Sobre as atividades culturais e feiras de profissões nas escolas públicas, quem decide é a comunidade. Por Pedro Paulo

É comum as escolas organizarem iniciativas como a que ocorreu no último dia 13/11 (sábado) na EE Lauro Pereira Travassos, na Vila Missionária.

Os professores, ao me enviarem a programação, reclamaram da falta de autonomia e transparência dos organizadores. As duas principais atrações eram a Tábata e o Projota. Ao questionar um dos membros da equipe gestora da escola sobre essas atrações principais, a resposta foi direta: “Tanto a  deputada Tábata Amaral quanto o rapper Projota foram indicações do Rossieli/Seduc/DE, veio de cima”. Justificativas semelhantes foram oferecidas aos professores que também questionaram o método e as indicações.

A deputada Tábata Amaral iniciou seus estudos na região, foi uma jovem escolhida pela Fundação Lemann para estudar fora do país em uma das universidades mais famosas do mundo, a Harvard. Na última eleição, em 2018, foi uma das parlamentares jovens mais bem sucedidas no pleito eleitoral, eleita  deputada federal por SP. Infelizmente, seu papel de parlamentar, nessa conjuntura, tem contribuído justamente com aqueles que elegeram os servidores públicos que estão na ponta e cuidam dos serviços essenciais, como a saúde e a educação, como inimigos. Assim, um conjunto de ataques aos nossos direitos, como a PEC 32 tem retirado nossos direitos que foram conquistados duramente ao longo de muitas décadas.

O rapper Projota vem da “quebrada” e dialoga com nossos jovens através da sua música. Virou “estrela” da Globo, é um dos protegidos do último reality show, o tal do “BBB”. Talvez aqui compreendemos melhor porque órgãos hierárquicos, desrespeitando a autonomia da comunidade escolar, intervém com esse viés “seletista” em iniciativas como essas. 

Ressalto que a questão central não é a realização da atividade cultural, muito pelo contrário, somos defensores e protagonistas de iniciativas que vão para além da sala de aula e que possam convergir com a educação integral dos nossos jovens periféricos e com sua aprendizagem. Professores como Mauro Castro, Betinho, Ana Lúcia, entre outros, todos dessa região Pedreira/ Jabaquara/Jd. Miriam, são protagonistas nas suas próprias escolas e onde atuam, de iniciativas como estas. O recorte que se faz aqui é sobre o intervencionismo político e cultural da política educacional oficial da SEDUC com anuência da Diretoria de Ensino. As gestões das unidades escolares têm a obrigação de exercer sua autonomia escolar, prevista inclusive nos documentos oficiais, e não legitimar  intervencionismo político cultural. Uma gestão não pode se submeter a esse método autoritário e aceitar “indicações”, mas fazer valer a essência da gestão democrática, onde os principais protagonistas são os professores, os alunos  e a comunidade escolar como um todo. São estes que discutem e decidem democraticamente sobre quem participa ou não de atividades como essas.

Que venham mais feiras de profissões, saraus literários com músicas, poesias, entre outras iniciativas culturais, mas sem ingerências e imposições hierárquicas. Que a comunidade escolar seja de fato o principal protagonista dessas iniciativas.

Imagem: Bruno O.

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Escrito por Expresso Periférico

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