Chegada a São Paulo, sua história, muitas lutas e conquistas. Por Aguinaldo Pansa, Juarez Teixeira e Mauro Castro

Nesta 7ª edição do Expresso Periférico, a nossa entrevistada será a professora, educadora, lutadora e moradora do Jardim Apurá, Sintia Ribeiro.

Chegada em São Paulo, sua história, conquistas e muitas lutas.

Diante das injustiças sociais que levam setores da sociedade ao extremo de dificuldades, pobreza e violência contra as mulheres, que a inquietude da lutadora, Sintia Ribeiro vai à procura de recursos para ajudar e dar conforto a estas pessoas do Jardim Apurá e outras regiões.

Contornando a Represa Billings, o bairro mencionado está situado na zona sul de São Paulo e conta atualmente com 13.742 habitantes, de acordo com informe no quadro exposto na Unidade Básica de Saúde do local. A população quase dobrou com a vinda de novos moradores ao conjunto residencial Espanha, do Projeto Social Minha Casa, Minha Vida, a partir de 2019. Este é um bairro com muitas carências, tal como outros da periferia de São Paulo, uma vez que o poder público dá as costas para a população destes “cantões” da cidade.

Uma mulher de fala e olhar sereno
Batalhadora de sonhos e vitórias
Praticando ações de solidariedade
Têm sido marcas de sua trajetória
Com carinho vai nos agraciar
Contando a sua História.

Seguem agora as palavras da nossa entrevistada:

Meu nome é Sintia Ribeiro, tenho 47 anos, nasci em Itapetinga, Bahia. Sou mãe de dois filhos, Isadora e Ivo. Vim para São Paulo em 1989, morei em Diadema e, há 18 anos, mudei-me para o Jardim Apurá. Quando cheguei aqui, havia ainda muito mato nas redondezas. Depois de muito trabalho, consegui construir meu cantinho para que eu pudesse morar e finalmente sair do aluguel.

Sou professora, formada em Nutrição e Letras, com especialização em Africanidades, Inclusão Social e Mídias da Educação. Na área cultural, sou percussionista de grupos  de maracatu e samba de roda de poesia.

Atualmente, dou aulas na escola Francisco Alves Mourão. Quando morava em Diadema, comecei a participar em atividades de assistência às famílias em situação de vulnerabilidade, fazendo arrecadações de roupas e alimentos para serem distribuídas para estas pessoas. Trabalhei no Lar São José, com crianças que eram acolhidas por terem sofrido violências de ordem físicas e mentais.

Chegando aqui no bairro, criei a ONG Nega Odara Mulheres, na qual desenvolvo várias atividades voltadas para mulheres. Temos espaços para acolhimento e escuta generosa, quando alguém precisa relatar seus problemas. Ajudamos a enfrentar a questão da violência contra as mulheres, fazendo encaminhamentos para advogados e abrigos. Há também materiais de higiene para mulheres que fazem uso de substâncias tóxicas. 

Fazemos campanhas de arrecadação de alimentos para serem entregues às pessoas carentes. Por meio dessas doações, propiciamos uma iniciativa que garante o preparo de diversas marmitas solidárias, um alimento feito com amor direcionado às pessoas que estão com fome e que estão em situação de rua. Neste trabalho, também levamos cestas básicas a estas mesmas pessoas, pois mesmo que algumas destas estejam nessa condição, algumas conseguem cozinhar sua própria comida.

Além disso, no período de frio, pedimos contribuições para a compra de cobertores para que essa população possa se proteger da friagem. Para quem for doar o cobertor, sempre pedimos que estes estejam limpos e em condições de uso.

Sua sensibilidade acima do comum
Defende a vida e leva esperança.
Acolhe as pessoas adultas
É generosa com as crianças.

Desenvolvemos atividades de festas de ruas para crianças; no Natal fazemos arrecadação de brinquedos e até material escolar para quem não pode comprar. Além disso, damos formação inicial de percussão musical para as crianças. Entretanto, com a pandemia, tivemos que encerrar as atividades, mas assim que tudo isso passar, queremos recomeçar de novo e inclusive desenvolver estas ações lá na Mata Virgem e comunidade do Pantanal. 

Um dos problemas do Jardim Apurá é que não há espaços para nós, moradores, tais como parques, praças, quadras, locais nos quais seriam desenvolvidas as atividades culturais em nossa região. O único espaço que temos é uma pequena quadra esportiva que fica em frente à Unidade Básica de Saúde, a qual é usada para atender às demandas de saúde da população.

Esperamos que seja implantado o que foi prometido ao Parque dos Búfalos, espaços que ficaram nos fundos e na lateral do recém-construído Conjunto Residencial, e que haja toda estrutura e equipamentos para que possamos desenvolver tais atividades.

Sou ainda uma articuladora de questões culturais, participo do CAP (Coletivos de Cultura Cidade Ademar e Pedreira) e também do Fórum de Cultura de Cidade Ademar e Pedreira, que vem fazendo uma luta, desde 2013, exigindo a implantação de um espaço físico (Casa de Cultura de Cidade Ademar) para atuação deste grupo de cultura nesta região.

Também conservando minha ancestralidade, sou participante de religião de matriz africana, onde cuido de pessoas de forma religiosa e espiritual.

Um pouco da sua luta de vida
Tem muito mais pra se contar
Tocando seus tambores
Pra cantar e dançar
Acolhendo a quem precise
A sociedade se transformar.

Imagem: Sintia Ribeiro (Facebook/Acervo pessoal)

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