O trabalho enobrece o homem? Sempre ouvimos, desde criança, a frase acima e achamos que fosse verdadeira. Por Paulo e Alex.

O trabalho enobrece o homem?

O que você acha disso?

Sempre ouvimos, desde criança, a frase acima e achamos que fosse verdadeira. Nunca questionamos a sua veracidade. Então, vamos aos fatos. Sabemos que, no antigo Egito, na época dos faraós, não havia máquinas: guindastes, tratores, escavadeiras, como temos hoje. As pirâmides do Egito eram construídas de “tijolos”, enormes blocos de pedras em forma de paralelepípedos que no mínimo pesavam 2500 kg e o topo das pirâmides tinha em média, uma altura de aproximadamente 140 metros. 

Como esses enormes blocos de pedras eram carregados até lá em cima? Se você pensou que foi uma máquina, acertou. Essas máquinas não eram feitas de ferro, nem movidas por um motor à diesel, nem por eletricidade, essas máquinas eram tocadas por uma grande quantidade de seres humanos: eram as “MÁQUINAS HUMANAS”. Não é preciso ir muito longe no tempo. Quando os portugueses invadiram o Brasil, os trabalhos pesados eram feitos pelos indígenas, no começo, e posteriormente pelos povos africanos que eram escravizados. Esses tipos de trabalhos eram dignos, enobreciam os trabalhadores? Esse era o início do Capitalismo. 

Na Inglaterra, no início da Revolução Industrial, a jornada de trabalho era de aproximadamente 16 horas diárias, 7 dias por semana. A jornada começava às 5, 6 horas da manhã e se estendiam até 22 a 23 horas da noite. As crianças também eram submetidas a esse tipo de jornada. 

Com o advento das máquinas, os capitalistas achavam que poderiam fazer como bem entendessem com as coisas que lhes pertenciam.  Não distinguiam entre suas “mãos” e as máquinas. Não era bem assim: – como as máquinas representavam um investimento, e os homens não, preocupavam-se mais com o bem-estar das primeiras. 

Pagavam os menores salários possíveis. Exigiam o máximo de força de trabalho pelo mínimo necessário para pagá-las. Como mulheres e crianças podiam cuidar das máquinas e receber menos que os homens, deram-lhes trabalho. A princípio, os donos de fábricas compravam as crianças pobres, nos orfanatos; mais tarde, como os salários do pai operário e da mãe operária não eram suficientes para manter a família, também as crianças que tinham casa foram obrigadas a trabalhar nas fábricas e minas. Os horrores do industrialismo se revelam melhor pelos registros do trabalho infantil naquela época (transcritos do livro “A História da Riqueza do Homem”  do Leo Huberman). Perante uma comissão do Parlamento em 1816, um antigo capataz de aprendizes numa fábrica de tecidos de algodão prestou o seguinte depoimento sobre as crianças obrigadas ao trabalho fabril: 

“Eram todas aprendizes órfãos.”  Os que vinham de Londres tinham entre 7 e 11 anos e os que vinham de Liverpool tinham de 8 a 15 anos. Trabalhavam como aprendizes até 21 anos, em jornadas de trabalho de 5 da manhã até 22 da noite. Quinze horas diárias era um período normal de trabalho. Quando as fábricas paravam para reparos ou falta de algodão, tinham as crianças, posteriormente, de trabalhar mais para recuperar o tempo parado. Havia acidentes nas máquinas com as crianças, muito frequentemente. 

Será que os trabalhadores se submeteram pacificamente a estas situações? 

Nas sociedades escravagistas, como no Egito, Roma, Grécia, os trabalhadores reagiram contra esse sistema de opressão, como SPARTAKUS, que liderou uma rebelião na Roma Antiga.

Aqui no Brasil também houve muitas lutas de libertação dos povos escravizados que foram sequestrados da África e trazidos para trabalhar em minas e lavouras. O Quilombo do Palmares foi um exemplo da luta e organização destes povos.

Na Europa também as lutas dos operários fabris conquistaram várias leis trabalhistas como a redução de horário na jornada de trabalho, férias remuneradas, através de mobilizações e greves (Comuna de Paris).

Diferentemente da Europa, em que os movimentos operários já tinham conquistado várias melhorias, nos Estados Unidos, onde o movimento operário chegou tarde, no dia primeiro de maio de 1886, numa fábrica aconteceu uma greve para diminuir as jornadas de trabalho.  A polícia interveio, atirou contra os grevistas matando vários trabalhadores, para acabar com a greve, que se alastrou pela cidade de Chicago, envolvendo milhares de operários. Prenderam os líderes, que foram condenados à morte pela “JUSTIÇA”, que julgou contra os grevistas a favor dos donos das fábricas.

As notícias destes acontecimentos correram as fábricas e os operários do mundo inteiro pararam as máquinas, cruzando os braços em solidariedade contra as mortes destes líderes operários de Chicago. Durante muito tempo, no dia primeiro de maio, os trabalhadores cruzavam os braços, paravam as máquinas, discutiam dentro das fábricas, em homenagem e memória aos companheiros que foram enforcados, na ocasião das greves em Chicago, em 1886, e passaram a considerar esse dia como o “DIA DO TRABALHADOR”. 

Os patrões, para evitar o dia de paralisação, para descaracterizar como dia de luta, resolveram decretar o dia Primeiro de Maio como “Dia do Trabalho” ou “festa do Trabalho”, um feriado como outro qualquer.

Para a classe trabalhadora do mundo inteiro, o Dia Primeiro de Maio é o dia para lembrar todas as lutas, as vitórias, resultado do esforço coletivo de muitas e muitos. É tempo também de lembrar  as mortes, a exploração e a indignidade à qual as trabalhadoras, trabalhadores são submetidos.   

Voltando à pergunta inicial:

O trabalho enobrece o homem?

Imagem: “O Quarto Estado“, de Giuseppe Pellizza da Volpedo (1901).

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Escrito por Expresso Periférico

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