O lugar insurgente ocupado pela mulher preta periférica que atua nas lutas históricas por direitos, transformando vidas e território.

Sou Naná Roots by Nair Omena da Costa, Presidente do Instituto ReggArte, compositora, vocalista, selecta, locutora da rádio web Point do Reggae de Salvador – dando voz e vez à mulher, programa Ômega Sing Songs. Trabalho com a cultura inclusiva PCD/ Pessoa com Deficiência desde 2013, quando fui conselheira no Conselho Municipal da Pessoa com Deficiência (CMPD) de São Paulo e onde atualmente sou integrante do grupo de trabalho. Sou ativista integrante do Movimento Cultural das Periferias de São Paulo e Líder do Gerando Falcões.

Filha de nordestinos que vieram para São Paulo em busca de uma vida melhor e se instalaram na região sul para ocupar as vagas que os paulistanos não queriam, apresentadas pelas metalúrgicas e multinacionais na região do ABC nos anos 60. Para suprir a necessidade de mão de obra, ofereciam empregos para os migrantes. Com isso, a região sul cresceu de forma desordenada, sem infraestrutura, muitas famílias morando sem saneamento básico, asfalto, água potável, educação, transportes, saúde e etc, surgindo assim muita violência e, ainda hoje, é uma região degradada.  

Meus pais se instalaram em Americanópolis, uma região de alta vulnerabilidade social, onde criaram seus 10 filhos, nascidos todos nesta região.  Aos meus 14 anos, a arte fazia parte de minha vida, backing vocal e dançarina do Trio do Nordeste, banda que meu pai era compositor e tocava triângulo, tinha um sanfoneiro e um zabumbeiro e duas dançarinas. Devido a jornada de trabalho e a necessidade de cuidar da família meu pai desiste de seus sonhos, mas a arte ficou em mim. Eu também acompanhava meu tio nas noites paulistanas, ele era Dj da black music, eu amava dançar samba-rock, floriado. 

Descobri que tenho uma doença rara (fibrose cística), hereditária, proveniente da miscigenação. Tenho dois filhos e quando do nascimento do meu poeta minha vida deu um giro de 180º, ele nasceu com múltiplas deficiências e por 6 anos lutamos pela vida. Depois disso, tive que me reencontrar e voltei para a arte. 

Nossa jornada começou em 2010, durante um inverno rigoroso na cidade de São Paulo. As baixas temperaturas nos despertaram a preocupação com nossos irmãos que vivem desprotegidos nas ruas. Diante desta situação, não ficamos parados. Promovemos um show beneficente para arrecadar roupas para os moradores de rua, conseguimos unir pessoas que também buscavam semear amor e solidariedade que fortaleceram nossa arrecadação. Estamos em uma região de alta vulnerabilidade social, Americanópolis, que, segundo o último senso, conta com 28 favelas. A partir daí, fomos nutrindo essas ações, transformando-as em parte da nossa rotina e não mais ações periódicas.

Em 2013 como conselheira do Conselho Municipal da Pessoa Com Deficiência nas pastas de esporte, lazer e cultura, tive acesso à cultura inclusiva PCD e às necessidades e direitos das pessoas com deficiência. Lutamos pela LBI – Lei Brasileira de Inclusão. Comecei a trabalhar com cultura PCD, com a dança de cadeira de rodas.

Em 2018 montamos a casa ReggArte e passamos a oferecer aulas gratuitas de reforço escolar, violão, artes plásticas, capoeira, inglês, balé, street dance, dança do ventre, dança de cadeira de rodas, samba-rock, musicoterapia, canto-coral e corte e costura. Nosso trabalho de inclusão, desenvolvimento e aprendizagem, utiliza diversas linguagens artísticas. A arte pode transformar vidas! Com o objetivo de atender a Lei Brasileira de Inclusão no artigo 3 e incisos X, XI, XII, XIII, XIV, sendo a 1ª residência social, terapêutica, cultural, esportiva, musical, artística e inclusiva PCD, as residências inclusivas prestam atendimentos a crianças, jovens e adultos com deficiência em situação de dependência e de alta vulnerabilidade social.

Atualmente as pessoas com deficiência conseguem sobreviver e viver muitos anos com suas limitações, graças ao avanço da medicina e tecnologias. Contudo, muitas destas pessoas precisam de auxílio e apoio durante suas vidas. Você já parou para pensar no que acontece com aqueles que possuem laços fragilizados ou rompidos com seus familiares? As residências inclusivas prestam atendimento a crianças, jovens e adultos com deficiência em situação de dependência.

