A cultura hip-hop é, sem dúvida nenhuma, um marco no empoderamento da Juventude Periférica

A Batalha de Rimas que acontece na praça Lígia, antiga Feira Livre, é, para o território, um marco do empoderamento da juventude periférica.

Lastrear a Batalha no contexto da cultura periférica é fundamental para reconhecermos como os espaços culturais nos bairros populares, de população predominantemente preta e pobre, são conquistados e produzidos, quase sempre sem nenhum apoio do poder público que chega na periferia com o braço armado do Estado.

Para contextualizar essa importante manifestação, é preciso resgatar as origens da cultura hip-hop e como ela se transformou de irreverência à resistência, empoderando e garantindo voz à juventude excluída.

Do Bronx para o mundo

Desemprego, pobreza  altíssimos índices de criminalidade marcam o condado do Bronx, em Nova Iorque, na década de 1970.

Com população predominantemente negra e hispânica, o nosso correspondente a bairro/região consolidou-se como um condado que se degradou e a exclusão, mesmo dentro da maior potência econômica do mundo, jogou milhares de famílias na pobreza e na insegurança. É, portanto, nesse ambiente marginal que surge o hip-hop como manifestação cultural que abraça e é abraçada pela juventude que se encontra na cultura, forjando seus instrumentos para existir e resistir.

É um estilo de vida que emerge na década de 1970 no meio da população negra e latina que compunha, à época, a maioria da população do Bronx. A Cultura hip-hop é composta pela fusão de quatro elementos fundamentais: o MCing, o DJing, o Breaking (B-Boys e B-Girls) e o Grafite.

Na cultura hip-hop há as chamadas Batalhas ou Rinhas de MCs que, numa roda informal, competem entre si, dentro da sua linguagem artística, provocando a habilidade do oponente para responder à “provocação” e vencê-lo com rimas precisas, provocativas e envolventes.

No Brasil, o hip-hop chega a partir da década de 1980 com encontros no centro de São Paulo. O metrô São Bento é considerado o berço, tendo sido o ponto de encontro de Crews tradicionais por anos, mas viaduto do Chá, Praça do Patriarca e Praça Ramos de Azevedo foram espaços onde jovens negros e negras se encontravam para estabelecer o empoderamento ainda na década de 1970.

Neste sentido, é a partir do Centro de São Paulo que chega às periferias, encontrando terreno fértil para potencializar a resistência entre jovens criados, quase sempre, abandonados, sobretudo em oportunidades culturais. A manifestação cultural que tem no Grafite, na Dança e na Música, a qual não depende de instrumento, terreno fértil para a juventude que imediatamente percebe o potencial de resistência e empoderamento que o hip-hop oferece a quem  não tem acesso a espaços formais, tendo em vista que na periferia o poder público, via de regra, chega com a polícia, tendo como principal alvo, corpos negros.

Nesse contexto, a partir de 2016, a Batalha de MCs chega também na Cidade Ademar, acontecendo na praça Lígia Maria Salgado, antiga Feira Livre. Inspirada na Batalha da Conceição, torna-se a principal “Rinha”  aqui do território.

Com o passar do tempo, consolidou seu próprio método: com três rounds de bate-volta e, também, batalhas temáticas e beatbox.

A Batalha da Feira Livre foi ganhando muita visibilidade até que, em 2017, conseguiu uma vaga para fazer parte da seletiva do duelo nacional de MCs. Também revelou muitos talentos e artistas do território despertando, inclusive, o interesse de crianças para a cultura hip-hop.

A Batalha da Feira Livre ocorre às quintas-feiras e, por conta da pandemia, passou por longa pausa, retomando agora, quinzenalmente.

Participam, em média, entre espectadores e rimistas, de 40 a 70 pessoas.

Imagem: Batalha da Feira Livre (Facebook)

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