Caiu na rede é cultura! Por Eliana Alves

Pra quem tá chegando agora, pra quem a curiosidade é tamanha,  pra quem nos acompanha há 6 anos. Bem-vindas e Bem-vindos ao 6º Encontro Literário #caiunaredeécultura, que começa hoje 25 de setembro e vai até 10 de outubro. É muita ousadia… Este ano em versão virtual e com algumas atividades presenciais, seguindo os protocolos sanitários contra a covid-19. São 593.698 mortos pela covid-19. Nossos sentimentos  e nossa indignação.

Vale uma pincelada de memória pra mostrar que hoje estamos aqui  porque  muitas pessoas contribuíram para  que este caminho fosse possível na soma e na  partilha. 

Tudo começou em 2015, de forma voluntária e por iniciativa de ativistas culturais, professoras/es, educadoras/es, estudantes, escritoras/es, artistas, poetas, pesquisadoras/es, entidades culturais e sociais,  que atuam na região de Cidade Ademar, Pedreira e Jabaquara, que concluíram que o território que habitamos  (que soma 634.778 habitantes) é rico em produção artística, literatura, etc., mas, ao mesmo tempo, é carente de espaços e equipamentos públicos de cultura pra desenvolver a potência  criativa que existe aqui. 

Foi aí que nasceu o Encontro Literário, com o propósito de promover a cultura,  incentivar a escrita, a produção cultural e as diversas manifestações e expressões artísticas, além de valorizar a escrita autoral, aquelas escritas que ficam geralmente abandonadas nas gavetas de muita gente, inclusive na minha. É preciso dar visibilidade a esta escrita e proporcionar às pessoas, de todas as idades, o contato  com as diversas formas de escrita e valorizar escritoras/es locais. Esta é a essência do Encontro Literário.

No primeiro Encontro Literário, que homenageava o Prof. José Rezende, tivemos a presença de 80 pessoas, num evento de um único dia. De lá pra cá, o público e as demandas  só foram aumentando, as pessoas se envolvendo mais e mais e o trem ficou louco, hoje são 16 dias de Encontro Literário…

O voluntariado é nossa marca. Seguem também as parcerias  com JAMAC – Jardim Miriam Arte Clube, Centro Popular Frei Tito de Direitos Humanos, Cavalo Marinho, Coletiva de Mulheres, DRESA, Deixa Ela Tocar!, Rádio Cantareira, Jornal O Bairro, Sarau Poesia de Porão, Sarau do Vinil, Expresso Periférico, Rádio Poste. 

Com a pandemia, o pandemônio estabelecido e o desemprego aumentando, alguns artistas ficaram em situação de muita vulnerabilidade, a cultura foi a primeira atividade que parou e, desde o ano passado, contamos também com a parceria da Secretaria Municipal de Cultura e da Casa de Cultura Itinerante de Cidade Ademar. 

Cada Encontro Literário homenageia uma pessoa de  destaque por sua atuação no território. Este ano, o 6º Encontro Literário #caiunaredeécultura homenageia Thiago Marcelino,  do Pagode Na Disciplina, vítima da covid-19. O coletivo Pagode Na Disciplina nasceu por iniciativa de Thiago Marcelino, nosso homenageado, e Fabrício Costa, músicos  e moradores do Jardim Miriam. A cada último domingo do mês, o  coletivo se reúne pra fazer roda de samba na  rua e junta centenas de pessoas que apreciam esta nossa tradição, que é o samba. É na rua porque, como sabemos, não existem equipamentos públicos de cultura na região. A rua é o verdadeiro espaço público de manifestação e de resistência e a periferia se reinventa, dando vazão à sua potência ocupando este espaço, a rua  que é  (ou deveria ser…) direito de todas as pessoas. 

O coletivo Pagode Na Disciplina atua de forma pontual na prestação de serviço público para e com a comunidade, serviço público esse que, em teoria, é obrigação do  poder público, não pagamos impostos? E aí entra a pergunta que não quer calar: quem tem direito à cidade de fato? Mas isso é outra história… A periferia em coletivos estabelece a sua própria sociabilidade e a sua forma de expressão e de luta, até pra se defender e se opor  a todas as violências sofridas e ao abandono sistêmico a que é submetida. Em nome do 6º Encontro Literário #caiunaredeécultura quero externar nossos sentimentos à Luana Vieira, companheira de Thiago Marcelino. Te abraçamos, Luana!  Ressaltar a importância  do papel da mulher nos coletivos e em especial no Pagode Na Disciplina, que tem em Luana Vieira e Ligia Jeronymo Costa a força, a determinação e a liderança feminina pra seguir o caminho. Que vocês, Luana e Lígia, junto de Fabrício, continuem sendo a resistência e a alma do Pagode Na Disciplina, com a força e a luz   eternizadas por  Thiago Marcelino.  Thiago Marcelino, Presente!  

Convido vocês  a assistirem aqui, no 6º Encontro Literário, a exibição do documentário “Na Disciplina: Samba e Cidadania”, contemplado pelo VAI, através do Coletivo Mascate Clube, gravado no Jardim Miriam e que registra este espaço de resistência, força e luz. Amanhã, 26/09/2021, às 15 horas, na página do Encontro Literário no facebook.  Imperdível! Continuando…

Não poderíamos deixar de homenagear também nosso querido Camarada Cloves de Castro, operário metalúrgico que nos deixou em novembro de 2020 por complicações no pós-operatório. Ainda muito jovem, por influência de seu avô, envolveu-se com o debate político e em 1955 se filiou ao Partido Comunista Brasileiro (PCB). Nesta fase, aprofundou seus estudos sobre o marxismo e desenvolveu um intenso convívio social com a esquerda através das inúmeras atividades desenvolvidas na sede do Partido, que envolviam a participação das famílias e a arregimentação de novos membros. Em 1967, com o racha interno do PCB, Cloves adere à Ação Libertadora Nacional (ALN) enquanto trabalhava como funcionário público, vivendo em condição de semi clandestinidade, até sua prisão em dezembro de 1969, período de chumbo da ditadura militar. Neste processo, passou pelo DOI-Codi/SP, Deops/SP, Presídio Tiradentes e Carandiru, somando mais de dois anos de prisão na ditadura militar. Após a soltura, passou a trabalhar como metalúrgico e retomou sua militância, incluindo-a ao movimento operário. Tornou-se representante da Oposição Sindical Metalúrgica de SP e do Comitê Brasileiro de Anistia, promovendo esforços para levar a discussão para a classe trabalhadora. Na década de 1980, colaborou com a fundação do Partido dos Trabalhadores (PT). Além de possuir um enorme coração. Comandante Cloves de Castro, Presente!

Prestaremos homenagens às  Mulheres Mais Velhas que atuam nos coletivos, por sua importância, experiência, força,  determinação e seu legado. Convido vocês a participarem no  dia 01/10/21, às 19h30, do Batuque na Cozinha na página Encontro Literário no Facebook. Será maravilhoso!

A programação do encontro apresenta diversas linguagens: música, saraus, debates, filmes, etc… até 10 de outubro e você  a encontra na página do Facebook e Instagram

 Lembrando:

“Nenhum povo é dono de seu destino se antes não for dono de sua cultura”. José Martí.

Que comecem os trabalhos!!!

Evoé!!!

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Escrito por Expresso Periférico

One thought on “Abertura do 6º Encontro Literário”

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