“Nosso lugar não é no fogo ou no fogão, a nossa chama é a chama da revolução”.

Na manhã de domingo, 13 de março de 2022, com o céu encoberto, aos poucos elas foram chegando com tecidos coloridos, faixas, cartazes, panfletos e tambores plásticos para batucada em comemoração ao Dia Internacional de Luta das Mulheres. Dentro de alguns instantes, o espaço ficou decorado, estampando as palavras de ordem em defesa de seus direitos e contra a violência sofrida pelas mulheres. Isto ocorreu após vários encontros organizativos. Neste breve relato, você verá que foram sentidos laços ancestrais e um vínculo com lutadoras que não estão presentes fisicamente entre nós.

Quem passava naquele local, de grande movimentação aos domingos pela manhã devido a uma feira livre  tradicional que atrai uma grande quantidade de gente, tendo ao envolto a praça do Jardim Miriam, ao lado  Av. Cupecê, e do outro lado o Poupatempo, pode ver a manifestação  realizada pelas mulheres do Comitê de Lutas por Direitos de Cidade Ademar, Pedreira e Jabaquara, que congrega a Coletiva de Mulheres do Expresso Periférico, Marcha Mundial das Mulheres e diversos coletivos dessas regiões e partidos políticos de esquerda.

São mulheres trabalhadoras e de luta: mães, avós, tias, filhas, netas que se organizam para lutar contra a violência e as injustiças que são cometidas contra as mulheres. Além dos seus compromissos familiares, trabalho, o cuidado com a saúde física e mental, estudo, e mais diversas outras questões, elas destinam parte de seu tempo para participar das ações coletivas e ir às ruas e praças públicas convencer outras mulheres da necessidade de estarem juntas e organizadas, denunciar a violência que sofrem, o machismo, e exigir igualdade na participação política, na economia e salários iguais nas mesmas funções.

Dando início às atividades, foi apresentado o histórico do porquê do 8 de março, que teve seu auge em 1910, onde a revolucionário alemã Clara Zetkin, em uma conferência internacional socialista das mulheres, realizada em Copenhague, Dinamarca, apresentou a proposta de um dia internacional de luta das mulheres, onde seriam decretadas greves para chamar a atenção da sociedade sobres as demandas das mulheres e contra as extensas  jornadas de trabalho nas fábricas, que chegavam a 16 horas de trabalho em vários  países. Uma das grandes participações das mulheres foi na revolução russa de 1917.

Destacaram a importância de lembrar sempre que em 1910, no Brasil, foi um marco que representou um processo que já vinha sendo construído há décadas por várias mulheres negras, camponesas e abolicionistas. Em 1822, caminhava lado a lado com a luta abolicionista, tendo Harriet Tubman, uma mulher negra estadunidense, como referência.

Neste ato, elas se revezavam no microfone, dando ênfase à violência sofrida pelas mulheres dentro de casa por parte dos maridos e também da exploração que sofrem no lar porque as tarefas domésticas e cuidados com os filhos não são divididos por igual entre as partes, ficando a sobrecarga para o lado feminino. Sobre a participação nos movimentos de moradia e do Mova (Movimento de Alfabetização de Jovens e Adultas/os), elas são a maioria e na sociedade como todo também.

Como em outras atividades, o dinamismo entre elas neste ato era notável. Enquanto dividiam as falas no microfone, outras distribuíam materiais e conversavam com as pessoas que circulavam no entorno, esclarecendo sobre a luta das mulheres em busca de seus direitos. Explicaram ainda que o feminismo não é para oprimir os homens, como faz o machismo com relação às mulheres, mas sim, reparar o que lhes foi tirado e estabelecer novas relações justas e igualitárias entre todas e todos.

Falando de dentro pra fora e fora para dentro, enfatizaram a importância de olhar o que ocorre no território, nos bairros da periferia, no uso dos poucos serviços que existem, e que a entrada para ter acesso ao benefícios existentes é o CRAS (Centro de Referência da Assistência Social), entre eles o BPC (Benefício de Prestação Continuada), no qual as pessoas acima de 65 anos sem rendimento ou com deficiência têm o direito a receber um salário mínimo. Sobre os meios de defesa das mulheres, destacaram a lei Maria da Penha e a delegacia da mulher. Ressaltaram a importância dos cuidados com a saúde, fazendo exames e consultando as/os médicas/os nas unidades de saúde.

A arte musical, ao som da batucada, fez parte do evento, entoando o papel das mulheres: “Nem recatada ou do lar, mulher está na rua pra lutar” ou ainda: “Ó abre alas que as mulheres vão passar, com esta marcha muita coisa vai mudar. Nosso lugar não é no fogo ou no fogão, a nossa chama é a chama da revolução”. Em seguida, com som na caixa e uma bela dança, fizeram com que todas e todos e oxigenassem a estrutura física e mental e ficassem ainda mais energizadas para as lutas.

Findando o evento, se percebia uma conexão entre lutadoras desta região, que fisicamente não se encontrava mais entre nós, mas que se manifestou nas falas das companheiras, da organização deste ato, quando estas disseram: “ A revolução brasileira será conduzida pelas mulheres”.

As lutadoras em memória são: dona Palmira Abrantes; Cecília Ribeiro Fonseca (Mãe da Zuca Fonseca) e Aparecida Jerônimo, a qual foi vítima de feminicídio.

VIVA A LUTA DAS MULHERES!

Imagem: Zuca Fonseca

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Escrito por Juarez José

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