Os impactos ambientais e sociais após a vinda das moradoras e moradores para o novo Conjunto Residencial Espanha. Por Aguinaldo Pansa, Juarez Teixeira, Mauro Castro

Éramos os tupis e guaranis
Antes da colonização
Destruíram nossas vidas
e roubaram nosso chão
Fomos substituídos
Pela chamada “civilização”.

Esta região do Jardim Apurá, formada por áreas de mananciais, que tinha em seu leito vários riachos e diversas nascentes de águas, as quais os povos indígenas chamavam de “Apuras” , que, depois, foi registrada com o nome de “apurá”, com um acento agudo no “á”, devido à dificuldade de pronúncia da proprietária, que era de origem alemã, e, ao fazer o registro do loteamento, deu uma entonação no final da palavra, fazendo com que o escrivão colocasse um acento na última vogal. Isto, segundo o seu Paulo Corretor, que presenciou o registro do imóvel.

Os primeiros loteamentos se formaram na década de setenta e, com esta denominação, criou-se o chamado Jardim Bandeirantes, numa  área chamada “Pilão”, nome de um francês chamado Jacques Pilão, que tinha uma chácara neste território (segundo Paulo Corretor). Seguiram-se os loteamentos acompanhados de ocupações irregulares, muitas delas margeando a represa Billings. Parte das famílias destas moradias foram deslocadas para o Conjunto Residencial Espanha, inaugurado em 2019, o qual será abordado neste levantamento com os moradores deste território.

Seja bem-vinda gente nova
Neste canto Represado
Cobramos do poder público
O que é sua responsabilidade
Equipamentos de serviços
Para atender à comunidade. 

A população do bairro que está em 13.742 habitantes (quadro informativo da Unidade Básica de Saúde da região) e praticamente dobrou com a chegada das novas e novos moradores do Conjunto Residencial Espanha, mas não foi construída nova unidade escolar. Então, fizeram um remanejamento das crianças do ensino fundamental I (1º ao 5º ano) para outras escolas da região, o que fez com que as mães e pais precisassem dedicar mais tempo para o deslocamento das crianças e pagar pelo transporte cada vez mais caro e sobrecarregado com a nova demanda, como relata o morador Nino Pereira, que agora precisa pegar duas lotações para levar seu filho para outra escola.

Para o atendimento à saúde, a população recém chegada foi encaminhada para outra unidade de saúde, no Parque Dorotéia, uma vez que o espaço da Unidade do Jardim Apurá não comportava a nova demanda de atendimento, segundo relato da dona Marta, que faz parte do Conselho Gestor de Saúde. Aponta ainda que a ideia de adquirir um espaço que suprisse toda a demanda de atendimento, cogitada anteriormente, parece que foi esquecida. Moradores reclamam de que está havendo mais demora para atendimento médico. Circulam informações de que a prioridade está voltada para a questão da pandemia.

A violência e a falta de segurança são pontos comuns de reclamações entre as pessoas entrevistadas e isso se torna ainda mais grave devido à ausência de políticas públicas para a juventude, como quadras esportivas , espaços culturais, parques, empregos e outros.

O Parque dos Búfalos é uma reivindicação antiga e mais que necessária para a população, mas vem sendo ignorada pelas autoridades, mesmo que este já constasse como parte do projeto de implantação do conjunto residencial.

Há esperança de que este saia do papel, como aponta a professora Sintia Ribeiro, que desenvolve atividade de lazer e cultura para crianças e adolescentes e tem planos para colocar em prática essa demanda, assim que passar a pandemia da COVID-19.

Houve um aumento da instalação de lojas comerciais na região e o aumento da procura, o que favoreceu alguns estabelecimentos comerciais, como o Bazar do José, que aumentou as vendas. Para as consumidoras e consumidores, houve uma melhora de produtos ofertados, como descreveu a dona Cleusa, que agora não precisa mais ir em locais distantes para fazer compras, como mercados e lojas de roupas.

No trato aos animais, tem- se observado um número crescente de cães soltos pelas ruas, embora isto já existisse, mas se percebe um aumento dos bichos abandonados, como aponta a moradora Nice, que tem todo um cuidado com os animais, fazendo comida para aqueles que aparecem em frente à sua casa. O desamparo aos indefesos, é notado nas redes sociais, onde são feitas postagens com “ cachorros soltos sem donos.”

O que era um grande sítio
Dentro da periferia
Transformou se em prédios
Deixando a nostalgia
As pessoas conquistando
O direito à moradia.

O impacto mais sentido e visível foi a alteração ambiental em relação à paisagem do que era e o que é atualmente, como aponta a moradora Luciana, que mora em frente a uma das glebas construídas: ”Antes da construção dos prédios, a gente desfrutava da visão de uma campo verdejante, árvores, pássaros fazendo algazarras com seus cantos e voos calmos e rasantes, o que não acontece mais”. Acrescente-se a esta descrição, o olhar do relator, que também é morador deste território, que viu e sentiu as máquinas adentrando à vegetação, aniquilando gafanhotos, grilos, espantando corujas, anus-pretos e outros viventes, além de cimentar o entorno da principal nascente de água.

Por outro lado, vê-se as famílias garantindo o direito à moradia, o que muitas vezes é negado pelos governantes que não priorizam, nem cumprem este direito fundamental e constitucional com a população. Não se vê mais os pássaros cantando, mas o som agudo dos gritos das crianças brincando nos espaços de lazer interno que foram instalados.

A GRANDE QUESTÃO É COMO RESOLVER OS PROBLEMAS DE MORADIA E A PRESERVAÇÃO AMBIENTAL.

Imagem: Google Maps

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One thought on “Jardim Apurá e o Residencial Espanha”

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