Arte e cultura na porção de saberes, construindo possibilidades. Por Mauro Castro e Prof. Betinho

Numa tarde de sábado, provavelmente  final de 2014, um grupo de companheiras e companheiros de vida e de luta de Vicente Garcia, o Vicente Espanhol, reuniu-se no CEU Caminho do Mar e se somou num marcante e singelo encontro para lançar o livro escrito pelo militante metalúrgico, operário do chão de fábrica que, na oportunidade, nos presenteou com sua fabulosa coletânea de crônicas reunidas no livro “DE ALMA ABERTA: crônicas libertárias sobre a vida e o chão de fábrica”. Foi a primeira semente do que, no ano seguinte, seria o 1º Encontro Literário.

O lançamento do livro, escrito a partir do olhar atento ao drama cotidiano percebido por um operário, foi num encontro regado por falas potentes e brilhantes leituras conduzidas por Angélica, filha de Vicente e Terezinha, e ao som do poeta, compositor e intérprete José Antonio Carvalho, o Carvalho.

É nesse distante 2014, recuperado com determinação organizativa em 2015, que, durante meses, construímos, em muitas reuniões no Centro Frei Tito, a proposta do 1° Encontro, efetivado a 3 de outubro de 2015. Agora, o Encontro Literário foi sendo moldado em homenagem ao nosso grande camarada e referência inquestionável de luta José de Rezende Ribeiro que, infelizmente, foi mais uma vítima da brutalidade presente no trânsito em São Paulo.

Podemos considerar esse Encontro como a segunda semente lançada, pois, ao homenagear e resgatar o profundo significado para as lutas populares representada na figura do Rezende, ele  também emprestou seu nome à biblioteca e, posteriormente, à EMEF do CEU Caminho do Mar. Foi, portanto, a pavimentação definitiva dessa sequência de Encontros que assumiu definitivamente o sobrenome #CaiuNaRedeÉCultura e, hoje caminhando para a 6ª edição, evidencia cada vez mais que a arte e a cultura são canais libertadores, onde o saber coletivo se revela potente, por mais individual que o saber artístico possa parecer.

Agora, em 2021, o Encontro Literário segue em sua marcha a caminho de mais uma edição, entre os dias 25 de setembro e 10 de outubro. Se nas 4 primeiras edições o CEU Caminho do Mar foi o palco principal das atrações artísticas e culturais, em 2020, devido à pandemia da COVID-19, a 5ª edição do Encontro foi basicamente virtual, com atrações online exibidas via live do facebook. Nessa 6ª edição, ainda sob forte impacto da pandemia, mas com o avanço da vacinação e a expectativa da melhora do quadro pandêmico, um modelo híbrido deverá ser usado, com boa parte da programação ainda virtual, mas com algumas apresentações, mesmo que tímidas, presenciais, como exposições e colagens de lambes poéticos, entre outras atividades, por exemplo. Oportunidade de visibilizar saberes artísticos, produtoras e produtores culturais  que percorrem múltiplas linguagens, mostrando a potência da Cultura produzida no território de Cidade Ademar, Pedreira, Jabaquara e ainda Diadema, com parceiros e parceiras que transitam artisticamente por esses territórios, sem respeitar suas bordas.

São anônimas e anônimos que, na labuta diária, encontram brechas e enfiam cunhas para produzir e encantar corações e mentes  com densidade e leveza no ato de produzir. São artistas, coletivos, escolas, ONGS, parceiros e parceiras das mais diversas estirpes da produção cultural e que, no decorrer dos vários anos, passam das centenas, enquanto passam dos milhares os que puderam contemplar como público, as mais diversas apresentações.

É  a resistência à indiferença de uma construção assimétrica que percorre nossa sociedade e, tragicamente, busca tornar a potente produção periférica marginal para que não se reconheça. Contudo, a vida dura periférica descortina possibilidades que são  abraçadas e ressignificadas, traduzidas nas mais diversas linguagens artísticas. Como diz José Martí, em frase presente na história do #CaiuNaRedeÉCultura: “Nenhum povo é dono do seu destino se antes não é dono da sua cultura.” É o povo lindo, povo inteligente e sedento de arte buscando as rédeas de seu destino.

Encontramos também amparo para envolver os jovens e adultos da EJA, a juventude e as crianças na rede pública de educação que, ao longo da caminhada, projeta ainda mais o quanto a educação pública e o corpo profissional que a conduz é referência  para forjar uma sociedade profundamente comprometida com a arte, a cultura e a valorização da vida. Parceiras essenciais do Encontro Literário, as escolas mostram a potência latente da parceria entre educação e cultura, essenciais na luta pela construção de uma sociedade mais justa, humana e solidária. 

Imagens: Divulgação/Encontro Literário

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