Normalmente, a cada virada de ano, entre 31/12 e 01/01, são feitos votos de feliz ano novo e dado adeus ao ano velho entre familiares, amigos, conhecidos e até para desconhecidos. É a renovação de ciclo que serve para refletir sobre o que passou e planejar o que virá.

Entretanto, na história política recente do nosso país, nunca o desejo de deixar algo para trás e a vontade de receber o novo estiveram tão latentes. Isso foi percebido na posse no novo governo Lula, o seu terceiro mandato, após vitória acirrada numa das eleições mais polarizadas já vistas. Havia muito temor pela segurança dos participantes do evento e do próprio presidente, devido a ameaças de eleitores do antigo presidente, muitos acampados por meses em frente de QGs do Exército por todo o país, da escalada de violência nas rodovias que foram interditadas, nos atos dia 12/12/2022 (dia da diplomação do presidente e vice-presidente democraticamente eleitos), bomba colocada em um caminhão tanque próximo ao aeroporto de Brasília. Foram ações terroristas que deixavam claro o nível de fanatismo e radicalismo de grupos bolsonaristas, neofascistas que esperavam por uma intervenção militar (ou alienígena), um golpe comandado por seu “capitão” e que iria “salvar o Brasil do comunismo e impedir o Lula de subir a rampa”.

Ocorre que as instituições da democracia funcionaram perfeitamente, o então presidente fugiu do Brasil para os EUA e o novo governo assumiu sem nenhum incidente.

Foi uma posse realmente histórica. E linda! Com participação popular, pois caravanas saíram de todo o Brasil para acompanhar o evento, participação de delegações de um número recorde de países e com amor, alegria, esperança e arte, com a participação de dezenas de artistas nos shows do Festival do Futuro.

O cerimonial seguiu os ritos tradicionais, mas com o jeito Lula de ser. Enquanto muitos temiam pela segurança, Lula desfilou de carro aberto, junto com Janja, Alckmin e Lu Alckmin, acenando para o povo que delirava. Assinou o termo de posse e discursou no Congresso. Passou em revista às Forças Armadas. Subiu a rampa e discursou no Parlatório. Mas não foi tão simples assim, senão, não seria Lula. A fuga do antigo presidente e a sua negativa de entregar a faixa presidencial acabou proporcionando a oportunidade da cena mais importante e simbólica da posse. O presidente não subiu a rampa sozinho: junto com ele, estava a representação do povo brasileiro. Pessoas negras, indígenas e brancas, homens e mulheres, pessoas idosas, crianças, pessoas com deficiência, trabalhadores e trabalhadoras, a ancestralidade, o passado, o presente e o futuro estavam ali representados. Até Resistência, cadela vira-lata adota pelo casal Lula e Janja, estava lá. A simbologia de um país inclusivo. Claro que isso não é garantia de que o governo irá dar certo, mas voltamos a debater políticas públicas para a população mais vulnerável e isso ficou claro no discurso emocionado e emocionante feito por Lula no Parlatório, em que a preocupação com o abismo social do nosso país, com o racismo, machismo e outras opressões, o combate à fome e à miséria, a necessidade de fortalecer a teia de proteção social, com o fortalecimento dos serviços públicos, dentre tantos assuntos abordados pelo presidente, estiveram presentes.

É uma necessária mudança de horizonte depois de um período de abandono e destruição, de violência física e simbólica, de mentiras e ameaças constantes, enfim, de governo com inspiração e ações fascistas, que usou e abusou da violência e do medo como método político.

Agora é hora de esperançar e reconstruir, mas temos que ter os pés no chão, sabedores que não será fácil governar esse país depois desse período de destruição e com os neofascistas à espreita. O sucesso do governo Lula só será o sucesso dos anseios populares se o povo, as organizações populares, os partidos progressistas e os movimentos sociais governarem juntos, sem dar chances para o retorno da extrema-direita. Precisamos fazer da imagem inclusiva que simbolizou a posse a realidade prática do nosso país.

Imagem: Sergio Lima / AFP

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Escrito por Prof. Betinho

Roberto Bezerra dos Santos, professor Betinho, é formado em Letras pela USP e atua na rede pública de ensino desde 1996, sendo desde 2002 professor concursado de Língua Portuguesa no município de São Paulo e desde 2003 no município de Diadema. Ativista cultural, do movimento negro (Círculo Palmarino) e Hip Hop, é presidente de time de várzea (GRE Congregação Mariana). Facebook: professorrobertobetinho Instagram: profbetinho Twiter: profbetinho1973

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