Poemas de Jorge Marques

DEGRAUS

Quantos degraus tem a escada
na qual jamais subirei?
A tarefa é árdua.
A subida é íngreme,
não vale a pena o esforço.
É mais fácil descer
a rampa da hostilidade.
A vida é um vilarejo repleto
de aleivosas ladeiras, onde
esqueceu-se de construir escadas.
O sol não alcança o topo do morro,
não ilumina as janelas
da pousada do alvanel.
Seus raios regozijam ao invadir
a luxuosa cobertura.
Porém, o andaime é frágil,
o corpo ágil pode cair.

Qual o preço da vida?
Ninguém consegue comprar
uma barra de ouro no supermercado.
Jamais vi um diamante
exposto na feira livre.
O príncipe fugiu da favela,
levando a coroa pejada de rubis.
Na praia de Copacabana, foi assaltado
enquanto tomava água de coco.

Arrastões não dão lucro.
Blefes valorizam ações
na bolsa de valores.
Os prédios não têm chaminés,
mas exalam fumaça.
Quero sair do carro
para enfrentar o trânsito.
O sinal está fechado,
impossível andar.

Não tem água para beber,
mas chove torrencialmente.
Os heróis virarão vilões,
os vilões continuarão à solta!
O Sol é gigantesco; sua energia é poderosa,
mas todos preferem a vida fossilizada.

Corram, protejam-se!
Querem roubar sua casa,
pois, nas entranhas do subsolo,
existe sal, donde brotam mais
conflitos besuntados com ouro negro.

As ideias travaram,
o pensamento emudeceu,
as palavras, agora, são banais,
pois querem jogar a Democracia no lixo,
resgatando fuzis ensanguentados.

Não querendo ser chato,
constato que o mundo é um “pé no saco“!

VIDA, DOR, ENCANTO

Nas paragens livres
Sopram com meu canto
Pelos campos livres
Correm em puro encanto
Nas vielas livres
Sofrem com meu canto
Nas cidades livres
Correm pelos cantos
Vão cantando livres
Todos seus lamentos
Pelas praias livres
Secam os seus prantos
Flores caem livres
Pétalas de encanto
Folhas choram livres
Galhos tremulando
Vão cantando livres
Pássaros solando
Nas paragens livres
Todo seu encanto
Lágrimas tão tristes
Mas só por enquanto
Pois a vida é longa
E de puro encanto
Quando as gentes sofrem
Sofrem pelos cantos
Quando abrem os olhos
Tudo é puro encanto
Quando o vento sopra
Sopra por encanto
Quando a pele queima
É o Sol cantando
Vou correndo livre
Como as folhas soltas
Vou correndo sempre
Pétalas cantando
O caminho é longo
Mas a vida encanta
Vou soprando livre
Junto com meu canto.

Imagem: Bruno O.

Leitura: Gabriel Messias

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Escrito por Expresso Periférico

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