Pessoas com deficiência são aquelas que têm impedimentos de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdades de condições com as demais pessoas. Dados sobre pessoa com deficiência – IBGE 2010 – BRASIL, o número total de pessoas com deficiência considera apenas uma das deficiências declaradas. Segundo estudo, 67% da população com alguma deficiência não tinham instrução alguma ou tinham apenas o ensino fundamental incompleto. Entre as pessoas sem deficiências, esse porcentual é de 30%. Segundo o IBGE, os brasileiros com alguma deficiência somam 17,3 milhões de pessoas ou 8,4% da população em geral. Cerca de 3% tinham deficiência visual; 1% apresentavam deficiência auditiva (sendo que apenas a minoria dominava a Língua Brasileira de Sinais); e outros 1% tinham deficiência mental. Cerca de 3% apresentavam deficiência física dos membros inferiores e outros 2% dos membros superiores.

Devido à herança histórica de exclusão das pessoas com deficiência no Brasil e no mundo, é necessária a realização de ações afirmativas, para que estas pessoas tenham acesso ao mercado de trabalho, ao esporte e lazer e desenvolvam suas potencialidades profissionais. Estas ações são alicerçadas no princípio constitucional do valor social do trabalho e também na função social de empresas, o que a compele a adotar medidas no sentido de adaptar seu ambiente e seus procedimentos para o acolhimento da pessoa com deficiência. Desta forma, as ações afirmativas que visam a inserção de pessoas com deficiência na vida social e corporativa, devem adaptar seus mecanismos e legislação a esta prática social, de sorte que o trabalho se adapte às pessoas e não o revés. Razão pela qual os argumentos frequentemente utilizados pela classe empresarial que justificam a não contratação perdem razão de ser frente ao conceito contemporâneo.

A avaliação da capacidade laboral, então, deverá ser realizada dentro da perspectiva da eliminação de barreiras, sendo utilizados todos os artifícios de ordem tecnológica para que o trabalhador deficiente desenvolva suas potencialidades de maneira plena.

Ademais, se assevera que a entrada da pessoa com deficiência na realidade de uma empresa, seja esta pública ou privada, somente trará benefícios para a sociedade, que verá realizados princípios por esta consagrados na Constituição Federal, como o valor social do trabalho e a igualdade material. Também a própria empresa estará beneficiada por contratar pessoas familiarizadas com desafios diuturnos, com um ambiente de trabalho mais igual e humano e por estar cumprindo sua finalidade dentro do Estado democrático de direito, sua função social. O maior impacto que podemos vislumbrar é um mundo acessível em todos os sentidos.

Visando nosso futuro, quero manter a residência social, terapêutica, esportiva, cultural, artística e inclusiva PCD (Instituto ReggArte) na região de Americanópolis, com atividades artísticas e terapias ocupacionais e atendimento às famílias de alta vulnerabilidade.  Manter a oficina de terapia ocupacional com a arte de bijuterias visando também sustentabilidade, 3 vezes por semana. Conseguir patrocinador para produzir e montar o Musical “Jogue Fora o Preconceito” com letras autorais e independentes, a dança de cadeira de rodas, artistas com deficiência visual para as falas e completando o corpo de dançarinos, deficientes auditivos traduzindo em libras o espetáculo; circular com o mesmo em meados de 2023, iniciando na cidade de São Paulo e circulando pelo estado e em outras capitais brasileiras, pautando suas falas na questão da acessibilidade; difundir essa demanda emergencial de um mundo acessível, principalmente após pandemia. Atualmente, as pessoas com deficiência conseguem sobreviver e viver muitos anos com suas limitações. Atendemos 250 famílias com cestas básicas e em datas festivas com brinquedos e roupas. Assistimos 9 PCD’s com aulas gratuitas de:  artesanato bijouterias; canto- coral; dança de cadeira de rodas, além das aulas, oferecemos alimentação em todos os períodos, de acordo com o horário: café da manhã, almoço e lanche. Acreditamos na arte como modo de crescimento e autonomia para nossos alunos. O fazer artístico pode transformar vidas e abrir horizontes, principalmente nas comunidades à margem dos grandes centros. 

Saiba Mais

Conheça a casa do Instituto Reggarte, uma residência social, cultural e inclusiva PCD:

Você pode contribuir para um mundo mais inclusivo. São diversas as formas em que você pode ajudar a casa. Seja com doação de recursos ou voluntariado. Estamos de braços abertos pra receber a sua colaboração. Quem ganha com isso são as famílias e crianças atendidas por todos os nossos projetos hoje! Saiba mais aqui.

Site: https://reggarte.org/
Contato: 11 94900-9997

Imagem: Naná Roots/Facebook

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Escrito por Coletiva de Mulheres

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