Poesia escrita por Ione Nadú.
Mais uma noite sem dormir.
Insônia? Quem sabe!
Corpo exausto, olhos cansados
Nos ombros o peso da pandemia
Mas a cabeça não desliga
O coração não desacelera
Falta calma na alma.
Tempos sombrio e de dor
A dor do outro, a minha, a nossa
E se não está doendo em você
Aproveite agora
Para suas prioridades rever.
Ninguém larga a mão de ninguém
Não! Pera! Sem aproximação
Está proibido o abraço
Aquele aperto de mão
Só nos sobrou a afeição.
Então eu seguirei
Fazendo pelos meus
Do jeito que eu aprendi
Dividindo o que tenho aqui
Pra somar ao que você tem aí.
Ainda há quem duvide
Mas estão morrendo de fome
De Covid, de descaso
Por assassinos fardados
Que nem perguntam o nome.
E tem vítima em isolamento
Na mesma casa que o agressor
Manas, idosos, pessoas com deficiência
Sofrendo tudo dobrado
E o vizinho continua calado.
A mulher preta, na base da pirâmide
É sempre a que mais sofre
Além do machismo tem que ouvir
“Apanha porque gosta!” NÃO!
Ela apanha porque é a mais pobre.
Queremos justiça social
Mas por agora serve caridade
Só não trate como animal
O próximo que passa necessidade
E anseia por uma atitude racional.
Vai fazer doação?
Manda na cesta um recado
Doe junto bons sentimentos
Estamos todos carentes
Não é só o físico que precisa de alimento.
Enquanto o povo é humilhado
Têm salários cortados
Se vê desempregado
E pela fome e as contas
Continua sendo esmagado.
O governo debocha
Finge que ajuda
Superfatura respirador
Militariza o Estado
E ri da sua, da minha, da nossa dor.
Sonho com o fim desse pesadelo
Voltar a sair, abraçar, lutar, dormir
Pro morro deixar de ser verbo
E pra gente recomeçar
Mesmo que seja do zero.
Ninguém sairá disso igual
Os que não estiverem acordados
Progredindo, crescendo
Não nos enganarão mais
Terão sido desmascarados.
É gente de bem praticando o mal
Ódio, preconceitos, rancor
Tanta discriminação racial
Diariamente balas perdidas
Encontra um alvo e é letal.
Joãos, Marias, Josés
Geralmente em comunidades
Criança, jovem, adulto
O vírus e a polícia não escolhem idade
Mas são sempre os pretos de luto.
De luto e em luta
Existimos e resistimos
Não é opção jogar a toalha
Tenham certeza absoluta
Venceremos mais essa batalha.
Imagens: Bruno O.
Gravação em áudio: Ana Paula