Falar em mês das mulheres, de suas lutas sociais e por direitos iguais, conquistadas com suor, sangue e lágrimas, por Vander Bourbon

Falar em mês das mulheres, de suas lutas sociais e por direitos iguais, conquistadas com suor sangue e lágrimas, é reconhecer o seu protagonismo num mundo doutrinado pelo machismo.

O humor protagonizou também uma mulher guerreira que ganhou o respeito do mundo inteiro.

Criada pelo desenhista, pensador e historiador argentino Joaquín Salvador Lavado (17/07/1932- 30/09/2020), o cartunista mais internacional e mais traduzido da língua espanhola, surge a menina questionadora Mafalda, em 1962, para retratar a vida de uma família, em detrimento de uma publicidade de eletrodomésticos para a empresa Mandsfield, que, por essa sequência fonética, inspira seu nome.

O fato é que essa menina tinha outros planos e muito mais a contribuir com o mundo do que ajudar a vender eletrodomésticos.

Em 1964, ano de Guerra do Vietnã, do golpe no Brasil, da Guerra Fria, em que fervilhava a polarização do mundo, na Argentina, Mafalda se preocupava  com a humanidade e a paz mundial, se rebelando contra o estado atual do mundo, ou seja, é aquela criança que fala o que pensa, com uma visão bastante crítica sobre a realidade e deixa os adultos em situação embaraçosa. Compartilha, nesse mesmo ano, o gosto pelos Beatles, conjunto que se tornou tão revolucionário quanto Mafalda à medida que os anos se estendiam.

Além das questões políticas, em suas tiras, as questões raciais, consumismo e a defesa do meio ambiente são também muito presentes.

Fazendo uma análise textual desse conteúdo, vemos a filosofia aplicada como objeto de estudo, como uma possibilidade de proposta pedagógica baseada em contexto de poder, micro-poder, angústias, autenticidades. Mafalda divaga sobre questões reflexivas, sobre os rumos que deveríamos tomar e o resultado das ações implícitas na degradação do mundo, ampliando a capacidade cognitiva em lidar  e buscar soluções, causadas pela interferência das regras impostas que alteram o cotidiano social, agindo em desarmonia com o equilíbrio sustentável. No mais, Mafalda vive com os pais e pertence à classe média argentina, vai à escola, realiza brincadeiras normais de todas as crianças de sua idade e viaja com a família no período de férias. No entanto, esse seu senso crítico torna Mafalda uma das personagens mais fascinantes das histórias em quadrinhos. Ela se torna porta-voz de todas aquelas questões que seus leitores gostariam de ter coragem de externar ao mundo. 

As tiras de Mafalda encerram-se em 1973, com um total de 1928 publicações.

Apesar dessa decisão, Quino desenhou Mafalda ainda algumas pouca vezes, principalmente para  promover campanhas sobre os Direitos Humanos.

Em 1976, fez um pôster para a UNICEF ilustrando a Declaração Universal dos Direitos da Criança.

A obra foi editada em 16 idiomas e mais de 30 países.

Em 1979 foi lançado um filme da personagem com direção de Carlos Marques.

Na cidade de Buenos Aires existe uma praça chamada Mafalda.

Quino, o criador, é o alterego de Mafalda. Através das ideias da personagem, ele reflete a realidade de seu tempo, colocando em tiras suas angústias e imaginando soluções nem sempre fáceis para tentar quebrar paradigmas enraizados ao longo do tempo, refletidos em nossa história contemporânea. É a sensibilidade feminina presente na genialidade desse ser humano que gostaria de ver um mundo sem preconceitos, sejam eles por quaisquer motivos.

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Escrito por Expresso Periférico

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