O racismo é uma praga que precisa ser destruída já!

Em primeiro lugar, é necessário deixar aqui a nossa solidariedade ao atleta Vinícius Júnior, jogador de futebol do Real Madrid e da seleção brasileira, vítima de reiteradas manifestações racistas na Espanha. 

O último acontecimento, datado do domingo dia 21/05/2023, com gritos racistas, xingamentos, cenas deploráveis e a expulsão do atleta no final da partida após sofrer uma “gravata” do jogador do Valencia CF, durante o jogo entre Real Madrid e Valencia, no estádio Mestalla, na Espanha, suscitou um grande e necessário debate sobre o tema aqui no Brasil e em outros países. Inclusive, com atraso, na própria Espanha, em que as autoridades vinham tratando os ataques ao jogador como casos isolados, exageros ou até mesmo culpando o próprio Vinícius pelos ataques sofridos. Ou seja, culpar a vítima pelas agressões sofridas parece ser o tratamento dado lá na Espanha também, assim como vemos muitas vezes por aqui. Entretanto, parece que, dessa vez, devido à grande repercussão, com declarações de ministros do estado brasileiro (pelo menos 3 se posicionaram publicamente: Anielle Franco, Flávio Dino e Sílvio Almeida), a a forte declaração do presidente Lula, as  autoridades espanholas resolveram agir.  A polícia já realizou até algumas prisões de torcedores por crimes de ódio contra o jogador. Mas há muito a ser feito ainda.

O racismo é uma praga que infelizmente persiste em nossa sociedade e, em tempos de fortalecimento da extrema-direita no mundo, acaba ganhando força. É perceptível em diversos casos de ofensas e injúrias raciais, pessoas que perderam a vergonha de se exporem publicamente nas ruas ou nas redes sociais, mesmo diante da  equiparação do crime de injúria racial ao crime de racismo no nosso país. Sabemos que a desumanização das pessoas negras é histórica e afeta a sua autoestima desde cedo, em todos os espaços sociais e institucionais. O futebol, cuja origem e chegada ao Brasil tem forte conotação racista e excludente, acaba virando palco privilegiado para manifestações racistas na atualidade. O futebol surge de uma elite financeira branca, onde negros, mulheres e brancos pobres trabalhadores não eram bem-vindos. Conforme o tempo passa, esses excluídos vão ocupando seu espaço no esporte, a ponto de assumir o protagonismo. Mas, não vamos nos enganar: homens negros servem muito bem de pé-de-obra no esporte, como trabalhadores mesmo, visto que não é comum vermos negros e mulheres, salvo raras exceções que apenas comprovam a regra, em postos de destaque e comando fora dos campos; quantos dirigentes, presidentes de clube ou diretores negros você conhece? Quantos treinadores? Quantos médicos chefiam ou participam dos departamentos médicos dos clubes? Leve essas mesmas perguntas a outros esportes que você conhece e veja se as respostas se alteram.

O fato é que, apesar de muitos avanços conquistados na luta da população negra, ainda estamos longe de uma sociedade racialmente justa, com representatividade efetiva e verdadeira democracia. Faça o teste do pescoço nos lugares em que você frequenta. Vire o pescoço e veja quais as posições ocupadas por negros e negras nesses espaços. Será natural o que você verá? E onde estão aqueles negros e negras que poderiam ser referência para nossos jovens? Por que foram invisibilizados no processo histórico?

Temos atletas negros de destaque em praticamente todos os esportes. Mas, assim como nas demais áreas da sociedade, jovens negros têm seu espaço de oportunidades limitado devido ao racismo estrutural que permanece cerceando as possibilidades de escolha desses jovens. As injúrias e os xingamentos são apenas a ponta desse iceberg racista e nem mesmo casos óbvios, com provas evidentes, são solucionados com punições exemplares. E por quê? Basta olhar com atenção a estrutura das instituições da justiça. Quem opera a justiça são negros e negras, que conhecem na pele as mazelas causadas pelo racismo? A resposta é óbvia: NÃO! Nem aqui, nem na Espanha. Por isso que os casos se acumulam sem solução e sem punição para os racistas, que se sentem à vontade para continuar cometendo seus crimes.  Enquanto isso,  perdemos toda uma geração de jovens talentosos que poderiam ocupar diversas profissões, inclusive para além do esporte e das artes (áreas em que negros e negras já costumam historicamente se destacar) para a violência policial, para o crime, para a fome, para a miséria, para a violência institucional e de estado. O genocídio da juventude negra e a faxina étnica continuam a todo vapor aqui e em outros lugares, como na Espanha do Vini Jr.

A luta antirracista não é uma luta de negros e negras. Deve (pelo menos deveria) ser uma luta de toda uma sociedade que se reivindica civilizada. Não foram os negros e negras que inventaram o racismo. Esses lutam desde sempre contra esse sistema opressor. Como diz Angela Davis, “Numa sociedade racista, não basta não ser racista, é preciso ser antirracista!” E para ser antirracista, apenas hashtags e notas de repúdio não bastam. Precisamos de ações. Ações relacionadas à educação antirracista nas escolas, nas instituições, nas empresas e punição exemplar para as manifestações e ações racistas individuais ou coletivas, além da mudança da estrutura social da exploração do homem pelo homem em que alguns grupos se consideram  mais humanos e dignos que outros. O pacto tácito da branquitude precisa ser quebrado urgentemente, para o bem de toda a humanidade!

Imagem: Elineudo Meira

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Escrito por Prof. Betinho

Roberto Bezerra dos Santos, professor Betinho, é formado em Letras pela USP e atua na rede pública de ensino desde 1996, sendo desde 2002 professor concursado de Língua Portuguesa no município de São Paulo e desde 2003 no município de Diadema. Ativista cultural, do movimento negro (Círculo Palmarino) e Hip Hop, é presidente de time de várzea (GRE Congregação Mariana). Facebook: professorrobertobetinho Instagram: profbetinho Twiter: profbetinho1973

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