Sobre a despedida de um camarada

Estive no velório e cremação do Camarada Celso Horta, cerimônia simples, porém muito linda, com direito a cantar e ouvir a Internacional, ocasião raríssima onde, diante de uma fatalidade, tivemos a oportunidade de encontrar tantas e tantos lutadores do povo reunidos em um só lugar para homenagear o grande Camarada Celso Horta e, sobretudo, os que lutaram ombro a ombro em armas contra a ditadura civil militar que tomou de assalto o país em 1964.

Tive o prazer de conhecê-lo pessoalmente e sua filha Joana, que tem um trabalho muito bom no sertão da Bahia chamado ELAS, voltado à educação sobre comunicação. Ela conhece e acompanha o nosso trabalho no Expresso Periférico a partir do momento que o Celso esteve por aqui para nos dar significativas contribuições no projeto de construir de um veículo de comunicação com as características que temos no território. Foi, também, nessa oportunidade que ele me falou sobre o trabalho de sua filha.

Minha proximidade ficou atravessada por um longo período de distanciamento, mas, por conta da Escola de Cidadania e Expresso Periférico, tive a felicidade de reencontrá-lo. Mas acho importante relatar aqui de onde vem essa grata proximidade. 

Celso não é uma daquelas amizades que tive que se concretiza e cria vínculos de se ver sempre. O meu contato com ele inicia-se no processo de construção da articulação dos 113, seguimento que se tornou majoritário dentro do Partido dos Trabalhadores, num espaço na Praça Benedito Calixto. Depois desse breve momento em que aprendi o que tinha sido a ALN (Ação Libertadora Nacional – grupo de combatentes que resistiu à ditadura civil-militar) da qual o camarada Celso participou ativamente fazendo parte do GTA – grupo tático armado. A velocidade e desdobramentos nas atividades de massa e partidárias no território e em viagens ao interior de São Paulo para a construção do PT me afastou das articulações mais internas do partido e também dos relacionamentos que começavam ali. Por essa distância, não sei de detalhes mas de flashes da trajetória do grande Camarada Celso: sua atuação no Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo; criação um jornal no campo popular em São Bernardo, o ABCD MAIOR.

Volto a me encontrar com ele e conversar só pouco antes da pandemia, que foi um marco para todas as pessoas. Nossa reaproximação foi intermediada por um outro velho conhecido meu e também ex-ALN, que o indicou para nosso projeto de abordar, numa das aulas da Escola de Cidadania de Cidade Ademar e Pedreira, coletivo do qual participo, o tema assassinados e torturados pela ditadura militar da década de 1960 e o genocídio da juventude periférica. Imediatamente o Camarada Celso topou e nos proporcionou uma aula muito boa, com informações preciosas que manteve a atenção de todas e todos presentes diante daquele arquivo vivo e vibrante, que se pode resumir numa frase conhecida por todas e todos que o conheciam: “foi o momento mais rico que vivi, abraçar a luta armada como caminho.”

Depois disso, convidamos o Celso a participar da construção do jornal Expresso Periférico que, a princípio, seria físico para distribuição e motivador de diálogo com a população, mas a pandemia barrou o processo, então partimos para o virtual. Estávamos já pensando e inclusive articulando uma retomada nas conversas, mas as mazelas do tempo novamente nos tiraram essa possibilidade com a partida do Camarada, lutador do povo brasileiro, fora do horário combinado… Um ser humano só morre se não tiver deixado História e ensinamentos de transformação.

Celso Horta PRESENTE! PRESENTE! PRESENTE!

Fotografia: Reynaldo Morano (1975)/Reprodução

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Escrito por Aguinaldo Pansa

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