Por Evinha e Professor Betinho

Cultura? O que é cultura popular?

Nossa região (Jardim Miriam, Vila Missionária, Vila Joaniza, Vila Clara, Americanópolis, Pedreira, Jabaquara, Diadema) vem se destacando pela riqueza de um vasto conteúdo de expressões artísticas que nascem espontaneamente na sua população. Essas manifestações estão fortemente referenciadas na realidade de cada um  que produz sua arte através da música, poesia, dança, pintura, grafite, teatro e outras linguagens artísticas.

O que nos diferencia é que criamos e oferecemos arte para consumo do nosso território. É aqui que mostramos todas as possibilidades de sermos e estarmos num mundo negado para a periferia. Assim, sobem em nosso palco, em harmonia e vibração, o rap, o rock, o forró, a MPB, a poesia, o cordel, a dança, o cinema, o teatro e toda a potência da literatura preta, pobre e periférica, com todos os sons e tons, numa grande mostra a céu aberto para sacudir as estruturas que segregam as forças de criação da periferia e marcar presença no cenário das artes.

Para dar voz a todas essas expressões, vários movimentos se organizam em torno de Saraus, Batalhas, Rodas de capoeira, Rodas de conversa, Festas e Encontros.

Provocados por este apelo de reunir e dar visibilidade a esses  talentos, um grupo de professores,  agitadores culturais e outros fazedores e militantes das artes promovem há 5 anos o Encontro Literário #CaiuNaRedeÉCultura, que aproxima da nossa comunidade todas as manifestações culturais da quebrada.

Além da abordagem de temas diversos, este ano, em razão da pandemia da Covid-19 e da ausência de políticas públicas para controle  do avanço da doença, o Encontro, em quase sua totalidade, foi realizado online, reunindo uma ciranda de conversas sobre violências praticadas contra nosso povo, em especial, às mulheres e aos jovens, destacando o papel do cinema/áudio visual registrando um  cotidiano que é duro, mas também solidário e cheio de amor com o entorno. A periferia não conhece outra forma de viver que não seja essa, a compartilhada, somada e coletiva. Aqui, a política de favores se dá nos quintais, repartindo o pão, cuidando de todos os filhos e emprestando o ombro sempre que for necessário. Isso é cultura, é cultural. 

As produções da juventude, dos alunos e alunas das escolas do território, ganham destaque em cada edição do evento e são fortemente realçadas nas apresentações do Encontro. Alguns deles e delas, inclusive, já estão alçando voos para além da sala de aula e fazendo suas intervenções solo com muita propriedade e sensibilidade artística.

Para nossa coluna de hoje, trazemos um poeta jovem, adolescendo nos braços da poesia, e desde já fazendo da caneta e do papel o caminho do seu rio de emoções. Vencedor do III SLAM Interescolar NOSSA VOZ, organizado por professores da DRE Santo Amaro e realizado de forma virtual em 2020 devido à pandemia, com as duas edições anteriores realizadas presencialmente no CEU Alvarenga.  A terceira edição aconteceu virtualmente no dia 24/11. Assim como diversos outros e outras estudantes da região, Matheus Jesus Penna traz em sua poesia o desabafo e a potência que desejamos num jovem pobre, preto, periférico que entende seu lugar de fala e clama por justiça social.

Hoje, pessoas morrem,

sofrem com a dor do adeus.

Algumas ocorrem ao poder de Deus.

Muitos morrem sem razão.

A família, triste, aguarda o perdão.

Tristeza acaba com o coração

E pra sempre deixam o adeus aos seus irmãos.

População busca justiça

no meio dessa desumanidade.

Enquanto outros riem,

alguns morrem com poucos anos de idade.

Estamos morrendo, mas nem por isso enfraquecendo.

Resistência crescendo,

apoio rendendo,

mas nunca esquecendo daqueles que estão morrendo.

Medo, medo, medo…

Medo de sair na rua e encontrar o bicho papão

trajado com farda e fuzil na mão.

Medo de sair na rua com meu violão.

Confudirem com um fuzil e me atirarem no chão.

Medo de sair pra correr,

se eles me confundem

posso até morrer.

Eles têm medo do boi da cara preta,

mas o meu trabalha nas ruas, atirando apenas em pessoas pretas.

Esses são os medos que tenho no dia-a-dia.

Com a esperança de sair e voltar da rua com vida.

Matheus Jesus Penna Ribeiro (Aluno do 8° C da EMEF Dep. João Sussumu Hirata, vencedor do III SLAM Interescolar Nossa Voz, DRE Santo Amaro)

Matheus Jesus Penna Ribeiro – foto por Carlos- ATE do Sussumu

Estamos comemorando e muito entusiasmados  com a chegada deste espaço  no Jornal Expresso Periférico. Juntos, descobriremos os talentos artísticos  da nossa  região. Aqui, vamos  conversar sobre poesia, cinema, teatro, slam, batalhas, grafite,  música e  as diversas  expressões e manifestações de todas, todos e todes que acreditam  na arte transformando vidas.

Esse espaço é aberto! Queremos te ouvir e te ver aqui. Mande sua manifestação artística e a faremos chegar aos nossos leitores.

Boa leitura!

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Escrito por Expresso Periférico

5 thoughts on “Cultura? O que é cultura popular?”
  1. Poesia é revolução, construção e pertencimento.
    Recentemente participei do 3o. Slam Nossa Voz 2020, evento Interescolar, organizado por professores e pela DRE Santo Amaro. Na batalha da poesia os alunos, todos de escolas públicas, proporcionaram um espetáculo de conhecimento, através de seus textos, e consciência coletiva. Essa geração chega posicionada e tem muita certeza do mundo que querem construir e se for através da arte, não lhes faltaram professores ousados, que são vanguarda na escola pública e lutam por educação como agente social de transformação. Viva a educação pública

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