda superior.

Com estas mudanças bruscas e sem o preparo e recursos para a nova modalidade de trabalho, são forçadas a desempenhar funções digitais na aplicação das aulas para a crianças. Crianças essas que na periferia não possuem equipamentos e nem sinal de internet de qualidade para acompanhar as aulas.

Para piorar a situação, mesmo com o mais alto número de pessoas sendo contaminadas e mortas, governos irresponsáveis (como o de São Paulo de João Dória e do prefeito Bruno Covas) estão forçando as aulas presenciais. Jogam, assim, as professoras, funcionárias, mães e familiares para serem contaminadas em escolas, sem as condições necessárias de higiene e saúde para o funcionamento.

Com o desemprego e com baixos salários, para quem continua trabalhando, as mulheres têm enfrentado a alta do custo de vida, principalmente dos gêneros alimentícios. No último ano o arroz aumentou 69,5%, o feijão 40,8%, o óleo 94,1% (fonte: IPEA, Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada).

Acrescentemos a isso os sucessivos aumentos de preços do gás de cozinha, energia elétrica, passagens de ônibus e outros produtos de consumo essencial .

Além de sofrerem com esses fatores, sofrem com a desvalorização do salário mínimo, que hoje está no valor de 1.100,00, sendo que, para sustentar uma família de 4 pessoas, este valor precisaria ser de 4.495,52 segundo o DIEESE (Departamento Intersindical de Estudos e Estatísticas de Estudos Socioeconômicos).

Imagem: Bruno O.

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Escrito por Expresso Periférico

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