Foi pra isso que elegemos Lula? Para reconduzir, submissamente, a extrema direita ao centro do poder?

Lembro-me da Avenida Paulista lotada, a multidão clamando “Fora Temer” e protestando contra a destruição da Previdência e dos direitos trabalhistas.

Lembro-me do povo reunido no Vale do Anhangabaú, ainda antes das políticas privatistas da administração problemática de Ricardo Nunes, expressando sua oposição ao impeachment da Presidente Dilma.

Lembro-me de Guilherme Boulos no Largo da Batata, defendendo o ex-presidente Lula e lutando corajosamente contra sua prisão.

Lembro-me dos dias em São Bernardo do Campo, quando nossos companheiros enfrentaram destemidamente as forças lideradas por Sérgio Moro em frente ao sindicato, demonstrando sua disposição de lutar por Lula e pelas causas que ele representa. Foi um momento épico!

Lembro-me da multidão que carregou Lula nos próprios braços até o local onde ele se entregaria, e da dor, do choro e da revolta das pessoas em São Bernardo do Campo.

Lembro-me da grande manifestação na Batalha de Poá, quando acreditávamos que poderíamos reverter a decisão do TRF-4 sobre a prisão de Lula com uma mobilização massiva.

Lembro-me dos camaradas em frente à sede da Polícia Federal em Curitiba, mantendo a Vigília Lula Livre dia e noite.

O temor da ascensão do fascismo nas eleições não sai da minha mente, e continuo a relembrar todas as lutas que travamos para tirar o bolsonarismo do poder.

Lembro-me das promessas e acordos feitos durante a luta de 2022. Os líderes de esquerda prometeram ao povo que revogariam todas as medidas prejudiciais do regime anterior, incluindo a reforma da Previdência e os direitos trabalhistas. Prometeram fazer melhor do que as administrações de Lula e Dilma, incluindo a taxação real das grandes fortunas, uma reforma agrária efetiva, o aumento real do salário mínimo e um governo verdadeiramente inclusivo.

No entanto, o que estamos testemunhando hoje é o governo que elegemos se rendendo às pressões de Rodrigo Pacheco, Arthur Lira e do chamado “Centrão”. Vemos as forças de extrema direita ganhando espaço no coração do governo, o mesmo governo que ajudamos a eleger com muito esforço e dedicação.

Não elegemos Lula para trazer partidos como o PP e o Republicanos para o centro do poder. Não o elegemos para manter Roberto Campos Neto no comando do Banco Central em benefício do capital especulativo. Não o elegemos para desvirtuar a chamada Frente Ampla, pois nossa escolha foi por uma frente ampla de esquerda e progressista, não uma frente irrestrita.

Qual é o custo da governança? Diálogo ou capitulação? O diálogo é importante, mas não deve significar abandonar nossos valores e princípios. Quais valores e princípios? Os valores e princípios relacionados às promessas feitas aos eleitores durante a campanha eleitoral. Lula não foi eleito para ser refém do bolsonarismo disfarçado de “centrão”. Não foi eleito para se curvar e capitular.

Lula foi eleito para defender o povo e suas demandas com coragem e determinação, mas, infelizmente, parece que estamos longe desse ideal. As pesquisas de opinião que mostram uma queda consistente em sua popularidade deixam isso claro.

Parece que precisamos mudar o rumo dessa história, ou não teremos motivos para comemorar em 2024.

Imagem: Jorge Marques

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Escrito por Jorge Marques

PRODUTOR AUDIOVISUAL Militância: Comitê de Lutas por Direitos Cidade Ademar, Pedreira e Jabaquara. Expresso Periférico. Rádio Poste. CMP - Central de Movimentos Populares. PSOL e PT. MTST, MST.

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