A resistência na luta por moradia das famílias da Ocupação da Rua Rubens Luccats. Por Professor João Batista

O Expresso Periférico, através da articulação dos professores e comunidade escolar da EMEF Professor Antônio de Sampaio Doria, traz para nossas páginas a história da luta por moradia das famílias que compõem a ocupação da Rua Rubens Lucatts, 240. Entrevistamos Rosemeire Rodrigues de Souza, uma das lideranças da Ocupação e Conselheira de Escola da referida EMEF.

E.P.: Como tudo começou?

Rosemeire: Em meados de 2015, moradores da região do Jardim Miriam, alguns com dificuldades em pagar aluguel, outros Já morando na rua, perceberam a existência de um terreno abandonado. Abandonado por mais de 20 anos. Assim, reuniram -se e resolveram limpar o terreno para iniciar o movimento.  O terreno era utilizado como cemitério de animais, depósito de lixo, vivia cheio de ratos. Havia um campo de futebol na parte superior que não foi ocupado em acordo com outros moradores do entorno.

No primeiro dia, começaram a capinar o terreno já pela manhã e ao voltarem do almoço, havia mais famílias reivindicando o espaço.  Foram integrados ao grupo e logo iniciaram o trabalho de demarcação e construção.

As mudanças ocorreram aos poucos, somente após a instalação de água e luz no primeiro barraco é que as outras famílias sentiram-se seguras e o terreno foi ocupado por inteiro.

E.P.: Como vocês se organizam?

Rosemeire: Desde o início, os moradores reúnem-se e votam as ações a serem tomadas, assim como elegemos nossas lideranças. Buiu, como é conhecido Ednaldo Cardoso da Silva,, Motorista de ônibus, foi eleito como liderança já na primeira reunião e segue encabeçando o movimento com a minha ajuda e de mais alguns moradores. No começo fomos ajudados por um advogado que estava se candidatando para política , quando em 2017 recebemos a primeira intimação do processo de reintegração.  Ele ofereceu ajuda em troca dos votos e após ter entrado com pedido de usucapião e perdido, perdeu a eleição também e não apareceu mais. Em seguida recebemos auxílio e apoio da FLM (Frente de Luta por Moradia), que segue nos auxiliando até agora, apesar de não sermos ligados diretamente ao movimento.

E.P.: Quais as principais dificuldades enfrentadas pelos moradores?

Rosemeire: Toda a dificuldade está ligada à reintegração. Tudo que os moradores tem, está investido nas moradias e a angústia que nos persegue trás uma grande pressão em nosso emocional.  Nos alternamos entre a esperança e a decepção, a toda decisão judicial. A última e definitiva decisão é de reintegração, porém, com o período de pandemia, o processo está parado. Faz três meses que não recebemos nada. A angústia é muito grande, pois, caso haja reintegração, muitos de nós sairemos daqui para a rua.

E.P.: Quais são as maiores dificuldades diante da pandemia?

Rosemeire: Muitos perderam o emprego, o empobrecimento é grande e há muito sofrimento por cconta da fome. A articulação com escolas e outros grupos é o que tem trazido alguma ajuda com a entrega de cestas básicas.

E.P.: Que mensagem você gostaria de passar aos nossos leitores?

Rosemeire: Apesar da angústia, temos esperança de ainda seguirmos com nossas moradias. A única certeza que temos é que seguiremos lutando. Peço a solidariedade de todos para com a  causa. E gostaria de que essa entrevista seja em homenagem ao BAHIA, morador da Ocupação que faleceu faz pouco tempo.

Imagem: Cícero Abílio da Silva

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Escrito por Expresso Periférico

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