Poemas escritos por Gabriel Messias
cal
a gente dá nome às ondas
ninguém nomeia calmaria
quando a revolta passa
normalizando o dia
a preguiça chega
e privilegia quem está no barquinho.
não existe onda racista
racismo é oceano
temperatura ambiente
sustenta os iates
quando corre perigo
cria tumulto
molha todo mundo
erguendo as vítimas lá no topo para devorar em alguns segundos
com calmaria…
até balança os barcos, mas devora suas vítimas com um sorriso doce
com calmaria…
cal
maria
branca
normal
cristã
confortável
preguiçosa
automática
patriarca
se você não sente
que está remando
assim cansado
contra a corrente
ou está num barquinho
ou não sabe que está doente.
tá tudo
fã que é fã
no afã que
tem pra cantar funk
desabafam o quê?
desabafam o quê?
tá, tá tá… tudo
tá, tá
no aboio do vaqueiro
tá, tá tá… tudo
tá, tá
no samba de roda
fã que é fã
no afã que
tem pra tocar funk psicografam o quê? psicografam o quê?
tá, tá tá… tudo
tá, tá
no adarrum do terreiro
tá, tá
tá…
tudo
tá, tá
no jongo do atabaque
fã que é fã
no afã que
tem pra dançar funk
telegrafam o quê?
telegrafam o quê?
tá, tá tá… tudo
tá, tá
tá no passo do frevo
tá, tá
tá…
tudo
tá, tá
na memória do corpo
fã que é fã de grana
no afã que tem por grana
engarrafam o quê?
engarrafam o quê?
Fã que é dono de indústria
No afã que tem por grana
Mimeografam o quê?
Mimeografam o quê?
tá, tá tá… tudo
tá, tá
tá…
tudo
tá, tá tá… tudo
tudo!
Imagens: Bruno O.
Gravação em áudio: José Wilson de Souza