Implantação do projeto Residencial Espanha, Minha Casa Minha Vida. A construção das novas moradias não foi acompanhada pela implantação dos equipamentos de serviços de atendimento.

Recuperação dos mananciais e habitação

Neste mês de maio, em que se comemora o dia de lutas da classe trabalhadora, a população do Jardim Apurá/Pilão, distrito do bairro Pedreira, zona sul de São Paulo,  nos últimos anos vem passando por várias mudanças, na ocupação e uso dos espaços, com o aumento da população, principalmente com a implantação do projeto residencial Espanha, Minha Casa Minha Vida. Este projeto teve início das obras em 2015, na então administração do prefeito Fernando Haddad, em uma área conhecida como Parque dos Búfalos. Neste projeto houve uma polêmica entre os que defendiam a construção de moradias populares e os que brigavam pela preservação ambiental. Após algumas ações jurídicas, prevaleceu a construção das obras, onde, segundo os informes, foram construídos 3.860 apartamentos.

A construção das novas moradias e consequentemente a vinda de mais gente para a região não foi acompanhada pela implantação dos equipamentos de serviços de atendimento dos quais a população necessita e tem direito. No projeto, entre outros equipamentos, consta a construção de unidades de ensino infantil; ensino fundamental; centro de referência em assistência social; equipamentos de educação ambiental e esportivos.

Uma outra mudança do uso do solo está sendo a implantação do projeto de recuperação das áreas de mananciais, no entorno da represa Billings e ruas adjacentes, atualmente localizadas na Comunidade do Pilão, onde está sendo feito o sistema de canalização e tratamento do esgoto e drenagem das águas  fluviais. Este local fica na invisibilidade para a grande maioria dos moradores do bairro, pois está no oposto do bairro nas encostas da represa.

Muitas famílias destas áreas foram removidas para o novo conjunto habitacional, mas outras permaneceram no local em meio aos escombros das casas que foram e estão sendo demolidas, em condições precárias, onde há falta de  iluminação pública e segurança. Com a netinha nos braços e aflição estampada no rosto, a dona Maria de Jesus, avó de duas netas, vai falando das dificuldades que a filha vem enfrentando para ter o direito de um espaço definitivo para morar, na medida em que não conseguiu a documentação e comprovação de renda exigida pelo projeto do Minha Casa Minha Vida. 

Ressalta que outras famílias estão passando pelos mesmos problemas à espera de uma solução pela Prefeitura.   

 “Já faz um ano e sete meses que estamos nesta situação, esperando uma solução por parte das autoridades.”

O bairro do Jardim Apurá como área de manancial, como tantas outras, não deveria ter sido loteada. Ao invés de preservação ambiental, prevaleceu o interesse da especulação imobiliária com a complacência das autoridades. Isso acrescido pela falta de políticas públicas de habitação massiva para a população trabalhadora.  

A concentração populacional nestas regiões, em grande parte, foi para abrigar as operárias e operários como força de trabalho para as indústrias que se instalaram nas regiões do ABC e Santo Amaro, a partir dos anos 50.  Posteriormente, foi feito o alargamento do corredor Estrada da Alvarenga, como meio de ligação entre estes dois polos industriais. Embora o primeiro loteamento do Jd. Apurá/Bandeirantes  (Pilão) tenha-se dado no início da década de 70, época em que o setor industrial ainda estava bastante ativo. Mas, a partir dos Anos 80, com o processo de desindustrialização e mudanças das empresas para outros municípios, foi   gerando um grande contingente de pessoas desempregadas e sem moradia nestas regiões, de forma que, o que acontece atualmente no bairro, com as ocupações urbanas irregulares no entorno da represa Billings, estão ligados a estes fatores e a falta de planos habitacionais que contemplem a maioria da classe trabalhadora (só recentemente feito de forma parcial), os baixos salários, desemprego e exclusão social das pessoas dos bairros valorizados. E isso veio a se agravar com a pandemia da covid-19 e a falta de vacina e de renda para as famílias, devido às políticas desastrosas dos desgovernos federal, estadual e municipal.

As melhorias que houve nesta região, como pavimentação de ruas, água, luz, transporte, colégio, unidade de saúde, creche, o conjunto de moradias populares, foram resultado de um longo período e esforço de lutas coletivas das pessoas, de dentro e fora do bairro, que se organizaram e lutaram para conseguirem essas conquistas.

Memória de pessoas que lutaram para as conquistas no bairro: 

Maria de Lourdes; Seu Santos; Dona Judite; Lourdes França; Vó Maria e outras.

Referências: Grupo Parque dos Búfalos; Entrevistas com moradora/ morador; Eduardo F. de Paula. Universidade S. Paulo – a desindustrialização.

Imagem: Acervo pessoal

Compartilhe:

Escrito por Juarez José

Deixe um comentário