Histórias que se repetem. Por Juarez e Vicente

Devido à gravidade deste tema e a importância de levar informações às leitoras/es, o EXPRESSO PERIFÉRICO  tem dado ênfase a esta questão nos seus editoriais e colunas nacionais.

No Brasil, uma das maneiras dos ricos (ELITE) agirem contra os pobres tem sido através de golpes, usando a própria estrutura do estado, como ocorreu em 1964 e 2016. E isso é feito sempre com o objetivo de garantir a concentração de riquezas, poderes e privilégios a um pequeno grupo de indivíduos, geralmente pessoas brancas. E, por outro lado, impede que a população trabalhadora alcance alguma ascensão social e de cidadania para que possa se libertar das condições de pobreza e andar com as próprias pernas.

Nos anos 60, antes e durante o governo João Goulart (Jango), na sociedade brasileira estava ocorrendo uma intensa movimentação dos setores populares: movimentos operários, camponeses, estudantes, artistas, intelectuais e outros, no sentido de fazer as chamadas Reformas de Base: reforma agrária, educacional, política, administrativa e outras, como apontou o historiador Caio Navarro de Toledo no livro:  “O Governo Goulart e o Golpe de 64”.

Para impedir que essas mudanças ocorressem, a burguesia (classe que controla os meios de produção: terras, fábricas, bancos, comércio, ciência, tecnologia e meios de comunicação), juntamente com militares, se articulavam, com o apoio dos Estados Unidos, derrubaram o presidente João Goulart com um golpe de estado e implantaram um regime autoritário que duraria 21 anos, de 1964 a 1985.

Os golpistas da época diziam que faziam isso para combater o comunismo, defender a pátria, a família, os valores cristãos e a liberdade. Com isso, se estabeleceu uma ditadura com seus horrores: falta de liberdade, torturas, mortes, prisões, exílio, censura à imprensa e às artes, arrocho salarial, alta do custo de vida, inflação galopante que empobreceu ainda mais a classe trabalhadora.

Em 2016, a história se repete, agora num acordo envolvendo novamente as instituições do Estado – Supremo Tribunal Federal, militares, judiciário, com apoios empresariais, como da Federação das Indústrias de São Paulo (FIESP), meios de comunicação comerciais, com cobertura pró-golpe 24 horas por dia, que além de construir narrativas negativas contra a presidenta Dilma Rousseff, convocou a população para manifestações de rua. Neste caso, o braço do Estado para cumprir o jogo sujo não foi os militares, embora estes fizessem parte do acordo. Todo mundo junto, conforme disse Romero Jucá na época. Dessa vez, seria usado o parlamento: deputados/as  e senadoras/res  dos partidos de direita.

Neste novo golpe, o discurso da classe rica era o de combater a corrupção, a inflação e pedaladas fiscais, mas o interesse intencional e não dito era o de  tirar o que a classe trabalhadora havia conquistado nos últimos 100 anos, com a mudança da CLT (Consolidação das Leis Trabalhistas), retirada do direito à aposentadoria, congelamento dos investimentos públicos em saúde e educação, ataques às políticas públicas de inclusão social e na tentativa de frear uma crescente conscientização e organização dos movimentos feministas, consciência negra, LGBTQIA+, de moradia, culturais e outros.

O golpe dado em 2016 e a operação LAVAJATO  possibilitaram a eleição do  “Charlatão Cloroquina Bolsonaro”, como muitos o chamam, devido à indução de medicamentos sem eficácia para combater a COVID-19 e a falta de compra da vacinas, que já causou a morte de milhares de pessoas e continua tirando vidas. Esse personagem trágico na presidência da republica é tolerado pelas elites por ser de posição social e política de direita, que além de aprofundar as desigualdades sociais, busca poderes absolutos com o fechamento  de outras instâncias de poder, como tem sido divulgado pelas redes sociais e mídias progressistas. 

O charlatão, que entrou no exército em meados dos anos 60 (Folha de São Paulo, 1º de jan, 2019), período em que o Brasil estava submetido a uma ditadura, desde o golpe de 64, traz consigo a formação do atraso e o desejo de plenos poderes, e isto foi tentado no 7 de setembro, quando convocou  seu pares para manifestações antidemocráticas. Isso não se concretizou porque ele não conseguiu força suficiente para tal e devido à pressão contrária da sociedade. Com a orientação de outro golpista (Michel Temer), houve um recuo, que não se sabe até quando vai durar.

Voltando à pergunta do título desta matéria: se a classe que controla os meios de produção (burguesia) perceber que está havendo um maior engajamento político  e conquistas econômicas pela classe trabalhadora, esta usa os aparelhos do estado e dá golpes para impedir que esta ascensão continue crescendo. Diante disso, resta à classe que trabalha se organizar e edificar um projeto popular de nação, tendo claro que é necessário construir força para tomar o Estado, – conforme ilumina a ciência marxista – e o colocar a serviço da grande maioria do povo que produz as riquezas do país e assim evitar que os golpes contra o povo continuem  acontecendo.

Imagem: Bira Dantas

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Escrito por Expresso Periférico

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