O comércio popular e a sobrevivência de trabalhadores que foram expurgados do mercado formal e jogados na informalidade

O comércio popular e a sobrevivência de centenas de trabalhadores que foram expurgados do mercado formal e jogados na informalidade.

A origem das feiras livres encontra-se num passado remoto onde, segundo alguns especialistas, datam de, até,  500 a.C., tendo sido no Oriente Médio o  local das primeiras feiras para negociar e trocar produtos agrícolas e abastecer diferentes aglomerações que ainda não possuíam estrutura formal de distribuição.

Outros, porém, atribuem a ocorrência, de maneira mais evidente de feiras, a partir da Idade Média. As feiras estavam dentro das festividades religiosas: religião e comércio de braços dados!

A palavra feira tem sua origem no termo feria, que significa dia Santo ou “feriado”– reunião  em locais públicos para vender produtos artesanais que, gradativamente, sofreu a interferência do poder público para disciplinar, fiscalizar e, sobretudo, cobrar impostos.

Feiras livres em São Paulo.

No sítio da prefeitura de São Paulo, encontramos um breve histórico das primeiras feiras livres de São Paulo, às quais datam de meados do século XVII, somando, no ano de 1915, sete feiras.

Hoje, segundo publicação da prefeitura, somam mais de 800 que funcionam formalmente, cumprindo um determinante papel para abastecer a população, principalmente das áreas periféricas dessa gigantesca Cidade.

São as feiras que, em grande parte, distribuem os produtos da agricultura familiar, numa combinação que possibilita escoar a diversidade  produzida no chamado cinturão verde, como também facilita,  para milhões de famílias da periferia, o abastecimento de alimentos a um custo relativamente acessível.

Temos, por exemplo, feiras como a da Liberdade, que é referência na culinária oriental e outras tantas que se consolidaram em torno de diversas comunidades de imigrantes. 

Aqui, em nossa região, tínhamos uma área que era destinada exclusivamente à instalação da feira, localizada na Cidade Ademar. O espaço foi requisitado para ser construído o piscinão número 2, onde surgiu a atual praça Lígia Salgado, sendo a feira deslocada, de maneira inadequada, para as ruas laterais. Além da feira de Cidade Ademar, temos as feiras da Vila Joaniza, Casa Palma, Praça do Acuri, Vila Santa Catarina e Igreja São José,  que acontecem aos domingos. Na quarta-feira temos na Cidade Ademar e Brás de Abreu e, no sábado, temos na rua Luís Stolb, que funcionou até o início dos anos 2000 na Av Santo Afonso, sendo deslocada por conta do condomínio Residencial Santo Afonso.

Todavia, a feira mais importante, mais tradicional e representativa da região, é a feira do Jardim Miriam. Ocupando totalmente a praça e grande parte da Av Ângelo Cristianini, acontece desde o início da década de 1960, quando era um verdadeiro “supermercado” a céu  aberto, vendendo  a granel e oferecendo concorrência às  poucas mercearias distribuídas pelo território.

A feira do Miriam também consolidou-se como ponto de encontro: do pastel, da roupa, utilidades diversas, do porco e do rolo.

É a feira que foi contida e espremida quando a delegacia de polícia  tomou o campo de futebol, reduzindo os poucos espaços destinados ao lazer, numa demonstração de absoluto descaso por parte do poder público que, para viabilizar segurança, comprometeu um espaço que, historicamente, destinava-se a práticas esportivas.

Essa condição ímpar da feira é a mais cabal evidência do trabalho  precarizado, da informalidade extrema e descapitalizada de grande parte da  população que sobrevive do pouco que consegue  vender ou  trocar. É, sem dúvida nenhuma, a tolerância do empreendedorismo capenga que vende a ilusão de que “ de grão em grão” é possível superar a indigência a que parcelas significativas da população está submetida e mal consegue “vender o almoço  para comprar a janta”.

É a  “feira do rolo”, mas é, sobretudo, a feira que revela na essência, como as desigualdades extremas se fazem presentes, em que pese o encanto e a solidariedade na distribuição do espaço. A música que sai de improvisados aparelhos de som e se misturam com roupas surradas e bonecas desfiguradas que são oferecidas à população que vende, compra e troca o pouco que têm.

É  na feira do Jardim Miriam que centenas de vendedores informais ocupam a praça, o entorno e, agora, avançando pela Av. Cupecê, disponibilizam para comercialização toda sorte de quinquilharias. Com  uma variedade impressionante, nos remete às tradicionais feiras nordestinas onde absolutamente tudo é negociável, inclusive, na forma de escambo.

Imagem: Aguinaldo Pansa

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