Nestes tempos de tanta dor, insegurança e desespero, a chama de velas acesas tem sido, em muitos momentos, sinal de comunhão, acolhimento e resistência. Por Marcha Mundial das Mulheres – Núcleo Sudeste

A falta de políticas públicas afirmativas e assertivas em tempos de pandemia e isolamento social vem afetando a rotina e a vida de toda a classe trabalhadora, mas sabemos bem que, para as mulheres, a carga, que sempre foi mais pesada, ganhou peso extra.

A necessidade de lutar pela vida acabou virando uma demanda diária, diante de tantas vítimas da COVID-19 e através das ações da Marcha Mundial das Mulheres, nossas convidadas para a matéria dessa edição, podemos compreender que as velas acesas em sinal de respeito à dor de todas e todos, em memória aos que se foram, ao sentimento de luto deve despertar em cada uma e cada um de nós; a coragem para se engajar na luta permanente para destruir a estrutura da nossa sociedade tão desigual.

AÇÃO DAS VELAS – MEMÓRIA, LUTO E LUTA

Nestes tempos de tanta dor, insegurança e desespero, a chama de velas acesas tem sido, em muitos momentos, sinal de comunhão, acolhimento e resistência.

Assim como outros militantes autônomos e movimentos sociais, a Marcha Mundial das Mulheres vem realizando atos com velas acesas em memória das vidas que perdemos pela COVID-19 e em denúncia da ação irresponsável e premeditada deste governo genocida de Bolsonaro em relação ao combate ao vírus, não viabilizando as vacinas com a rapidez necessária e ainda boicotando e fazendo “campanha” contra as medidas sanitárias tão necessárias e definitivas durante a pandemia.

Entendendo que as ações conjuntas e no interior das regiões, ao lado de nosso povo, são fundamentais, a Marcha Mundial das Mulheres e os movimentos sociais da região como a Coletiva de Mulheres do Expresso Periférico, a Rádio Poste, o Centro Frei Tito e o Comitê de Lutas por Direitos de Cidade Ademar, Pedreira e Jabaquara se uniram e organizaram o potente ato que ocorreu em 20/08/2021 e que trouxe a Ação das Velas e a distribuição de máscaras para a população e para o conjunto das atividades que já ocorrem a cada 15 dias na Praça do Jardim Miriam.

Ação realizada na escadaria do Santuário São Judas Tadeu (Jabaquara – São Paulo/SP)

A sociedade brasileira precisa dar uma resposta diante da morte e, falando da morte e da dor, também buscamos respostas para a vida e a luta. Mortes ocasionadas por um vírus que já tem vacina e que em grande parte poderiam ter sido evitadas. Mortes que tem endereço, gênero, raça e classe, pois atingiram com violência trabalhadoras e trabalhadores moradoras e moradores de nossas periferias e em sua maioria mulheres negras, com trabalhos mais precários e menos remunerados. Não à toa, a primeira morte registrada por COVID-19, no Rio de Janeiro, foi da empregada doméstica Cleonice Gonçalves, de 63 anos, nem que todos os dias, famílias inteiras passam a ter a rua como sua casa e, também, não é à toa que os povos indígenas e originários têm sofrido e morrido tanto.

Pessoas perderam seus entes queridos, tiveram suas vidas destroçadas e estão chorando seus mortos por falta de uma ação coordenada do governo federal. Para além da COVID, temos a fome, o desemprego, a falta de moradia e a violência por conta de um governo que, ao invés de promover e implantar medidas para ao menos apaziguar o sofrimento de nossa gente, permite que o custo de vida fique cada vez mais alto e ainda ataca, ostensivamente, direitos e proteção social que temos. 

Pesquisas recentes comprovam o abismo social em que vivemos. Dados do Dieese – Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos, de abril de 2021, indicaram aumento no preço da cesta básica em 16 capitais brasileiras em relação a março deste ano e em São Paulo, cidade com maior aumento, o custo ficou em R$ 556,25, com alta de 7,28%. A Rede Penssan – Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional – nos traz o dado de que a fome atingiu 19 milhões de brasileiros na pandemia em 2020 e que eles estão entre as 116,8 milhões de pessoas que conviveram com algum grau de insegurança alimentar no Brasil nos últimos meses do ano, o que corresponde a 55,2% dos domicílios brasileiros, ou seja, mais da metade dos lares no Brasil. Segundo o IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, a taxa de desemprego apurada hoje é de 14,1%, com um total de 14,4 milhões de desempregadas (os) e de 5,6 milhões de “desalentadas (os)”, ou seja, pessoas que desistiram de procurar emprego porque não tem esperanças de encontrar.

Neste cenário assustador e desconcertante, atos como o das velas acesas são Atos Políticos de Memória e Resistência, onde é preciso defender as palavras de ordem “vacina no braço, comida no prato e fora, Bolsonaro!”. São atos simbólicos que não reúnem muita gente e permitem que sejam tomados os cuidados para que não haja aglomerações e infecção pelo novo coronavírus. São momentos no seio de nossas comunidades, espaços de comunhão e luta, acolhimento e resistência, pois resistimos para viver e marchamos para transformar!

Marcha Mundial das Mulheres – Núcleo Sudeste

“Mudar o mundo e mudar a vida das mulheres em um só movimento. Igualdade para todas. Fortalecimento de espaços coletivos das mulheres: populares, autônomos e diversos. Ações com criatividade para enfrentar o capitalismo patriarcal, racista e lesbobifóbico. Construção de alianças com os movimentos sociais em luta para transformar o mundo. Vincular o trabalho permanente em âmbito local com os temas e processos globais. Solidariedade e internacionalismo. São estas as principais características que levaram à construção da Marcha Mundial das Mulheres como um movimento permanente no Brasil e em todo o mundo.”  (http://www.marchamundialdasmulheres.org.br/a-marcha/quem-somos/)   

Imagens: Eduardo Pacheco

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Escrito por Expresso Periférico

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